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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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Por que Glauber Braga é necessário... (?)

Aguerrido, capaz de defender ideias até o rompimento sem romper, ele oferece o protótipo do quadro capaz de honrar qualquer congresso

Glauber Braga. Foto: Agência Câmara

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O desenho do parlamento do Reino Unido, no século XVIII, dentro da perspectiva de uma democracia representativa, serviu de modelo para o que desenvolvemos depois, desde a instalação da República norte-americana. Ali havia a noção segundo a qual a sociedade, nas suas semelhanças e diferenças, devia se fazer presente. Por isso, não se esperava que a dita assembleia só reunisse iguais. As particularidades precisavam se declarar para que as discussões refletissem o que se estendia no restante do país, afastando-se de uma espécie de torre de marfim, superior e acima do mundo como ele é. No caso brasileiro, entre golpes e contragolpes, entendemos ser salutar o prumo do debate, ora se deslocando para a direita, ora para a esquerda, atrás do que signifique, com efeito, uma legislação favorável ao nosso bem-estar. É o bastante para que não se admita, no Congresso, apenas um peso sufocando os demais, ainda que o voto popular, para a maioria, haja escolhido a direita e não a esquerda. Essas parcelas têm de se fazer participantes. Somente assim poderemos alcançar o Brasil que verdadeiramente sonhamos. 

Em semelhante sistema, um deputado como Glauber Braga, do PSOL, se mostra, sem dúvida, necessário. Aguerrido, capaz de defender ideias até o rompimento sem romper, ele oferece o protótipo do quadro capaz de honrar qualquer congresso. Corajoso, enfrenta até a polícia, quando preciso, como se viu na UERJ, para defender estudantes. Sua retirada de cena não se justifica nem em função de um comportamento excessivo, como a expulsão da câmara do militante do MBL, ágil nas suas provocações a ponto de conseguir o que queria. Glauber não tem sangue de barata. Nada em sua trajetória o indica. Possui, ao contrário, inclinação para ultrapassar limites no enfrentamento dos nossos ideais, ainda que com isso crie animosidades. Se Arthur Lira dispusesse de um mínimo de grandeza, no cargo que exerce, reconheceria o fato, estendendo cuidados a Samia Bomfim, em vez de lhe retirar a escolta, quando lhe assassinaram o irmão. Homenagem de quem discorda, mas, mesmo assim, homenagem exatamente por que discorda e convive: aprende com as controvérsias. É exigir demais? Que seja. Aos dirigentes, aos que governam ou comandam os negócios por designação da sociedade, a eles se espera que fiquem acima das injunções, que se superem e, sobretudo, que saibam se comportar em nome da pacificação nacional.  O encontro realizado dia 19 de setembro na ABI, no Rio de Janeiro, sob a palavra de ordem Glauber fica, para quem duvidasse, provou a importância do parlamentar e da necessidade de mantê-lo em ação. A um grupo de desafetos não se deve garantir a autoridade para retirar de cena alguém que corporifique um valor mais alto. Não será a primeira vez que consultaremos o povo. Para os caciques de antigamente, afeitos a confabulações de gabinete e negócios nem sempre claros, imagina-se difícil transitar por este solo ao mesmo tempo bravio e suave para quem nele sabe caminhar. Ninguém, no entanto, permanece além do clamor público. E este, num rumor ensurdecedor, clama: Glauber fica! Basta escutar.

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