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    Milton Blay

    Formado em Direito e Jornalismo, já passou por veículos como Jovem Pan, Jornal da Tarde, revista Visão, Folha de S.Paulo, rádios Capital, Excelsior (futura CBN), Eldorado, Bandeirantes e TV Democracia, além da Radio France Internationale

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    Putin quer tudo, mas não sabe o que quer

    "Putin quer portanto desnazificar os outros para ficar só com seus nazistas", escrevem Milton Blay e o coletivo Judias e Judeus Sionistas de Esquerda

    Vladimir Putin (Foto: Reuters)

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    Por Milton Blay

    Como já escrevi ontem, anteontem e trás-anteontem, está cada dia mais difícil, senão impossível, saber o que quer realmente Vladimir Putin. Se é que ele sabe o que quer, o que nós, como muita gente, duvidamos. O czar parece descontrolado.

    Ontem, numa mensagem vinda do kremlin, aventava-se a possibilidade de Moscou não mais reconhecer a Ucrânia como um Estado. O que a transformaria, quase que automaticamente, numa província russa. Seria portanto a anexação pura e simples do país, ou seja, a mudança unilateral do mapa europeu, portanto do mundo. 

    Hoje, as forças armadas russas anunciaram um cessar-fogo temporário e a abertura de corredores humanitários a partir de quatro cidades: Kiev, Kharkov, Sumy e Mariupol. O exército russo, através do canal oficial Russia Today, informou que a medida foi tomada levando em consideração "a situação humanitária catastrófica e sua forte deterioração" nas cidades mencionadas, a pedido pessoal do presidente francês Emmanuel Macron em conversa por telefone com o presidente russo Vladimir Putin.

    Apresentada desta maneira a abertura dos corredores humanitários parece ser uma medida de bom senso, para salvar a população civil. Mas como tem sido sempre desde os preparativos da invasão, a versão russa é mentirosa, é mera propaganda. 

    Efetivamente, Moscou parece disposto a abrir os corredores, "a ser realizado sob controle, inclusive de drones". Acontece que esses corredores, enquadrados por forças russas, saem dessas quatro cidades e levam para a Rússia e para a Belarus, em outras palavras os civis que deixarem a Ucrânia estarão nas mãos dos inimigos ao passar a fronteira. Isso explicaria a hesitação dos civis ucranianos em sair dos bunkers em que se encontram há mais de uma semana em situação deplorável, sem eletricidade, sem aquecimento em temperaturas negativas, dependendo das ongs  para beber e se alimentar.  Kiev respondeu que se trata de uma « opção inaceitável » , " imoral ". 

    É totalmente absurdo!

    O governo russo já notificou a abertura de corredores humanitários na Ucrânia à ONU, à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha. E ao fazê-lo mentiu uma vez mais. O Kremlin alegou que a abertura dos corredores humanitários atendeu a um pedido do presidente francês Emmanuel Macron, pedido este desmentido pelo Elysée.  Em nome da Europa, Macron pediu o fim da ofensiva russa e o respeito do Direito Internacional Humanitário. « Isso não é sério. É de um cinismo moral e político que me parece insuportável. O gesto russo é um discurso hipócrita que consiste em dizer vamos proteger as pessoas e levá-las à Rússia. Pessoas estão morrendo, estão exaustas (oficialmente, 406 civis, inclusive crianças, já morreram). E não conseguimos obter um cessar-fogo »; lamentou Macron. 

    Mais de 1,5 milhão de pessoas já fugiram da Ucrânia, segundo dados divulgados pelo Acnur, a agência da ONU para refugiados. 

    Putin afirmou também que está disposto a abrir negociações amplas com a Ucrânia e acabar com a guerra, com a condição de que as autoridades de Kiev  aceitem todas as exigências de Moscou. O que é totalmente incongruente, na medida em que se Kiev aceitar todas as condições impostas por Moscou o que restará a negociar? 

    Para parar a guerra e iniciar essas negociações, Putin exige a retirada de tropas das zonas de combate, o desarmamento do governo ucraniano, o compromisso de que a Ucrânia não integrará a Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN -- e passará a ter o status de neutralidade, o reconhecimento das repúblicas independentes do leste do país. Ou seja, a rendição.

    Desde o início da invasão, o ditador russo declarou que um dos objetivos era desnazificar a Ucrânia. A respeito, muito se falou do Batalhão Azov, grupo armado neonazista integrado ao exército ucraniano. Sábado contudo, chegou a notícia da morte no campo de batalha de Volnobaka, de Vladimir Zhoga, comandante do batalhão neonazista Sparta, das forças separatistas pró-Rússia Sparta em Donetsk. Foi uma grande perda para os militares russos, que perderam dois oficiais superiores no final-de-semana. 

    O Bataljon Sparta é uma unidade militar do estado proclamado da República Popular de Donetsk. Foi formado por voluntários que anteriormente serviram em um esquadrão antitanque liderado por Arsen Pavlov. A unidade foi acusada de vários crimes de guerra, documentados em vídeos. O batalhão foi destacado nas seguintes operações de combate durante a guerra na Ucrânia: 2014 na Batalha de Illovaisk. 2015 na segunda batalha pelo aeroporto de Donetsk. 2015 na batalha por Debaltseve. Em março de 2016 em uma escaramuça perto de Dokuchaievsk. Em setembro de 2016, a unidade foi implantada na supressão de um golpe esperado perto de Slavyansk.

    A morte de Zhoga escancara o fato que os russos, que afirmam querer desnazificar a Ucrânia, também têm os seus nazistas. Putin quer portanto desnazificar os outros para ficar só com seus nazistas. Como se houvessem bons nazistas e maus nazistas.

    Em nome do coletivo Judias e Judeus Sionistas de Esquerda:

    Tânia Maria Baibich
    Milton Blay
    Michel Gherman
    Jean Goldenbaum
    Mauro Nadvorny
    Pietro Nardella-Dellova
    Nelson Nisembaum

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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