Por que as pesquisas não erraram
"As pesquisas acertaram e o que está acontecendo é que a sociedade demonstra não entender para que elas servem", diz Eduardo Guimarães
É no mínimo um suicídio cívico a gritaria que se alevanta contra as pesquisas eleitorais. E um erro cabal de avaliação. As pesquisas acertaram. Não numericamente, mas acertaram e o que está acontecendo é que a sociedade demonstra não entender para que elas servem.
Em primeiro lugar, a pesquisa Datafolha previu que Lula teria 50% dos votos válidos e ele teve 48%, dentro da margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Mas, então, qual é o problema?
O problema está, obviamente, na votação de Bolsonaro, bem maior que a prevista.
É óbvio que o atual presidente foi beneficiado pelos votos que estavam voando por aí e que era impossível prever com quem ficariam. Refiro-me ao voto envergonhado, ao voto dos indecisos e ao voto útil contra Ciro Gomes e Simone Tebet.
Ciro e Tebet perderam muito mais votos do que se esperava e perderam para Bolsonaro devido à retórica antipetista que entoaram -- Tebet em menor intensidade. E está claro que quem hesitou em declarar voto, dando o tal "voto envergonhado", foram os eleitores bolsonaristas que sabem quanto lhes queimaria o filme declarar voto no inominável.
Assim sendo, os institutos de pesquisa acertaram aquilo que se propõem a acertar, a tendência de Lula vencer o primeiro turno. E foi uma vitória incontestável e considerada boa em eleições em que não há expectativas tão grandiloquentes quanto havia em relação a Lula.
A eleição brasileira lembra muito a americana, em 2020. Com apenas mais 43.000 votos em três Estados, Trump poderia ter ganhado. Biden se elegeu presidente dos Estados Unidos amparado por uma vantagem sólida de sete milhões de votos populares, ou seja, votos de cada cidadão. Ele obteve 81,2 milhões (representando uma maioria de 51,3%), em comparação com 74,2 milhões de Trump (46,8%).
Até o perfil dos candidatos é parecido com o da eleição americana: um social-democrata versus um extremista de direita.
Ademais, Lula ganhou em 3.378 cidades e Bolsonaro em 2.192. E, em comparação com 2018, PT avança em TODOS os estados e Bolsonaro cresce só em 12. Além disso, Simone Tebet e Ciro Gomes já sinalizaram possibilidade de entendimento com Lula. Com destaque para o partido de Ciro, que deve fechar com o petista.
Tudo somado, Lula venceu um candidato que tinha apoio ameaçador dos militares, apoio do mercado financeiro (Faria Lima), do agronegócio, dos mais ricos e influentes e de uma massa impressionante de zumbis evangélicos. E gastou 5% do PIB para comprar eleitores.
Lula chega ao segundo turno como favorito. Teve 25,6 milhões de votos a mais que Haddad em 2018; Bolsonaro ganhou 1,7 milhão de votos. O ex-presidente teve 6 milhões de votos a mais do que Bolsonaro e suas perspectivas de apoio dos votos sobrantes de Ciro e Tebet é grande.
Não há motivo para desânimo. Todos sabiam que margem de erro de pesquisas e eleitores indecisos e envergonhados não têm ideologia. Ainda assim, as pesqusas mostraram que Lula teria vantagem sobre Bolsonaro. Nesse aspecto, acertaram em cheio.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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