Pequeno desabafo suprapartidário
As classes intelectualizadas e politizadas (?) desse país aparentemente surtaram. Pelo menos digitalmente. Tudo porque se sentem pessoalmente ofendidos com o voto divergente do seu
As classes intelectualizadas e politizadas (?) desse país aparentemente surtaram. Pelo menos digitalmente.
Não tenho presenciado brigas físicas nem bate-bocas literais.
Mas um surto coletivo nas redes. Onde há wi-fi, 3G ou 4G há porradaria verbal (digitada e não falada).
Os políticos encenam antagonismos e os adoráveis trouxas (sim, muitos são queridos pra mim) compram as dramatizações e brigam, muitas vezes sem argumentações (na linha "feio-bobo-chato", sapatão, cheirador, coxinha, e por aí vai), criando uma animosidade completamente desnecessária. Fica algo irracional e tão fanático quanto qualquer religião.
Nesse exato momento que escrevo, muitos estão patrulhando outros tantos, muitos desfazendo amizades em facebook e até bloqueando amigos virtuais bacanas. Tudo porque se sentem pessoalmente ofendidos com o voto divergente do seu.
Tem gente entrando na timeline do outro pra tomar satisfações sobre posição política e voto e tem os que querem simplesmente xingar quem se encontra no outro lado desta eleição.
Não se trata de ficar no muro. Sempre fui dessas de tomar posição e defender minhas ideias ferozmente.
Trata-se de repeitar quem pensa diferente e conseguir manter o respeito apesar da posição político-partidária. Sei que é difícil, mas façamos um esforço.
Afinal, maniqueísmo não é cool. Nem tudo é azul mas também não é tão negro assim. Aceitemos os tons de cinza.
Sempre fui pelas pessoas, pelas personalidades e seus feitos, especialmente quando se trata de política no Brasil. Basta ver a ridícula dança das cadeiras ideológico-partidária para entender a cena teatral onde a composição "daquilo que me beneficia mais" é a prioridade no posicionamento na cena eleitoral.
Mas sei que quando as eleições acabam, dependemos de um trabalho coletivo, de equipe e de boas relações entre os 3 Poderes. Trabalho difícil esse de tentar analisar sem o calor do momento. Desisto. Tenho a sensação de que qualquer que seja a minha análise, ela não é a mais sabida, a mais douta, a mais coerente e entendida. Fico com meus valores e com algumas (poucas) certezas.
1) Eu quero ter orgulho do meu país dentro e fora dele. Quero falar dele como uma nação que erradicou doenças da pobreza, que tirou crianças das ruas, que alfabetiza, dá escola e respeita o idoso.
2) Não quero sair às ruas do meu bairro e tropeçar em gente de rua e achar que isso é natural.
3) Não quero sair pra fazer compras a cada semana e gastar um valor mais alto para ter os mesmos produtos.
4) Quero pagar impostos com a consciência de que pago valores justos e para boas causas.
5) Não, não gosto de saber que há trapaça, roubo e corrupção. E me refiro a todas as instâncias do âmbito público e privado. A cultura da lisura e da honestidade podia ser lei implacável do Palácio do Planalto às nossas casas e escritórios, passando pelas ruas e órgãos públicos.
6) Quero que minha diarista possa marcar um exame como ultrassonografia no mesmo prazo que eu.
7) Quero pontos de partida iguais pra todos (obrigada, Voltaire). Os pontos de chegada vão depender do esforço pessoal e perfil de cada um.
8) Quero liberdade de expressão e democracia (mesmo tendo algumas vezes que empurrá-la goela abaixo), mas quero sobretudo respeito e tolerância.
9) Quero possibilidades de remunerações justas pra todos e incentivos a quem quer criar, empreender, crescer.
10) Fico feliz em saber que muitos dos menos favorecidos podem se aproximar mais da cidadania.Quero agora mais Educação.
Sobretudo, o que quero, é ser cada dia mais lúcida para discernir o que é preconceito. Quero poder ser livre para escolher meu lado e até assumir se a minha escolha teve critérios individualistas ou coletivistas. Ambos são respeitáveis.
Quero ser respeitada nas minhas dúvidas e incertezas. E quero poder ser menos amarga e ver em cada gestão, em cada era, o bom legado que foi deixado ao meu país. Quero poder ser fã do FHC e do LULA. Posso?
Quero acima de tudo ter espaço na sociedade para as minhas ações, realizações e sonhos, entre eles o de ver a garotada, sulista ou nordestina, de barriga cheia, em escola de qualidade, acessando cultura e tendo lazer, do Oiapoque ao Chuí.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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