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    Salvio Kotter

    Escritor, tradutor e editor da Kotter Editorial, que vem publicando grandes autores de livros de política de cunho progressista, e também livros de filosofia e de literatura.

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    Renda em alta: uma das marcas do governo Lula

    Enquanto o aumento da renda gera um ciclo virtuoso, porque aumenta o consumo, o consumo aumenta a oferta de emprego

    Fernando Haddad e Lula (Foto: RICARDO STUCKERT)

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    A renda do trabalho dos brasileiros em 2023 experimentou um salto absolutamente significativo, o maior desde a implementação do Plano Real. Esse aumento expressivo foi impulsionado pelo investimento público, ou seja, basta aplicar o que Keynes recomendou no início do século passado que o milagre acontece.

    Keynes mostra, grosso modo, que, numa crise, se o governo contratar uma grande equipe para cavar buracos e outra idêntica para os fechar, a economia melhora. Imagina quando contrata para edificar...

    O Impacto do Gasto Público na Renda

    Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelam que, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,9% em 2023, a massa de rendimentos do trabalho teve um salto real de 11,7%, superando a inflação. 

    Em 2022 esse resultado já havia sido bom, só que aí motivado por coisa ruim. No desespero pela própria reeleição Bolsonaro teve de abandonar temporariamente a cartilha de austeridade e distribuiu centenas de bilhões de reais para taxistas, motoristas de caminhão, para os cadastrados no que hoje voltou a ser o Bolsa Família etc. e, claro, isso trouxe resultado positivo. A renda do trabalhador acabou tendo um aumento de 6,6% em 2022. Mesmo assim, menos da metade da melhor alta em todo o plano real, que foi a de 1995: 12,9%.

    A explosão do investimento social, observada a partir do segundo semestre de 2022 e ao longo de 2023, teve um efeito multiplicador na economia. As demais medidas adotadas pelo governo Lula, e o aumento do salário-mínimo acima da inflação, contribuíram para esse crescimento da renda.

    A Eficácia do Bolsa Família

    Estudos demonstram que programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, têm grande potencial para multiplicar a renda e o emprego. Um trabalho organizado por Marcelo Neri, diretor da FGV Social, mostra que o Bolsa Família é o programa que melhor atinge a população mais necessitada.

    Outro estudo, realizado por Naercio Menezes Filho, do Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância, aponta que, para cada R$ 1 a mais per capita investido em programas como o Bolsa Família, o PIB per capita do município onde o dinheiro é gasto cresce R$ 4. Um colosso!

    Riscos no Horizonte: o Engessamento Fiscal e a Inflação

    Com o crescimento da renda em 2023, dois riscos emergem no horizonte e precisam ser acompanhados de perto pelo governo: as restrições fiscais e a inflação. O novo arcabouço fiscal do governo Lula tem como meta zerar o déficit da União neste ano, o desafio é alcançar esta meta sem cortes na área social ou nos investimentos em infraestrutura.

    Além disso, a inflação no setor de serviços, que representa dois terços da economia brasileira, é um desafio para 2024. A inflação está muito bem controlada, mas, caso volte a subir, o Banco Central, que continua nas mãos de um representante da Faria Lima, não vai perder a oportunidade para interromper a queda da taxa básica de juros, o que prejudicaria o aumento dos rendimentos do trabalho. Neste contexto, a busca por um equilíbrio entre políticas sociais eficazes e responsabilidade fiscal é fundamental para garantir que o crescimento da renda seja sustentável e beneficie de fato toda a população. 

    Enquanto o aumento da renda gera um ciclo virtuoso, porque aumenta o consumo, o consumo aumenta a oferta de emprego (e com ele a arrecadação do erário) e o aumento da oferta de emprego força a renda para cima, o que aumenta o consumo... e assim por diante. Qualquer economia pode suportar este ciclo, caso ele seja mantido dentro de padrões razoáveis, assim reduzindo a desigualdade de forma natural e consistente. Foi mais ou menos isso que aconteceu no chamado Estado de Bem-estar Social do pós-guerra na Europa, que gerou frutos que se reproduzem até hoje.

    Contudo, para tanto o governo vai precisar saber caminhar pelo fio da navalha imposto pelo Congresso reacionário, pela polarização política absurda que vivemos e pelos rentistas: um aumento da Selic interrompe esse ciclo virtuoso. E só é possível manter esse ciclo lembrando que a cadela que aumenta juros no Brasil nunca sai do cio.

    Fontes:

    Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

    Fundação Getulio Vargas (FGV)

    Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) do IBGE

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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