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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Quem vai colocar o guizo no pescoço do gato? Com a palavra, general Villas Boas

    Jornalista Denise Assis defende que o general Villas Boas convença Jair Bolsonaro a renunciar ao cargo. "Pode ser, talvez, o último e histórico gesto do general Villas Boas, pelo Brasil. E nem precisa sair da quarentena. Um telefonema basta", diz ela

    (Foto: PR | Reuters | Senado)

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    Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

    De acordo com o dicionário Houaiss, “mito” é um substantivo masculino, cujo significado é: “narrativa de teor fantástico e simbólico, normalmente com personagens ou seres que incorporam as forças da natureza e as características humanas. Algo ou alguém cuja existência não é real ou não pode ser comprovada...”

    Sr. Presidente, juro que procurei nas linhas acima alguma ligação de sua pessoa com tal definição. Para encaixá-lo no que diz respeito à narrativa de teor fantástico, encontro na sua eleição o ponto de contato com o termo. Foi fantástica a forma como o senhor chegou lá, sem o menor preparo, sem que nenhuma pesquisa apontasse para isto, até aquele famoso episódio em Juiz de Fora. Quanto ao simbólico, vou encontrá-lo na sua ascensão ao poder, tornando-se símbolo do que há de nefasto e inepto, do ponto de vista de um governante.

    Difícil mesmo é identificá-lo com os “seres que incorporam as forças da natureza, e as características humanas”. Neste quesito, teríamos a dizer que se há uma força com a qual identificá-lo: são as forças do mal. Principalmente neste momento, em que buscamos em suas atitudes as tais características humanas e, como retorno, obtemos as figuras de gráficos econômicos e a de uma urna, com aquele irritante barulhinho de computação dos votos. Zero de empatia com o seu povo, ameaçado por doença e morte.

    Feita a constatação de que a sua pessoa não se encaixa, de modo algum, na definição de “mito”, passemos, pois, a discorrer sobre o seu momento, fartamente alardeado como o de total isolamento. Sem partido, sem aliados – dois estão mortos, um desaparecido e os demais o senhor deu-lhes um chute no traseiro.  

    Neste cenário, ganha corpo a ideia de sua renúncia, num país acometido -, tal como todo o planeta, de uma pandemia que seifa vidas com a rapidez das máquinas registradoras dos supermercados, onde a classe média estoca gêneros alimentícios e de higiene, forçando o desabastecimento e a alta dos preços para os pobres que chegam sempre atrasados, ou são afastados pela inexistência de recursos nesta corrida ao egoísmo.

    A pergunta que se apresenta é: quem vai colocar o guizo no pescoço do gato? Ou seja, quem vai apresentar-lhe a “sugestão” de renúncia. Neste caso, é preciso dar um pulinho no passado recente, para buscarmos a autoridade apta e com ascendência (de patente) e psicológica sobre a sua pessoa. Bingo! O nome é o do general e ex-comandante do Exército, Villas Boas.  

    Plantado no seio do Planalto, onde ocupa o discretíssimo cargo de assessor especial do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, Augusto Heleno, o general Villas Boas tem todas as ferramentas – e a obrigação moral de fazê-lo.

    As ferramentas, dizem respeito ao sentimento de gratidão expressado por Jair Bolsonaro, ao empossá-lo. Quase reproduzindo a letra do fado, declarou, na ocasião: “General Villas Boas, o que já conversamos morrerá entre nós. O senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui”.  

    Pois então, trato feito. Villas Boas o colocou, é de Villas Boas a responsabilidade de nos livrar dele. Rejeitado, Bolsonaro só não encara uma “aprovação” de apenas um dígito – casa em que permaneceu Temer em todo o seu desgoverno – , porque tem atrás de si um bando de fanáticos a gritar inadequadamente (como já constatado acima): “mito, mito”.  

    Quanto à obrigação moral, nunca é demais relembrar que foi Villas Boas, com seu twitter autoritário, interventor e golpista, quem determinou – sim, determinou e foi acolhido – ao Supremo Tribunal federal, que rejeitasse o habeas corpus do ex-presidente Lula, abrindo caminho para a sua prisão e deixando a pista livre para Jair e seus filhos passarem com os seus exércitos de robôs, rumo a uma eleição sem plataforma de governo, questionável e sem debates.  

    Uma eleição movida apenas à base de uma ópera bufa, que tal como um espetáculo de Comédia Del’Arte, foi encenada na rua, usando uma multidão de inocentes úteis como figurantes, e 24 horas de vitimização nas TVs. Agora, bem-vindos veículos de mídia, para o nosso lado. Gritem conosco: “fora Bolsonaro!” E até a renúncia, com a ajuda do que pode ser, talvez, o último e histórico gesto do general Villas Boas, pelo Brasil. E nem precisa sair da quarentena. Um telefonema basta.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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