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    Rachel Quintiliano

    Jornalista com experiência em gestão, relações públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está a frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.

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    Projeto de lei que busca equiparar aborto a homicídio vai na contramão dos Direitos Humanos

    "Há algum tempo, propostas que vão na contramão dos direitos humanos insistem em aparecer no Congresso e curiosamente em anos eleitorais, como este de 2024"

    Manifestantes protestam contra projeto que equipara aborto a crime de estupro (Foto: Paulo Pinto / Agênica Brasil)

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    Em menos de um minuto, a Câmara dos Deputados aprovou, na última quarta-feira (12/06), o caráter de urgência do Projeto de Lei 1904/2024 do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) que equipara aborto a homicídio. Isso significa que o projeto pode entrar no plenário para votação sem que passe por comissões.

    O projeto vem na esteira de outro projeto de lei em discussão desde 2007 (Lei 478/2007), o Estatuto do Nascituro que propõe a instituição de direito à vida desde a concepção.

    Isso demonstra que há algum tempo, propostas que vão na contramão dos direitos humanos insistem em aparecer no Congresso e curiosamente em anos eleitorais, como este de 2024.

    É importante lembrar que essas propostas buscam alterar a legislação brasileira, que hoje autoriza a realização de aborto em casos de gravidezes em decorrência de estupro, que tenha risco à vida da pessoa gestante ou em casos de fetos com anencefalia. Com a proposta do deputado Sóstenes Cavalcante, essas previsões mudariam e, em qualquer situação, seria considerada homicídio.

    O projeto vem sendo amplamente criticado pela sociedade. Na manhã do dia 14/06 a enquete da Câmara já indicava que 86% dos respondentes discordam totalmente do projeto. Mais de 123 mil comentários contra também já estavam disponíveis na página da enquete.


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    Essas propostas vão na contramão dos Direitos Humanos, porque os direitos sexuais e reprodutivos fazem parte desta agenda e o Brasil é um dos países signatários. Inclusive quando essa agenda ganhou os contornos que tem hoje, o Brasil esteve em Cairo em 1994 e contribuiu significativamente para o relatório final da Conferência das Nações Unidas sobre População e Desenvolvimento.

    O relatório e o plano de ação da conferência informam que é direito humano decidir se, quando e com quem ter filhos e filhas. O plano também insta os países membros das Nações Unidas, inclusive o Brasil, a garantir esse direito, inclusive desenvolvendo políticas públicas de planejamento da vida reprodutiva (planejamento familiar), ofertando informação e insumos para que as pessoas possam planejar ou evitar gravidezes.

    Segundo o último relatório global produzido pelo Fundo de População das Nações Unidas, divulgado neste ano, Situação da População da População Mundial, é preciso chamar a atenção para as desigualdades em saúde e no acesso e garantia dos direitos sexuais e reprodutivos.

    Pessoas que menstruam e podem gerar estão sendo deixadas para trás devido à sua identidade e/ou local de nascimento. O racismo, o sexismo, o machismo e outras formas de discriminação estão se colocando como elevados obstáculos para a garantia desse direito.

    Para além de violar os direitos humanos, o projeto de lei em discussão na Câmara, se aprovado, pode ainda ampliar a discriminação agravada e atingir de forma desigual, prioritariamente as mulheres pobres, negras, indígenas e em situação de vulnerabilidade, que historicamente enfrentam mais obstáculos no acesso às políticas públicas e também a justiça.

    Por isso, é fundamental que as mulheres, que representam a maior parcela do eleitorado brasileiro, se posicionem e cobrem seus representantes neste momento decisivo que pode levar ao retrocesso na agenda de direitos.

    Rachel Quintiliano é jornalista com experiência em gestão, relações-públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está à frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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