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    Paulo Moreira Leite

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    Pereio, ator na consciência de seu tempo

    Com toda certeza, Paulo César Pereio teria mais a dizer a respeito. Mas preferiu manter-se em silêncio até o fim.

    Paulo César Pereio (Foto: Reprodução (Globo News))

    A morte de Paulo César Pereio desfalca nossa cultura de um ator raro e fundamental. Auxiliado por um distanciamento crítico de quem não abandonou as convicções da juventude pelo conforto milionário oferecido pela indústria cultural de nosso tempo, Pereio trabalhava os personagens a partir de um permanente posto de observação sobre o Brasil e seus habitantes.  

    Num comportamento irredutível, que traduzia a herança do dramaturgo alemão Bertold Brecht, uma das grandes influencias culturais de sua formação, seu universo dramático era triplo. Representava o personagem,  ajudava a contar uma história e, ao mesmo tempo, mantinha uma postura distanciada e crítica, que funcionava como um termômetro permanente para a reflexão sobre a vida real, sempre apoiada num talento gigantesco, que lhe permitia cultivar um espírito crítico e engraçado ao mesmo tempo.

    "Eu me formei a mim mesmo, me construí", disse Pereio numa entrevista a Claudio Leal (Folha de S. Paulo, 28/10/2023).

    Recusando a função conveniente de ídolo cultural, que distribui milhares de autógrafos enquanto assina milionários contratos de publicidade, comportamento que marcou talentos de várias gerações, Pereio esforçava-se em mostrar a vida como ela é, em vez de explicar como deveria ter sido.

    Apresentava-se no mundo fictício de uma novela, do palco do teatro e tela do cinema com  interpretações dramáticas, entonações de voz e movimentos que sempre se encontravam com a realidade social do país. Entre 1963 e 2023, participou de 90 filmes, 13 peças de teatro, 26 produções para a TV.

    Em 2019, em depoimento ao documentário "Tá Rindo de que?", sobre o humorismo nos anos da ditadura militar, Pereio fez um comentário enigmático e provocador, que nunca seria esclarecido:

    "A obra de arte que não corrompe não me interessa. Eu acho que a primeira função da arte é a corrupção. "

    " Tem que corromper. Eu sou um corrupto ativo, não sou passivo. Corromper os outros é o que eu mais quero na vida. E digo isso como artista, e representante da arte mais saudável. A melhor [arte] que existe é a que corrompe".

    Com toda certeza, Paulo César Pereio teria mais a dizer a respeito. Mas preferiu manter-se em silêncio até o fim.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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