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    Ricardo Kotscho

    Ricardo Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.

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    Por que os militares têm tanto medo da libertação de Lula?

    Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia, avalia que aqui estão sendo criadas condições que "levaram multidões às ruas" na nossa vizinhança, com uma "brutal repressão dos governos, só comparável ao que aconteceu no golpe de Pinochet no Chile". "Os militares sabem disso. A próxima libertação de Lula é o fator que pode mudar o cenário também no Brasil"

    (Foto: Divulgação)

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    Por Ricardo Kotscho, para o Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia

    Eles sabem o que fizeram para levar ao poder o ex-capitão Bolsonaro, aposentado pelo Exército aos 33 anos por atos de insubordinação, e a serviço de quem foi feita a aliança multinacional no golpe de 2016.

    Por isso, o Alto-Comando do Exército ficou tão preocupado com o voto da ministra Rosa Weber, a favor da Constituição e contra a prisão após condenação em segunda instância, que abriu o caminho para a libertação do ex-presidente Lula.

    Com o título “Alto-Comando militar frustrado com a ministra Rosa Weber”, a Coluna do Estadão desta sexta-feira informa:

    “O voto de Rosa Weber caiu mal no Alto-Comando do exército, reunido esta semana em Brasília. Generais se surpreenderam com a ministra do Supremo que analisa a prisão em segunda instância”.

    Não deve ser mera coincidência que esta reunião tenha acontecido simultaneamente ao julgamento no Supremo Tribunal Federal.

    Antes mesmo do julgamento começar, o general reformado Villas Bôas, assessor do GSI, já tinha outra vez feito uma advertência ao STF, para tomar cuidado com suas decisões, diante do perigo de “convulsões sociais”.

    Aqui ainda não aconteceu nada, mas nos vizinhos Chile e Equador a rebelião popular já colocou na parede os governos neoliberais e entreguistas, e deixaram nossos militares de cabelos em pé.

    Diz a Coluna do Estadão:

    “O momento, avaliam os fardados, não poderia ser pior. Com países vizinhos em convulsão social, o temor é deixar espaços para a reorganização das esquerdas”.

    Ao chegar à China, segunda parada da sua turnê pela Ásia, o capitão presidente já mandou seu recado:

    “O problema do Chile foi gravíssimo. Aquilo não é manifestação, nem reivindicação. São atos terroristas”.

    Nem Sabastian Piñera, o presidente chileno, da mesma escola de Bolsonaro, chegou a tanto, e está correndo para anunciar programas sociais capazes de frear o levante popular.

    Em rápida entrevista aos jornalistas, Bolsonaro disse que está em contato permanente com o Ministério da Defesa para a eventualidade de ocorrerem episódios similares no Brasil.

    “As tropas têm que estar preparadas para fazer a manutenção da lei e da ordem”, declarou o presidente, com ar grave.

    Além de monitorar os protestos no Chile, Equador, Peru e Colômbia, e o julgamento sobre o destino de Lula no STF, os militares também estão preocupados com as eleições deste final de semana na Argentina e no Uruguai, onde os candidatos de esquerda são franco-favoritos.

    Caso se confirmem as pesquisas, o Brasil corre o risco de ficar só com o Paraguai como aliado no Mercosul, o que dá bem uma ideia do isolamento do Brasil no continente.

    O que não consigo entender até agora é o verdadeiro pavor que os militares têm de Lula, se no governo do ex-presidente eles mantiveram excelentes relações e tiveram atendidas todas as suas reivindicações.

    Só um fator externo relacionado ao pré-sal, que apenas ficaremos sabendo qual é daqui a 50 anos, quando forem liberados os documentos secretos do Pentágono, pode explicar o papel de guardiães dos militares no governo do ex-capitão, diante do descalabro administrativo, que coloca em risco nosso patrimônio e a própria soberania nacional.

    Aqui estão sendo criadas as mesmas condições econômico-sociais que levaram multidões às ruas nos últimos dias na nossa vizinhança, que provocaram uma brutal repressão dos governos, só comparável ao que aconteceu no golpe de Pinochet no Chile.

    Os militares sabem disso. A próxima libertação de Lula é o fator que pode mudar o cenário também no Brasil.

    Se o golpe já foi dado em 2016 e Bolsonaro acabou eleito pela Lava Jato, o que mais eles poderiam fazer agora?

    Fechar o STF, como querem os bolsonaristas mais fanáticos que infestam as redes sociais?

    É só o que falta para essa ditadura disfarçada tirar a máscara e se tornar uma ditadura escancarada, o que pode inspirar o Elio Gaspari a escrever um novo livro para a sua coletânea.

    No domingo, Lula vai comemorar 74 anos, sozinho em sua cela, sem poder receber visitas.

    Vida que segue.

    (Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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