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    Ronaldo Lima Lins

    Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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    Punhalada (auriverde) na própria barriga

    Com as provas levantadas pela PF, ele e seus comparsas seguirão para a cadeia, inevitavelmente,

    Jair Bolsonaro em ato na Avenida Paulista, São Paulo-SP, 7 de setembro de 2024 (Foto: Reuters)

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    A prisão de cinco pessoas (um general) e o indiciamento de 37 outras, envolvidas num arco golpista, prometendo matar Lula, Alkimin e Alexandres de Moraes, revela o nível de ousadia de um tempo escasso de boas intensões. Essa gente, depois de perder a disputa eleitoral, não aceitou passar o governo adiante. A ambição destemida, conjugada com uma incapacidade de ler os acontecimentos (muito menos a vontade do povo) os levou ao desatino. E não se pode reduzir os fatos à uma mera liberdade do pensamento, como supôs Flávio Bolsonaro, na ânsia de desculpá-los. 

    Com efeito, a mente humana constitui um lugar de liberdade absoluta, do qual nem a Igreja, hoje, logra se apropriar. Não estamos na Idade Média quando, aí sim, se acreditava que imaginar o Demônio implicava em sua posse, em seguida, na condenação à fogueira. A modernidade deixou para trás semelhantes convicções, exigindo provas para as conspirações, como agora, com a Polícia Federal expondo militares de alta patente à execração pública. Também é certo que, em nossa história, inauguramos, de repente, o assassínio como instrumento de maquinação política. Falava-se em terrorismo - algures. Entre nós, cordiais como nos julgávamos, não se admitia essas manifestações de crueldade. São teorias que começam a sair de moda, depois do governo de Jair Bolsonaro, talvez, em nosso elenco de dirigentes, o mais despreparado e tosco nos nossos quadros administrativos a exercer funções.  Já se sabia, porque experimentáramos excessos parecidos com os episódios de 64, como a introdução de tropas em nossas discussões causava danos incontornáveis. E não é que a vontade de poder em Bolsonaro, associada à angústia de perdedores, se esforçou para colocá-los em prática?... Para começar trocando de vice, uma vez que no primeiro mandato se arriscara com Humberto Mourão. Convocou o Braga Neto, supondo de este se mostrava mais general do que o anterior. Integra agora a lista dos 37 indiciados em estado de preparação para a cadeia. A lei é clara no que diz respeito a infratores que ameaçam a ordem pública e atacam o sistema democrático vigente.  O falso escudo da dor, pedindo ao coração de Lula que se comova em seu favor, numa anistia, dará lugar, com certeza, ao misto de desespero dos covardes diante da possibilidade de enfrentar a justiça. Ele não passava de um renegado, poupado com o título de capitão por seus antigos colegas, diante das atitudes para torpedear o sistema. Disciplinado nunca se revelou. Na administração do Palácio do Planalto, nos botou em risco com suas campanhas negacionistas contra a Covid-19 e as vacinas desenvolvidas para combatê-la. Se não tratou bem o público, pior ainda se relacionou com a imprensa, sobretudo com as mulheres, em cada uma de suas entrevistas. Para falar a verdade, com as provas levantadas pela PF, ele e seus comparsas seguirão para a cadeia, inevitavelmente, numa lição de cidadania a festejar e guardar na memória. O mundo progressista aplaudirá. E o fascismo, reerguendo-se das trevas aqui ou lá fora, poderá pôr as barbas de molho. Nós brasileiros desejamos privilegiar a dignidade e o bom senso.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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