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Adilson Roberto Gonçalves

Pesquisador científico em Campinas-SP

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Ressaca política

Vivemos uma “barganha imoral” no Parlamento

(Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

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Se antes a política de botequim apenas nos deixava embriagados, com chance de ressaca no dia seguinte, agora, a propalada pelas fake news e redes sociais causa cirrose e morte hepática. Elegemos um governo progressista, de esperança, mas um Parlamento mais retrógrado que o anterior. Os espaços que os jornalões dão para tais representantes é significativo para a tensão em que vivemos. Alguns fatos são aqui pinçados de edições recentes.

Primeiramente, até os editoriais dos jornais da capital paulista defendiam a manutenção do veto presidencial à proibição das saidinhas temporárias de presos, ao que chamaram de “populismo penal”. Com a derrota no Congresso Nacional, vemos que os parlamentares não são tão estúpidos assim, pois mudaram a legislação de forma consciente para alimentar o celeiro do crime organizado nos presídios. Agiram da mesma forma que os representantes fluminenses quando votaram a favor de Chiquinho Brazão, com temor às represálias da milícia no Rio de Janeiro. Índole semelhante, voto alinhado.

Há que se ter oposição, mas é um acinte escolher para isso o candidato derrotado em 2014, que fustigou o governo de Dilma Rousseff com mentiras sobre as eleições já naquele tempo, precursor do bolsonarismo. Aécio Neves delirou em “O país do PT versus a pátria dos brasileiros” (Folha de S. Paulo, 21/5), pois casos extremos, como é a catástrofe que se abateu no RS, não podem ter solução trivial. O que a nomeação de Paulo Pimenta tem de afronta à Constituição Federal, como o político mineiro lá defende? Qualquer escolha para lidar com a crise seria política, ele bem deveria saber disso, pois “escolheu” ser deputado, já que não teria condições de continuar senador. Se vale algum conselho de avô, fique com esse de Tancredo Neves: “esperteza, quando é muita, come o dono”.

Vivemos, portanto, uma “barganha imoral” no Parlamento, capitaneada pelo Partido Liberal (PL) e levando o centrão consigo. Porém, o PL, ainda que seja grande no Congresso Nacional, não é maioria. Junto à imoralidade de suas pretensões de anistia e impunidade a golpistas, há que se verificar como se posicionarão os demais partidos de direita, pois, se tal intento minimamente prosperar, será com apoio de muito mais gente interessada. Devem ser incluídos e explicitados os partidos e parlamentares rotulados de “centro”, mas que carregam o cerne extremista. A derrubada dos vetos de Lula dá um forte sinal de alerta nesse sentido.

Por fim, em face das precoces especulações sobre a sucessão de Lula, ganharão os paulistas com uma candidatura presidencial de Tarcísio de Freitas em 2026, pois abreviará seu mandato em alguns meses e teremos a oportunidade de escorraçá-lo do Palácio dos Bandeirantes e da política como um todo por um bom tempo, à semelhança do que aconteceu com João Dória. Oportunistas, ainda mais da extrema-direita, não podem ter espaço aqui. Aliviaria nossa ressaca.

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