PSDB: os social democratas que nunca foram
Nunca chegaram a ser uma forca social democrática e terminaram como um grupo golpista, desmoralizado e dividido. Triste epílogo de quem pretendia ser uma reserva moral e propor um programa modernizador para o Brasil
Nos estertores da existência do partido como forca política, os tucanos fazem uma derradeira ginástica para tentar se diferenciar da extrema direita. Propõem programa supostamente equidistante do Lula e do Bolsonaro, acreditando que podem ocupar o caminho do meio. Nem muito à direita, nem à esquerda, no estilo que a Marina já usou e desgastou.
Acontece que o PSDB foi um engano desde o seu começo. Ala anti-quercista dentro do PMDB, cansados de perder eleições para o Quércia, resolveram sair e fundar seu próprio partido. Acreditavam que levavam as referências morais do PMDB: Franco Montoro, Mario Covas, FHC. Tentavam passar por corrente à esquerda do PMDB. Mas alguém como o senador Severo Gomes, não se deixava enganar e afirmava que a esquerda tinha ficado no PMDB.
Com democratas cristãos como Franco Montoro e coqueteadores com a social democracia europeia, como FHC, se juntaram personalidades, acreditando que sua simples união lhes dava identidade. E, apesar da presença do democrata cristão histórico, o Montoro, apelaram para a denominação de social democratas, como se fosse apenas uma grife de prestígio. E, para complementar a operação de marketing, escolheram o pobre do tucano como símbolo, como que a dar-lhe um tom local.
Tiveram um primeiro período difícil, de que a candidatura do Covas foi expressão. Achavam que seriam a grande novidade, em meio a tantas candidaturas, mas não conseguiram destacar-se, mesmo com a promessa do Covas de aplicar um "choque de capitalismo".
Aí veio o limbo entre aproximações com o PT mas, ao mesmo tempo, a entrada no governo Collor de uma primeira leva – entre os quais estavam Celso Lafer, Sergio Rouanet -, como preparação para a adesão à onda neoliberal. Covas se insurgiu e impediu o casamento, que seria fatal ainda no começo dos tucanos.
Mas aquela aproximação se daria com FHC e o Plano Real, no governo de Itamar Franco, e depois nos dois mandatos de FHC. Este teve a coragem, baseado na nova onda social democrata europeia, de Mitterrand e Felipe Gonzalez, aderindo à onda neoliberal. Os tucanos, além de não terem nenhum vínculo com o movimento sindical, uma das características dessa corrente na Europa, ainda chegavam já na fase de descaracterização da social democracia, que aderia ao neoliberalismo.
Assim, os tucanos chegaram muito tarde à social democracia, depois que o período histórico dessa corrente já havia passado. Restou um protagonismo periférico de FHC na "terceira via" de Clinton e Tony Blair, que o chamavam para demonstrar que ainda haveria vida inteligente no Sul do mundo. FHC protagonizou, pateticamente, fotos com eles, naquele agrupamento que já se juntava dentro da corrente neoliberal, como uma tentativa de superar a adesão central ao mercado.
FHC pretendia protagonizar no Brasil uma espécie de "terceira via". Mas como Collor fracassou, ele teve que assumir as tarefas duras do neoliberalismo. Não pôde se assumir de Tony Blair brasileiro. Ao contrário, teve que vestir o tailleur da Margareth Thatcher e assumir o ajuste fiscal, as privatizações e o Estado mínimo.
O governo de FHC foi assim o auge e o começo da decadência inevitável dos tucanos. Auge, porque elegeram, pela primeira vez um presidente, e decadência porque o caráter antissocial do governo levou a que nenhum outro tucano pudesse mais se eleger. Casados com o neoliberalismo, perderam qualquer vinculo com a social democracia clássica. E passaram a representar, no Brasil, a direita contemporânea, neoliberal.
Derrotados quatro vezes sucessivamente, com todos os riscos de perder de novo, diante do Lula, aderiram à aventura que, acreditavam, eliminaria magicamente o grande fantasma, que os havia descolocado definitivamente – Lula e o PT. Pelas mãos de Aécio, aderiram ao golpe e assim se condenaram definitivamente à morte como partido politico.
Nunca chegaram a ser uma forca social democrática e terminaram como um grupo golpista, desmoralizado e dividido. Triste epílogo de quem pretendia ser uma reserva moral e propor um programa modernizador para o Brasil. Terminam no limbo da história, quando seus parentes europeus seguem pelo mesmo caminho.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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