Pré-sal 76%: A soberania desperdiçada
Os EUA não aceitam outra potência nas Américas. O Brasil tem a opção de submeter-se a isso ou retomar o caminho de soberania, riqueza e desenvolvimento
Artigo escrito com
Carlos Borges, aposentado da Caixa Econômica Federal e economista
A produção do petróleo do “Pré-sal” foi responsável por 76.47% de toda a produção nacional em Maio de 2022, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Contudo, ela é majoritária desde dezembro de 2017(quando foi responsável por 50.67% do total) e, desde Julho de 2020, a produção vem acima de 70%. Essas reservas, descobertas em 2006, mudaram a situação do Brasil no mercado mundial de hidrocarbonetos e alteraram a geopolítica global da energia. Quando anunciadas pelo presidente Lula, muitos duvidaram e outros tantos criticaram, atribuindo o anúncio à disputa política entre os neoliberais que desejavam a privatização da Petrobrás e os que, como Lula e Dilma, defenderam a necessidade de uma visão estratégica da soberania energética e da agregação de valor a uma imensa riqueza primária, que poderia alavancar um conjunto de investimentos industriais e de serviços, além de reposicionar o país e permitir investimentos em saúde e educação, a partir dessa riqueza extraordinária.
O Brasil levou 45 Anos, até 1998, para produzir em águas de superfície, um milhão de barris/dia. Em Maio deste ano, somente a produção de petróleo do “Pré-sal”, foi 2,84 milhões de barris/dia. A maior produtividade do Pré-sal aconteceu em Janeiro de 2022, com uma produção média de 2.91 milhões de barris/dia (ANP). A Petrobrás, além de descobrir as reservas, desenvolveu uma sofisticada tecnologia de exploração, que reduziu o custo de forma espetacular, viabilizando a produção e agregando ainda mais riqueza às reservas.
Isso reforça ainda mais a denúncia dos objetivos da Operação Lava-Jato, alinhada aos interesses estratégicos dos EUA, o que está cada vez mais comprovado, para a entrega de uma das maiores riquezas do Brasil: o petróleo. O Pré-sal poderia ter tornado o Brasil um dos três maiores produtores de petróleo do mundo, e, sem dúvida, o maior produtor em águas profundas, até 7 mil metros de profundidade. Ademais, era o passaporte do Brasil para estar entre as 05 maiores economias do mundo, com a geração de valor em toda a cadeia de óleo e gás. Óbvio que isso incomodou o hegemonismo dos EUA.
Dito isso, é preciso citar a ofensiva contra os fundos de pensão, destacando a obsessão para destruir a Empresa Sete Brasil/FIP Sondas, que no primeiro ano da sua existência teve uma avaliação, feita por Casas de Investimento, de 74%. Seriam 07 (Sete) sondas de perfuração profunda, que a demanda ampliou para 28 Sondas. Tentaram caracterizar esses investimentos como equivocados e irresponsáveis. Mas, além de investidores institucionais (Fundos de Pensão), bancos (BTG Pactual, Bradesco e Santander), Petrobras, FI-FGTS (que tem a composição de representação de trabalhadores, empregadores e governo), e os fundos LakesHore, Live Partners e EIG Partners avaliaram e decidiram aplicar seus ativos nessa empresa. Ou seja, um conjunto de investidores de grande porte, responsáveis e fiscalizados por autoridades do Brasil e de vários países desenvolvidos. Empresas que não costumam “rasgar dinheiro”.
Tudo isso foi destruído, com um único objetivo: a entrega da soberania nacional. A Petrobras está sendo privatizada em fatias. Distribuição, refino e outros segmentos sendo vendidos ao capital privado sem levar em conta o caráter estruturante dessa gama de atividades industriais, comerciais e de serviços e sem considerar a necessidade de geração de riquezas, empregos e arrecadação tributária. Isso somado levou a preços estratosféricos de gasolina, óleo diesel e gás de cozinha, contribuindo sobremaneira para um elevado índice inflacionário que vem incidindo em toda a cadeia produtiva, o que, com certeza, tem muita responsabilidade na alta taxa de desemprego e a volta do fantasma da fome, que já atinge 33 milhões de pessoas no Brasil.
Em que pesem as questões ambientais, por muitas décadas o petróleo será a maior fonte de energia do planeta e, para além dos combustíveis, temos toda uma miríade de produtos e insumos derivados do petróleo aplicados na indústria e na agricultura que são fundamentais para a produção nacional, para o mercado interno e para as exportações.
O petróleo do Pré-sal é uma realidade que, mesmo tendo desfigurada a estratégia desenhada há mais de dez anos nas gestões do Presidente Lula, a Presidente Dilma e o Congresso Nacional, que aprovou essa estratégia, contribui para o Brasil economicamente, bem como para sua geração de divisas. Poderá retomar seu papel estrutural se o Brasil inverter sua correlação de forças políticas, em futuro muito próximo, que se avizinha com as eleições de 2022 em Outubro. Ou não, se mantiver sua submissão neocolonial, subalterna e medíocre.
Os EUA não aceitam outra potência nas Américas. O povo brasileiro tem a opção política de submeter-se a isso, ou retomar o caminho de soberania, riqueza e desenvolvimento.
Parabéns aos técnicos e dirigentes da Petrobrás, que construíram esse caminho de sucesso do Pré-sal, destacando o Guilherme Estrela, brasileiro que liderou a descoberta dos campos de Majnoon (Iraque) e do Pré-sal (Brasil) e que representa bem a capacidade dos brasileiros na tecnologia do petróleo. E parabéns ao Lula e à Dilma, que nunca se curvaram ao imperialismo americano e pagaram um preço alto por isso.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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