Reabre-se o comércio. Mas, o dinheiro não voltará a circular
"E no meio de tantos problemas é interessante notar como que os comerciantes administram mal os negócios. É compreensível a preocupação com o fechamento do comércio por um longo período. Porém, com menos de 15 dias de portas fechadas já tinha empresário entrando em desespero, demitindo e declarando falência"
Olá, companheiros e companheiras. Tudo bem? Cá estamos, em mais uma semana de quarentena, vendo a pandemia se alastrar pelo Brasil e levando ao colapso de alguns sistemas de saúde, como em Manaus, Rio de Janeiro, Fortaleza e Recife. Ao mesmo tempo, as hordas que pedem por menos democracia continuam fazendo os showzinhos pirotécnicos aos domingos.
Diante deste turbilhão de acontecimentos, alguns estados do país começam a aplicar medidas de flexibilização do comércio. Aqui no Espírito Santo, o governador Renato Casagrande teve que ceder à pressão dos comerciantes e federações de comércio e resolveu abrir as portas das lojas de 72 dos 78 municípios capixabas. Há alguns critérios de segurança a serem seguidos, como uso de máscaras pelos funcionários, disponibilização de álcool em gel, entre outros pontos. A proibição continua a valer na Grande Vitória e na cidade de Alfredo Chaves.
Muitos comerciantes podem estar satisfeitos de voltarem a funcionar. Entretanto, isso tem tudo para ser um grande tiro no pé. Vamos às explicações. Primeiro, e o mais importante, a tendência é que as pessoas deixem de consumir itens supérfluos. Como estamos no meio de uma crise que não tem data para terminar e que não nos permite prever o futuro, qualquer gasto fora dos padrões pode representar dívidas que não serão pagas. Até mesmo quem é assalariado não tem certeza se conseguirá manter o emprego até o final da pandemia.
Com a queda na demanda, menos dinheiro entrará no bolso dos empresários. E aí, veremos a única medida tomada nestes casos: demissões e, possivelmente, fechamento das lojas e empresas. Simplesmente, a conta não vai fechar.
Não dá para acharmos que a relação de consumo será a mesma durante a pandemia. Particularmente, tenho evitado gastos que não são essenciais. Tenho procurado economizar ao máximo, justamente por não saber como serão os próximos meses.
Outro ponto a se destacar é que, atualmente, já temos uma retração econômica nas famílias brasileiras. As demissões, o auxílio emergencial de apenas R$600 e os cortes de salários, já representam uma diminuição no dinheiro que irá circular no mercado nacional. Essa queda irá representar menos consumo, voltando ao ciclo que descrevi acima.
Já no plano sanitário, a volta do comércio pode representar um avanço no número de casos da Covid-19. Mais pessoas irão para as ruas, utilizarão ônibus, frequentarão os mesmos espaços. Ou seja, o vírus circulará mais, infectando outras pessoas. Este aumento, dependendo da cidade ou do estado, poderá significar o colapso do sistema de saúde.
E no meio de tantos problemas é interessante notar como que os comerciantes administram mal os negócios. É compreensível a preocupação com o fechamento do comércio por um longo período. Porém, com menos de 15 dias de portas fechadas já tinha empresário entrando em desespero, demitindo e declarando falência. Isso mostra como que é preciso aperfeiçoar as administrações, para que as empresas estejam preparadas para momentos de crise. É um ponto que os governos deveriam focar no pós-pandemia. Não adianta só abrir lojas, é preciso ter estrutura para que se desenvolvam e encarem as adversidades que o mercado impõe.
Muitos podem estar pensando: “ah, então você está torcendo contra?”. Muito pelo contrário. Quero que esta crise acabe o mais rápido possível, para o bem de todos. Entretanto, é preciso analisar de forma séria todos os acontecimentos. E a abertura do comércio se mostra uma estratégia arriscada. Pode não fazer a economia girar, pode representar aumento no desemprego e, por fim, colapso do sistema de saúde.
O que precisamos, agora, é de um plano nacional de combate ao coronavírus, onde o Governo Federal peça aos municípios estatísticas sobre o número de comerciantes, da renda de cada um, do número de informais, de desempregados, etc – muitos destes dados disponíveis nos estudos do IBGE – e desenvolva políticas públicas voltadas para estes grupos. Com estes dados, criar programas para ajudar os comerciantes a conseguirem créditos para manter as estruturas, sem mandar ninguém embora ou desistir do comércio.
Sem um plano nacional, continuaremos neste desencontro de ações. Cada estado e município toma uma atitude, sem uma harmonia entre os entes federativos. Na prática, estamos no “cada um por si e Deus por todos”. Só que ficar esperando apenas a providência divina pode nos levar a um aprofundamento da crise sanitária, econômica e de segurança pública.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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