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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Prefeitos pedem a vacina como quem pede esmola

    “Os prefeitos não enfrentam Bolsonaro, que comanda a enrolação da vacina sem obstáculos e resistências. Nem os governadores têm coragem para desafiar a inércia criminosa do governo”, afirma o jornalista Moisés Mendes

    (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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    Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

    Foi frouxa a defesa que os prefeitos empossados na sexta-feira fizeram da urgência da vacinação contra a Covid-19. Foi uma defesa protocolar, quase envergonhada e medrosa.

    Os prefeitos não enfrentam Bolsonaro, que comanda a enrolação da vacina sem obstáculos e resistências. Nem os governadores têm coragem para desafiar a inércia criminosa do governo.

    Nesse cenário de acomodados, em que a vacina é tratada como esmola pelos prefeitos, nada pode ser considerado improvável no comportamento de Bolsonaro em relação à imunização.

    Na sexta, enquanto os prefeitos assumiam, o líder do negacionismo foi cúmplice de um coro de banhistas bagaceiros, na praia do Guarujá, que mandavam João Doria tomar no c...

    Hoje, ele pode aparecer de novo na praia e anunciar, de dentro de uma lancha, com megafone, que não haverá vacina. Que peçam vacina para João Doria.  

    Pode dizer que desistiu de ficar enrolando. O Brasil não terá vacinação e pronto. Se somos o último país com um governante negacionista irredutível, com o controle radical e absoluto da situação, por que devemos ter a vacina?

    E se Bolsonaro anunciar que não haverá vacina, qual será a reação? Teremos juristas, cientistas, Rodrigo Maia, OAB, Gilmar Mendes e alguns governadores dizendo que não pode.

    Que o Brasil precisa da vacina, que Bolsonaro será enquadrado como genocida (a palavra mais repetida de 2020) e que o país deverá debater o aspecto legal da decisão.

    O Brasil vai se entreter, durante dias, com o debate da legalidade do aviso de Bolsonaro de que não vai comprar vacina alguma, até porque nem seringa ele comprou.

    E ficaremos nesse debate, até Bolsonaro dizer mais adiante que tudo bem, que irá comprar uma vacina, não sabe qual, mas nunca a chinesa.

    E ficaremos de novo por duas semanas esperando a compra da vacina. Até que Bolsonaro voltará a avisar que desistiu da vacinação e que as pessoas terão direito apenas à cloroquina gratuita pelo SUS.

    Quem quiser vacina, que compre. Bolsonaro poderá liberar a venda de vacinas em laboratórios e farmácias, por entender que as demandas do combate à pandemia devem ser reguladas pelo mercado.

    E o Brasil terá então uma semana de novos debates sobre a legalidade da venda de vacinas para a classe média e os ricos.

    Absurdo? O que pode ser considerado absurdo num ambiente sob o domínio de Bolsonaro?

    Se ele disser amanhã que devem fechar todas as UTIs, o Brasil irá apenas debater a decisão do sujeito. É legal fechar UTIs? O que diz a Constituição?

    Só o que o Brasil consegue é se ocupar do debate em torno do que Bolsonaro diz ou decide, por mais esdrúxula que seja a decisão.

    Bolsonaro pauta o Brasil, um país viciado na discussão de crimes contra a saúde pública tratados como se fossem controvérsias.

    Bolsonaro controla um país de líderes perdidos e acovardados, incluindo os novos e os velhos prefeitos empossados no primeiro dia do ano.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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