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    José Neto

    Estudante de História e analista geopolítico. De Canguaretama, Rio Grande do Norte.

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    Roubo imperial

    A subjugação de uma nação por outra, colonialismo, assume vários corpos e formas ao longo da história

    Mulheres em Cabul, Afeganistão (Foto: REUTERS/Jorge Silva)

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    A subjugação de uma nação por outra, colonialismo, assume vários corpos e formas ao longo da história. Os objetivos das nações colonialistas podem variar conforme o ambiente socioespacial apresentado, mas em todos os casos existe um objetivo central e em comum a todos esses países: a busca de riquezas das nações colonizadas. Desde o colonialismo do século XIV e XVII, com os Europeus invadindo o "novo mundo", até os neo-colonialistas do século XIX e XX, repartindo a África e a Ásia com a legitimação etnocêntrica da Conferência de Berlim (1884 – 1885), as nações dominadoras impunham violentamente as suas culturas e roubavam a riquezas das nações dominadas. Contudo, essas características não acabaram com o fim da "guerra fria", a descolonização do século XX ou o começo de uma nova ordem mundial, na verdade, essas características se ampliaram e reformularam-se. O colonialismo neoliberal, surgido na pós-bipartição do mundo e liderado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e, principalmente, pelos Estado Unidos (EUA), está renovando as suas colônias e expropriado as suas riquezas. O maior dos exemplos é o Afeganistão, mesmo após a saída dos EUA do país.

    A tomada de Cabul 

    No dia 15 de agosto de 2021, Cabul, capital do Afeganistão, foi tomada pelos Talibãs e o evento mostrou simbolicamente ao mundo que eles estavam controlando o país mais uma vez. Após os nacionalistas islâmicos chegarem à cidade, a população ficou em estado de pânico e tentou sair desesperadamente do país, as fotos nos aeroportos e do caos na cidade exprime esse sentimento. O grupo islâmico não chegava a Cabul desde 2001, onde o mesmo saiu derrotado pelos EUA na sua “Guerra ao terror”, e quando voltou à cidade colocou em prática sua velha, distorcida e autoritária versão do islamismo. Todo esse desenrolar histórico e social só foi possível pelo fato de, em abril de 2021, Joe Biden, presidente dos EUA, levar adiante a retirada das tropas do país, pensada desde o governo de Donald Trump (2017 - 2021); a ocupação do país não tinha apoio interno e externo, com inúmeras nações a condenar, por isso o governo Biden levou adiante a retirada. A saída aconteceu como prevista, mas a falta de elaboração e execução gerou riscos tanto aos americanos quanto à própria população do país. Mas, se compararmos com a saída do Vietnã, o país foi extremamente prejudicado no cenário geopolítico, talvez a principal derrota, e nas suas zonas de influência, diferente da saída de Saigon que os americanos tinham um prêmio de consolação pela reaproximação com a China no governo Nixon (1969 - 1974). Além disso, a ocupação deixou inúmeras contradições no ar e críticas às duas décadas dos norte-americanos no país, se destacando duas: primeiro, de razão socioeconômica, o país ficou às traças e pior que vinte anos atrás, enquanto o complexo industrial-militar se deleitava com bilhões de dólares na guerra; segundo, em âmbito ideológico, o falso papel pacificador dos EUA, pois, o Talibã em questão de dias tomou o país e mostrou que estava mais forte e popular que há duas décadas - parecia até que eles não tinham travado uma guerra com o ocidente. Desse modo, perguntamos: qual foi o objetivo da ocupação? Nem os próprios norte-americanos sabem e muito menos os afegãos, mas sabemos que nunca teve como prioridade levar democracia, liberdade e paz - na verdade, isso só existe em narrativas sensacionalistas americanas. A ocupação do país e as atitudes do império reforçam a tese dos críticos da sua política externa: de que o país não se importa com a população das nações dominadas, mas sim com os ganhos das corporações pró-guerra e das suas oligarquias.

    Roubo e fome: práticas comuns na política de impérios

    Mesmo depois de ter deixado o país nas traças e pior que vinte anos atrás, Joe Biden decide, de forma unilateral, congelar 7 bilhões de dólares do povo afegão. O governo norte-americano disse que vai distribuir esse dinheiro para as vítimas américas do 11 de setembro, essa forma de distribuição voltará ao próprio Estado americano no final do ciclo econômico, e beneficiará indiretamente os afegãos sem passar pelo Talibã - impossível. Além dessa atitude de distribuir coercitivamente o dinheiro, o governo americano promove sanções brutais ao país e o impede de desenvolver as suas forças produtivas, ampliando ainda mais a situação caótica. Essas atitudes geraram revolta em âmbito internacional e fez inúmeros países denunciarem o governo dos EUA, apelando que devolvam o dinheiro e não dificultem o desenvolvimento do país. As consequências, podemos dizer genocidas, dessas atitudes foram a ampliação da escassez de suprimentos no país e piora ainda mais a qualidade de vida do povo afegão; Deborah Lyons, representante da ONU no Afeganistão, disse que essas atitudes podem causar um problema estrutural que se estenderá por gerações - em um país que já tem metade da sua população com fome aguda, de acordo com a Organização Nações Unidas (ONU). Rússia, China, Paquistão, outras nações e muitos dos próprios congressistas norte-americanos denunciam essa atitude do governo Biden, mas, como a história nos mostra, a fome em outras nações não comove os EUA e o Ocidente. Existem genocídios de fome no Iêmen, cometida pela aliança asquerosa entre Arábia Saudita, ocidentais e aliados da região, e em diversos países da África a décadas, cometida por países que fazem parte da influência ocidental, que não causam preocupação a Washington e ainda fazem "vista grossa" para os agentes do caos envolvidos. 

    Portanto, o “Tio Sam”, assim como os Estados mercantis modernos e imperialista do XIV e XVII, também segue o principal objetivo da cartilha para a dominação de um país: o roubo das suas riquezas. “Civilizar”, na interpretação eugenista do termo, ou “levar valores ocidentais”, são apenas discursos políticos e que servem para agradar o ego do excepcionalismo americano; o que, na verdade, o poderio americano busca é agradar as corporações que regem a sua furada república. O Afeganistão foi invadido por causa de um grupo de indivíduos, a maioria da Arábia Saudita, que cometeram crimes em outros países; o país foi ocupado por duas décadas, deixado às traças e ocupando posições de destaque em Ranking de pobreza e fome, sendo considerado o país mais pobre do mundo pela ONU; depois disso todo, o país foi saqueado e traído. O mundo se transforma, mas os impérios não.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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