Prefeitos pedem a vacina como quem pede esmola
“Os prefeitos não enfrentam Bolsonaro, que comanda a enrolação da vacina sem obstáculos e resistências. Nem os governadores têm coragem para desafiar a inércia criminosa do governo”, afirma o jornalista Moisés Mendes
Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia
Foi frouxa a defesa que os prefeitos empossados na sexta-feira fizeram da urgência da vacinação contra a Covid-19. Foi uma defesa protocolar, quase envergonhada e medrosa.
Os prefeitos não enfrentam Bolsonaro, que comanda a enrolação da vacina sem obstáculos e resistências. Nem os governadores têm coragem para desafiar a inércia criminosa do governo.
Nesse cenário de acomodados, em que a vacina é tratada como esmola pelos prefeitos, nada pode ser considerado improvável no comportamento de Bolsonaro em relação à imunização.
Na sexta, enquanto os prefeitos assumiam, o líder do negacionismo foi cúmplice de um coro de banhistas bagaceiros, na praia do Guarujá, que mandavam João Doria tomar no c...
Hoje, ele pode aparecer de novo na praia e anunciar, de dentro de uma lancha, com megafone, que não haverá vacina. Que peçam vacina para João Doria.
Pode dizer que desistiu de ficar enrolando. O Brasil não terá vacinação e pronto. Se somos o último país com um governante negacionista irredutível, com o controle radical e absoluto da situação, por que devemos ter a vacina?
E se Bolsonaro anunciar que não haverá vacina, qual será a reação? Teremos juristas, cientistas, Rodrigo Maia, OAB, Gilmar Mendes e alguns governadores dizendo que não pode.
Que o Brasil precisa da vacina, que Bolsonaro será enquadrado como genocida (a palavra mais repetida de 2020) e que o país deverá debater o aspecto legal da decisão.
O Brasil vai se entreter, durante dias, com o debate da legalidade do aviso de Bolsonaro de que não vai comprar vacina alguma, até porque nem seringa ele comprou.
E ficaremos nesse debate, até Bolsonaro dizer mais adiante que tudo bem, que irá comprar uma vacina, não sabe qual, mas nunca a chinesa.
E ficaremos de novo por duas semanas esperando a compra da vacina. Até que Bolsonaro voltará a avisar que desistiu da vacinação e que as pessoas terão direito apenas à cloroquina gratuita pelo SUS.
Quem quiser vacina, que compre. Bolsonaro poderá liberar a venda de vacinas em laboratórios e farmácias, por entender que as demandas do combate à pandemia devem ser reguladas pelo mercado.
E o Brasil terá então uma semana de novos debates sobre a legalidade da venda de vacinas para a classe média e os ricos.
Absurdo? O que pode ser considerado absurdo num ambiente sob o domínio de Bolsonaro?
Se ele disser amanhã que devem fechar todas as UTIs, o Brasil irá apenas debater a decisão do sujeito. É legal fechar UTIs? O que diz a Constituição?
Só o que o Brasil consegue é se ocupar do debate em torno do que Bolsonaro diz ou decide, por mais esdrúxula que seja a decisão.
Bolsonaro pauta o Brasil, um país viciado na discussão de crimes contra a saúde pública tratados como se fossem controvérsias.
Bolsonaro controla um país de líderes perdidos e acovardados, incluindo os novos e os velhos prefeitos empossados no primeiro dia do ano.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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