Precisamos da Lei da Usura Bancária (como a "comunista" Nova York)
“Bancos e financeiras tornam os clientes seus reféns”, escreve João Paulo Pacífico
Por João Paulo Pacífico
Qual a chance de você, pessoa física, dever R$ 83 milhões?
Provavelmente, com um sorriso incrédulo, sua resposta será: “nenhuma chance”.
Mas não é tão difícil assim. Se eu te emprestar R$ 10 mil hoje, cobrando a taxa média que o Bradesco cobra no cartão de crédito rotativo que é de 350% ao ano, em 6 anos você me deverá 83 milhões de reais (sim, você leu certo).
Mas pode ser ainda pior se eu te empestar na mesma taxa da Crefisa, de 801% ao ano, os R$ 10 mil se transformam em R$ 5,3 bilhões após os 6 anos (em 10 anos a dívida chegará a R$ 35 trilhões... pode rir, de nervoso).
Mas as suposições acima têm um grave erro. Pela Lei da Usura, eu, João, pessoa física, só posso emprestar para você com juros de 12% ao ano. Então, ao final de 6 anos, ao invés de R$ 83 milhões ou R$ 5,3 bilhões, você me pagaria R$ 19 mil.
Mesmo se eu quisesse, eu não poderia te extorquir, senão iria preso.
Já os bancos e financeiras... vem comigo que esse artigo é importante e pretensioso!
A situação é gravíssima
Quanto você gasta da sua renda mensal para pagar dívidas? Sabia que 22% da população brasileira já começa o mês com mais da metade da renda comprometida?
Temos o recorde histórico de 66 milhões de pessoas com o “nome sujo”, isto é, inadimplentes. Se você não é uma delas, certamente conhece alguém nessa situação.
Ter dívidas em aberto é um problema social, que afeta a saúde (aumento de depressão, ansiedade, vergonha), além de atrapalhar no trabalho e nos relacionamentos pessoais.
Para a justiça está tudo bem...
Em recente processo, o Ministério Público do RS ajuizou uma ação pública contra a Crefisa por cobrar taxas de juros de, pasme, 801,87% ao ano.
E adivinhe? Não deu em nada. A 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) derrubou a determinação judicial para que a Crefisa limitasse os juros cobrados dos clientes à média praticada no mercado.
Isso significa que o judiciário considerou “tudo bem” esse absurdo. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o advogado Bruno Souza, do Demarest, disse: “é uma decisão antipática do ponto de vista social, mas que deve ser vista com razoabilidade”. Razoabilidade para quem??? Cobrar mais de 800% de juros ao ano é, no mínimo, imoral.
Bancos e seus reféns...
Quando o produto é “dinheiro” e o país “Brasil”, o pobre paga muito, muito mais.
O site do Banco Central apresenta as taxas médias dos bancos. Os valores são imorais e impagáveis. Não há investimento no Brasil que consiga proporcionar a rentabilidade que os bancos cobram ao emprestar para alguém.
“Mas o banco cobra essa taxa por causa da inadimplência”, alguns inocentes dirão.
Trabalho no mercado financeiro há 23 anos e posso garantir que:
- NINGUÉM consegue pagar aquelas taxas
- O banco sabe que as pessoas não irão pagar, assim ele as torna REFÉNS. Mantém clientes sob seu controle. Explorando e lucrando muito.
“Bancos e financeiras tornam os clientes seus reféns”
Na Gaia adquirimos créditos. E nossa experiência com quem concede empréstimo a juros dignos é super positiva.
O mesmo vale para os negócios. As taxas cobradas de pequenas e médias empresas é absurda. É comum o banco lucrar mais com a pequena empresa do que o empreendedor que trabalha e dedica a vida ao negócio.
Há uma quantidade enorme de pessoas e empresas que trabalham só para pagar dívidas... Isso é muito injusto.
“Cobrar essas taxas é criar uma máquina de desigualdade, ou melhor, uma máquina de maldade.”
Nova York Comunista
E como funciona fora do Brasil? Resolvi pesquisar a meca do capitalismo! Nova York (assim como os demais estados dos EUA) têm limites nos empréstimos para pessoas físicas. Olha só:
- Taxa máxima de 16% ao ano para empréstimos de até US$ 250 mil
- Taxa máxima de 25% entre US$ 250 e US$ 2,5 milhões
- Taxa livre acima de US$ 2,5 milhões
Quem cobra acima de 16% a.a. responde a um processo cível e, acima de 25% a.a., a um processo criminal.
Reparou que para valores mais baixos o limite é menor? Isso faz todo sentido.
Basta!!! Precisamos da Lei da Usura Bancária
Chegou a hora de darmos um basta nas taxas de juros dos bancos e financeiras.
No Brasil, a Constituição de 1988, em seu artigo 192, previa a proibição de juros em patamar acima de 12% dentro do sistema financeiro nacional. Porém esse artigo nunca foi regulamentado e foi revogado pela Emenda 40/2003.
Não vou entrar no mérito aqui sobre qual deve ser o teto de juros. Para isso um grupo técnico deve aprofundar nos estudos.
Precisamos ter uma lei para limitar os juros dos bancos e financeiras. Uma lei que torne crime a exploração financeira de alguém. A Lei da Usura Bancária.
Ameaça
Tenho certeza que os bancos irão dizer que se isso for aprovado irão restringir crédito. A ameaça será a única arma deles, mas precisam emprestar, faz parte do negócio deles. E, claro, o lucro imoral do crédito irá reduzir.
Esse é o momento
“Ok, João, concordo com você. Mas o que posso fazer?”, talvez você esteja pensando.
Nesse momento você tem um grande poder em suas mãos. O seu voto!
Que tal sugerir que seu candidato(a) ao Congresso se comprometa em criar/apoiar esse Projeto de Lei? Esse é um tema que pode juntar diferentes partidos... só a silenciosa (mas sempre presente) bancada dos bancos que será contra essa iniciativa.
Já conversei com o candidato Guilherme Boulos, e ele se comprometeu com esse Projeto de Lei. Viva Boulos!
Mas precisamos de mais gente! Vamos espalhar esse conceito. Bancos e financeiras não irão mudar por vontade própria. Precisamos que a Lei da Usura Bancária seja aprovada!
Termino esse artigo com uma citação do livro Utopia para Realistas: “aqueles que reivindicavam a abolição da escravidão, o voto feminino e o casamento entre pessoas do mesmo sexo também foram chamados de lunáticos um dia. Até a história provar que eles estavam certos.”
Que nós sejamos os lunáticos do nosso tempo, lutando contra a exploração bancária e a favor do bem-estar coletivo!
Com esperança,
joão
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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