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    Cláudio da Costa Oliveira

    Economista aposentado da Petrobras

    160 artigos

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    Petrobras: o dia em que a esperança morreu

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    Ontem (27/07) a Petrobrás anunciou a venda da Gaspetro para a Compass Gás e Energia S.A. 

    Como a Compass pertence à Cosan, significa que quem realmete está comprando é a Royal Dutch Shell, que , ao que tudo indica, logo estará ocupando todos os espaços que um dia foram da Petroleo Brasileiro S.A. – Petrobrás, em território nacional. 

    Os caminhoneiros autônomos foram um dos principais apoios recebidos por Jair Bolsonaro para sua eleição. Bolsonaro sabia disto e ,durante a campanha, prometeu atender suas principais reivindicações.  

    Disse também que a política de preços da Petrobrás, Preço de Paridade de Importação- PPI, era um absurdo e seria modificada. Assumiu o poder e nada fez. 

    Nomeou Ministro da Infraestrura o Sr. Tarcisio Freitas, que se transformou em garoto propaganda da empresa de logística Rumo (Shell) e já afirmou que o caminhoneiro precisa deixar as “tetas” do governo. 

    Apesar de tudo, a troca no comando da Petrobrás, com a saída de Castello Branco e a nomeação do Gal. Joaquim Silva e Luna, trouxe de volta a esperança dos caminhoneiros que acreditaram que as coisas começariam a mudar.

    Pata o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas – CNTRC, entidade que congrega sindicatos, associações e cooperativas de caminhoneiros de mais de 20 unidades da federação, esta esperança cresceu muito quando Silva e Luna os convidou para uma reunião. 

    A reunião aconteceu na sede da estatal no Rio de Janeiro, no último dia 29 de junho. 

    Na ocasião Silva e Luna solicitou aos caminhoneiros que encaminhassem suas perguntas por escrito, para sua avaliação. 

    Assim foi feito, o CNTRC encaminhou 10 perguntas ao presidente da companhia e ontem (27/07) recebeu as respostas que transcrevo a seguir : 

    file:///C:/Users/ARQUIVOS/Downloads/Carta%20Presidencia%200033.2021%20assinada%20pelo%20Chefe%20de%20Gabinete%20em%2027.07.21%20(3).pdf

    Pelo teor das respostas fica claro que a administração da companhia atribui à empresa características muito distantes daquelas que motivaram sua criação, que registramos nas palavras do Gal. Horta Barbosa, no Clube Militar, em 1947 : 

    “Pesquisa, lavra e refinação (de petróleo), constituem as partes de um todo, cuja posse assegura poder econômico e poder político. Petróleo é bem de uso coletivo, criador de riqueza. Não é admissível conferir a terceiros o exercício de uma atividade que se confunde com a própria soberania nacional. Só o Estado tem qualidades para explora-lo, em nome e nos interesses dos mais altos ideais de um Povo” 

    Ou nas palavras do ex-presidente Getúlio Vargas, na carta testamento deixada antes de seu suicídio em 1954 : 

    “Quis criar a liberdade nacional na potencialização de nossas riquezas com a Petrobrás. Mal a empresa é criada a agitação se avoluma” 

    Nós já sabemos que o brasileiro tem memória curta. A carta testamento de Getúlio, que deveria estar exposta em todas escolas brasileiras e ser tema de redação do Enem todos os anos, já foi esquecida há muito.

    Mas o povo tem de defender, como qualquer animal, com sua sobrevivência ameaçada.  

    Hoje a Petrobrás, como mostrado nas respostas, baseia suas ações objetivando “Ser a melhor empresa de energia na geração de valor para o acionista” e “Priorizar ativos de E&P de classe mundial, que tem à sua disposição”

    Parece que a administração esquece que as reservas de petróleo pertencem ao Estado brasileiro . Ou seja, ao povo. 

    A Petrobrás detem uma concessão que a qualquer momento pode ser suspensa ou modificada em suas condições, caso seja do interesse da nação. 

    A participação da nação brasileira na renda petroleira sempre foi muito inferior à maioria das nações. O gráfico à seguir mostra isto  

    grafico

    Vejam que no período analisado pelo gráfico (2009/2014), como empresa a Petrobrás levava vantagem sobre as outras petroleiras por contribuir pouco para a nação. 

    Este fato se reflete na capacidade de geração de caixa da companhia, que comparada com sua receita,  se mostra bem superior a outras empresas como vemos a seguir:

    tabela

     Notem que apenas a Chevron, em alguns momentos, gerou proporcionalmente mais caixa que a Petrobrás. 

    Ocorre que a grande vantagem que a Petrobrás tem em relação as demais empresas do ramo  é a pouca contribuição governamental feita pela empresa no Brasil em relação às demais congêneres em seus países. 

    Com a entrada em operação dos poços do pré-sal a vantagem da Petrobrás se ampliou. 

    Primeiro porque na cessão onerosa foi concedida isenção do pagamento de Participação Especial (fato injustificável) o que fez com que a participação governamental na produção da companhia que em2011 era de US$ 20/barril caísse para US$ 10/barril em 2020. 

    Por outro lado, a produtividade dos poços do pré-sal, que à época da concessão eram estimados em 10/15 mil barris/dia, hoje alcançam 40/50 mil barris/dia, fazendo com que o custo de extração que em 2011 era de US$ 12/barril caísse para US$ 5/barril em 2020. 

    Isoladamente o custo de extração no pré-sal já está em US$ 2,5/barril. 

    Significa que quanto mais for aumentado a participação do pré-sal na produção total, menor será o custo de extração da empresa. 

    Estas vantagens fizeram que a relação geração de caixa/receita bruta da Petrobrás em 2020 tenha atingido níveis nunca imaginados, como vemos a seguir:

    tabela

    Percebam a distancia dos números da Petrobrás em relação às demais petroleiras. 

    Dos números de 2016 para cá, fora a Petrobrás, somente a Shell conseguiu forte melhoria, muito provavelmente devido sua participação no mercado brasileiro. 

    Estas distorções tem de ser corrigidas. Os ganhos da Petrobrás por renuncia fiscal ou super produtividade dos ativos, não pertencem à empresa, mas ao povo brasileiro. 

    A empresa pode defender os direitos de seus acionistas, mas cabe ao governo federal defender os direitos do povo. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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