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    Riscos à frente, mas ainda otimista

    O investidor externo não vê um risco na reeleição de Dilma e acredita que se outro candidato ganhar será ainda melhor para a economia brasileira. Em outras palavras, o resultado das eleições, qualquer que seja, é positivo

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    Na minha primeira carta de 2014 defendi a ideia de que 2013 ainda seria um ano de resultados positivos para o mercado acionário nos Estados Unidos. Minha aposta era de que seria possível obter um retorno de 8% a 10% mantendo uma posição longa em ações americanas em vez de tentar diversificar para o resto do mundo.

    Os primeiros três meses do ano pareciam contrariar minha posição: os mercados apresentaram extrema volatilidade e o terrível inverno na região norte dos Estados Unidos provocou uma queda na atividade econômica; houve uma revolução na Ucrânia, seguida de uma crise internacional envolvendo os Estados Unidos e Rússia por conta da Crimeia. Por outro lado e contrariando todas as expectativas, o rendimento dos títulos do tesouro americano caiu de por volta de 3% no começo de 2014 para 2.44% no fim de maio e está agora por volta de 2.65%, o que significa que os preços dos títulos do tesouro aumentaram. Os resultados das empresas no primeiro trimestre foram apenas razoáveis e as ações na área de tecnologia tiveram declínios em certos casos de mais de 30%. YELP, por exemplo, chegou a US$ 97,25 em 5 de março e depois caiu chegando a US$ 52,50 em 9 de maio, uma queda de mais de 40%. Está agora por volta de US$ 75,97, o que significa que houve uma recuperação de 50% considerado o ponto mais baixo neste ano.

    Quando parecia que investimento em ações não era uma boa decisão e que o melhor seria seguir o velho conselho de "venda em maio e vá embora" ("sell in May and go away") o mercado acionário americano mudou de trajetória. A temporada de resultados do segundo trimestre começou mostrando resultados melhores do que os esperados, os sinais de uma economia mais forte proliferaram e estava havendo uma intensa atividade em fusões e aquisições. O quadro abaixo mostra a alta constante no S&P desde o começo do mês de maio.

     

    A verdade é que, de acordo com dados compilados pelo Bloomberg e a despeito de toda a volatilidade do começo do ano, as ações americanas tiveram resultados melhores do que outras classes de ativos, exceto títulos do tesouro, como se pode ver no quadro abaixo.

    Asset Class                          1Q performance
    US Stocks                                      1.65%
    International stocks                      0.66%
    Emerging markets stocks              -0.43%
    Bonds                                           1.84%

    No começo de 2014 eu acreditava que o investidor não precisava olhar para alternativas de investimento ou tentar diversificar; poderia simplesmente concentrar tudo nos Estados Unidos e o resultado seria positivo. Minha visão mudou um pouco porque o quadro está mudando: em primeiro lugar e mais importante, nada está tão barato quanto estava até 2012. Além disto, há outras regiões onde se pode achar uma combinação de ativos depreciados e perspectiva de crescimento econômico. A Europa é um bom exemplo e deve-se enfatizar a ultima medida tomada pelo Banco Central Europeu, reduzindo as taxas de juros: Mario Draghi está comprometido a fazer o que for necessário para impulsionar a economia europeia e as ações do continente podem superar outros ativos em termos de rendimentos em 2014. Este pode ser o caso também em alguns mercados emergentes, mas não estou apostando nisto.

    Tome-se o caso do Brasil: o investidor internacional vê o Brasil como uma classe de ativo financeiro e eles acreditam que esta classe de ativos- mercados emergentes – vai ter uma performance melhor no futuro. Isto se deve ao fato de que esta classe de ativos teve uma performance inferior nos últimos anos e por isto estão baratos, desvalorizados. Portanto, por razões de administração de risco, investir em mercados emergentes é uma opção. O investidor externo não vê um risco na reeleição de Dilma e acredita que se outro candidato ganhar será ainda melhor para a economia brasileira. Em outras palavras, o resultado das eleições, qualquer que seja, é positivo, já que acreditam que haverá mudança com Dilma ou com outro. Eu não compartilho esta visão.

    Em primeiro lugar não está claro qual será a politica econômica dos candidatos de oposição e não está claro o que será um segundo mandato de Dilma. Há muitas questões em aberto e não tenho uma resposta para elas. Vamos começar com a presidente: será que ela vai mudar a politica econômica? Há alguma chance de que ela volte ao que achávamos que ela seria quando foi eleita, a saber, uma continuação da abordagem pragmática de Lula à economia e aos mercados? Não estou convencida de que este é o caso. Penso que ela tem ideias próprias e que estas ideias não são exatamente positivas para uma economia moderna, de mercado, e acho até que ela tem certo desdenho pelo mercado. Quanto aos outros, vou me concentrar em Aécio Neves, e na possibilidade de que ele traga o experiente, respeitado e extremamente capaz ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga para o comando da economia. Com certeza haverá um choque de credibilidade inicial mas a questão que se segue é se o PSDB, e a coalizão responsável pela eleição, tomaria as atitudes necessárias para por o Brasil de volta nos eixos. Não estou convencida desta possibilidade, mas vamos supor que isto aconteça: aí sim teríamos uma combinação de ativos desvalorizados e perspectivas de crescimento econômico que justificariam o investimento no Brasil. Temos que esperar pelo fim da Copa e começo da campanha para ter maior clareza sobre as propostas dos candidatos. É também possível que não consigamos ter nenhuma clareza durante a campanha e por esta razão prefiro ficar fora do Mercado brasileiro em 2014. Como um pequeno investidor deve se comportar neste Mercado? Infelizmente não há boas escolhas. Só esperar e torcer pelo melhor.

    Há também outros riscos pela frente: analistas de todas as vertentes ideológicas não tem uma proposta clara sobre o que fazer em relação ao crescimento do ISIS (Islamic state of Iraq and Syria). Vamos lembrar que estas regiões em turbulência ainda concentram a produção de petróleo. Nos estados Unidos, a derrota de Eric Cantor, o líder da maioria na Câmara, combinado com uma possiblidade concreta de que representantes do "Tea Party" tenham mais assentos no Congresso, traz de volta a ameaça de futuros conflitos políticos e, portanto mais incerteza. Até agora o Mercado tem ignorado estas ameaças.

    O verão nos Estados Unidos é uma época com poucos acontecimentos: os políticos estão de férias assim como muitos agentes importantes de mercado; além disto, a copa mundial de futebol tem atraído mais pessoas e a partida inicial dos EUA contra Gana teve 14 milhões de espectadores nos Estados Unidos, o que é, para este país e para este esporte, um número significativo. Por isto e para os próximos meses, não vejo grandes mudanças no quadro econômico e politico e, portanto no Mercado acionário. Ou seja, de minha parte continuo investindo e recomendando, ainda que mais seletivamente, o mercado de ações americano e agora o europeu, e ainda acredito, de maneira conservadora, naquele ganho de 8% a 10% a que me referia na primeira publicação do ano.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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