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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Para onde vai América Latina?

Para onde vai a América Latina em meados da terceira década do século?, questiona o colunista Emir Sader

Javier Milei. Foto: Reuters / Agustin Marcarian

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O continente viveu várias décadas com momentos alternados de expansão e recessão, ao ponto de nos perguntarmos agora em que direção os nossos países estão caminhando.

Vivemos uma década essencialmente neoliberal no final do século XX, seguida por uma década e meia basicamente antineoliberal. Quando parecia que o novo século seria um período pós-neoliberal, regressamos às economias neoliberais em alguns países, enquanto outros consolidaram economias antineoliberais.

Para onde vai a América Latina em meados da terceira década do século?

Existem economias consolidadas com políticas antineoliberais, como Brasil, México, Colômbia e Honduras. Com líderes políticos consagrados, como Lula, López Obrador, Gustavo Petro e Xiomara Castro, projetados como alguns dos maiores líderes políticos do mundo no século XXI.

O continente coexiste com governos fortes e economias em expansão, como o Brasil e o México, ao lado de governos do polo oposto, como a Argentina, o Equador e o Uruguai.

A que se devem essas diferenças? Qual é a tendência predominante no futuro da América Latina?

Fundamentalmente, o continente está no meio das lutas entre o neoliberalismo e o antineoliberalismo. Países como o Brasil e o México tomaram a direção antineoliberal. Por esta razão, alcançaram crescimento econômico, aumento dos níveis de emprego, estabilidade política e prestígio internacional. 

Enquanto a Argentina, o Equador, entre outros, vivem uma recessão econômica, um aumento do desemprego, um descrédito político e sua imagem no mundo. 

O primeiro é um grupo de governos antineoliberais, o outro, governos neoliberais. Qual é a tendência predominante atualmente?

Fora do Brasil seria uma, fora da Argentina seria o contrário. As duas tendências estão presentes, uma em oposição à outra.

Tanto Lula quanto Milei vão governar seus países nos próximos anos. Possivelmente, Lula terá mais perspectivas de reeleição.

Não se pode dizer que para onde vai o Brasil ou para onde vai a Argentina, vai a América Latina. Mas muito disso é verdade. É claro que as consequências desastrosas do programa governamental de Milei não o tornam atraente. E, à medida que o Brasil melhora, o país é visto como uma alternativa.

Ao longo das últimas décadas, a América Latina teve a última década do século passado como uma década quase totalmente dominada pelo neoliberalismo. Como consequência, a primeira década do século foi praticamente toda antineoliberal. Desde a terceira década do século XXI, o continente tem experimentado diversas oscilações, em direção ao neoliberalismo e ao antineoliberalismo.

O futuro da América Latina depende, acima de tudo, de os governos antineoliberais conseguirem superar a estrutura econômica dominada pelo capital especulativo. Não é apenas uma mudança de governo e de programa governamental, mas uma mudança na estrutura econômica do país, que exige vários governos antineoliberais consecutivos.

Retomar políticas desenvolvimentistas, com investimentos produtivos, geração de empregos, cercamento econômico, redução das desigualdades.

Tudo isto só será alcançado se conseguirmos promover a desmercantilização que o neoliberalismo implementou em toda a sociedade. Esse é o seu maior objetivo.

Desmercantilizar é afirmar direitos, promover cidadania, consolidar a esfera pública. Contra a esfera comercial, onde o protagonista fundamental é o empresário.

Esfera pública versus esfera comercial é o confronto fundamental na era neoliberal. A esfera estatal está no meio, é um campo de disputa entre interesses públicos e interesses comerciais.

A definição entre esses campos determinará o futuro da América Latina.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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