Pesa sobre Mauro Cid a ameaça da condenação e a missão de lavar a imagem das FAs
"Não está fácil a vida de Mauro Cid", escreve Denise Assis
Não foram só as pesquisas de opinião, as afetadas pela manifestação de 25 de fevereiro, organizada pela igreja de Malafaia, para Bolsonaro, na Av. Paulista. Os gritos de apoio ao som de cânticos fizeram eco na tornozeleira eletrônica de Mauro Cid, que depõe, novamente, nesta segunda (11/03), na Polícia Federal. Neste final de semana Cid fez “vazar” para a Revista Veja, desconfianças em torno de informações da sua delação premiada, que ele diz ver com “contrariedade” e chamou de “interpretação”.
Outro ponto que calou fundo para o tente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, foi a sinalização da cúpula do Exército de que, apesar de ter direito por antiguidade na carreira militar, ele não será promovido a coronel.
A promoção estava prevista para ocorrer na transição de março para abril, com base no tempo de serviço, conforme antecipei no 247: (Enquanto Justiça não anda, Mauro Cid entra no topo da lista de promoções do EB - Denise Assis - Brasil 247). No entanto, a decisão já foi tomada: Cid não avançará de patente. A cúpula militar avalia que essa promoção geraria muito desgaste, especialmente considerando que Cid está sob investigação em várias apurações da Polícia Federal, incluindo a tentativa de golpe de Estado. O cenário ideal, segundo a cúpula, é que Cid seja denunciado pela procuradoria-Geral da República nas próximas semanas, o que automaticamente impediria sua promoção.
O recado chegou. Cid tratou de rapidamente se reposicionar como “não traidor”, e embaralhar o jogo, no melhor estilo da cartilha militar, quando se trata de “contrainformação”. Logo se apressou em declarar: “Não sou traidor, nunca disse que o presidente tramou um golpe. O que havia eram propostas sobre o que fazer caso se comprovasse a fraude eleitoral, o que não se comprovou e nada foi feito”.
Agora a minuta do golpe não é mais sobre golpe, o seu depoimento foi “encaixado” em “narrativas”, e o que se combinou foi apenas tentar provar que as urnas não eram confiáveis. Em não conseguindo esse resultado, Bolsonaro fechou-se em “luto profundo”. Nem o almirante Almir Garnier disse o que disse. Marcos Freire Gomes, então nem pensar!
Acontece que ao se defrontar com o que já foi colhido no seu celular e no seu laptop (a reunião de julho já não foi mais gravada por ele, apesar de nós todos o termos visto circulando pela sala do Planalto), corre o risco de cair em contradições e ter a delação anulada. Na versão de Cid, ele mal foi questionado sobre o papel dos militares, “porque sabiam que eu não ia contar o que eles queriam ouvir”.
Tudo empilhadinho do jeito que interessa às forças confluentes dos últimos dias. Repassando: Os militares não “comemoram” a “redentora de 1964”, o governo delega aos movimentos sociais a lembrança da trágica data e não aparece como um promotor oficial dos atos sobre o golpe, e Mauro Cid joga areia nos olhos da PF, não permitindo que a lista de oficiais enredados no 8 de janeiro cresça.
Assim, sem ninguém “remoer” nada, nem de um lado nem de outro, vira-se a página da história e, quem sabe, Mauro Cid consegue salvar o seu nome para numa próxima leva de promoções virar coronel? (E, talvez um dia, no cargo de general, volte a sonhar com aqueles planos naufragados?!!).
Sua missão agora está em fazer estancar as manchetes em torno de nomes tais como: Marcos Freire Gomes, Carlos Baptista Júnior, Paulo Sérgio de Oliveira, Mauro Cid pai e, de quebra, obscurecer qualquer dúvida em torno do nome do “líder” Eduardo Villas Boas, sua mulher, D. Cida, a filha, Tici Villas Boas. E, claro, não permitir que ninguém se lembre das frases entusiasmadas da sua mulher, Gabriela Cid, captadas do seu celular, incentivando uma amiga de nome Thaisinha: “Amiga, convoca pelo amor de Deus as pessoas p BsB” e reforçando: “venham!!!!” e ainda: “Temos q mudar o Brasil e as Forças Armadas estão do nosso lado”.
Há pontos a serem esclarecidos no depoimento que se inicia: Um deles, é se a minuta do golpe citada pelo general Marcos Freire Gomes em seu depoimento – que continua sob sigilo – é a mesma encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, e outras coisas mais.
Não está fácil a vida de Mauro Cid. De um lado, pesa-lhe sobre os ombros a responsabilidade de passar a limpo a imagem das Forças Armadas, enlameada por seus superiores. Do outro, salvar a própria pele, não deixando que a condenação próxima a seu calcanhar ultrapasse dois anos. Caso isto aconteça, ele pode ser chamado a responder no Conselho de Justificação e ser banido das FAs. Já há, a esta altura, muitas unhas no sabugo, no Alto Comando.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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