Sem candidato, direita vai melar a eleição
As eleições marcadas para outubro de 2018 – quando deveriam ser escolhidos o novo presidente da República, os governadores dos 26 Estados e Distrito Federal, 513 deputados federais e 54 senadores – viraram um pesadelo para os golpistas. Mantidas as regras democráticas, eles temem perder importantes espaços de poder. Há chance da direita melar as eleições
As forças golpistas estão em uma encruzilhada. Elas patrocinaram uma aventura perigosa ao abortar a jovem democracia brasileira, depondo uma presidenta legitimamente eleita e alçando ao poder a quadrilha de Michel Temer. Com uma velocidade alucinante, elas impuseram uma pauta regressiva sem precedentes na história – que inclui, entre outras maldades, a PEC da Morte que congela por 20 anos os investimentos em saúde e educação; a “reforma” trabalhista que extingue a CLT; e o projeto de “reforma” da Previdência que elimina com a aposentadoria dos trabalhadores. Este plano, batizado de “Ponte para o futuro” – mas que na verdade é uma “pinguela para inferno” –, está sendo execrado pela sociedade em todas as pesquisas de opinião. O covil golpista tem apenas 3% de aprovação – dentro da chamada margem de erro.
Neste cenário devastador, as eleições marcadas para outubro de 2018 – quando deveriam ser escolhidos o novo presidente da República, os governadores dos 26 Estados e Distrito Federal, 513 deputados federais e 54 senadores – viraram um pesadelo para os golpistas. Mantidas as regras democráticas, eles temem perder importantes espaços de poder. Os parlamentares que se corromperam neste show de horrores e esfaquearam os direitos dos trabalhadores estão desgastados e correm o risco de não se reeleger. Eles são vaiados nos locais públicos e têm seus nomes estampados em vários cantos. Já os governadores que apoiaram as regressões também padecem com a queda de popularidade e são tragados por uma crise econômica que paralisa os Estados. O maior temor dos golpistas, porém, é com a eleição presidencial. O “fantasma” de Lula assombra a direita nativa. O golpe ficaria inconcluso com o retorno das forças de esquerda e centro-esquerda ao Palácio do Planalto.
Até agora, mesmo com o apoio da mídia chapa-branca e das elites empresariais, as forças golpistas não conseguiram construir um nome em condições de disputar o pleito com competitividade. Já fizeram vários ensaios, mas todos deram chabu. Henrique Meirelles, o queridinho do “deus-mercado”, nem aparece nas pesquisas eleitorais. Ele prometeu recuperar a econômica de maneira “instantânea”, mas o que se vê no país é o aumento do desemprego e da miséria. Além disso, o ex-executivo da JBS foi atropelado por várias denúncias de corrupção e de enriquecimento ilícito. João Doria, o “prefake” turista de São Paulo, virou capa de revistas e destaque na tevê, mas sua ambição logo virou farinata – como a que compõe sua desastrosa “ração para os pobres”. Luciano Huck, o garoto-propaganda da TV Globo, também já desistiu da disputa com medo de uma necessária devassa na sua vida empresarial. Sobraram o governador Geraldo Alckmin, o “picolé de chuchu”, que nunca convenceu o eleitorado brasileiro, e o fascista aloprado Jair Bolsonaro, que não inspira confiança nem na chamada “zelite”.
Três saídas golpistas
A ausência de alternativas tende a estimular nas forças da direita – que têm no seu DNA os golpes e as saídas autoritárias – a busca de saídas ainda mais traumáticas para a combalida democracia brasileira. Três hipóteses parecem estar no tabuleiro. A primeira é a impugnação de uma nova candidatura do ex-presidente Lula. Sérgio Moro e os seus cúmplices na midiática Operação Lava-Jato trabalham incansavelmente para realizar este trabalho sujo, que representaria um atentado à soberania do voto popular e à democracia. Sem provas, mas com muita convicção, eles correm atrás do tempo. O atraso na degola, porém, pode atrapalhar os planos golpistas, gerando forte reação na sociedade. A cada dia que passa, o líder petista se consolida ainda mais na simpatia do eleitorado. Há um típico “efeito saudade” do ex-presidente.
Caso esta manobra não se viabilize a tempo, as forças da direita podem apelar para outras duas saídas ainda mais bruscas. Uma seria a da imposição de um “parlamentarismo” de fachada, para aprisionar o presidente eleito em 2018. O jagunço Alexandre de Moraes, guindado ao posto de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo usurpador e compadre Michel Temer, já opera abertamente para viabilizar esta alternativa. Vale lembrar que esta saída antidemocrática já foi testada em 1961 contra o trabalhista João Goulart, mas durou pouco tempo. Um plebiscito anulou a mutreta. A outra seria a da pura e simples suspensão das eleições do próximo ano. Parece uma manobra extremada – mas é bom evitar novamente as ilusões como as dos que não acreditavam no golpe do impeachment contra Dilma Rousseff.
O que está em jogo no país é algo de dimensão colossal. O Brasil, com suas riquezas, potencialidades e bilionários interesses, não pode ser transformado em uma republiqueta de última categoria. Ou as vozes que almejam a democracia, o progresso e a justiça social se levantam com urgência e maior radicalidade, ou a direita nativa vai destruir de vez o Brasil. A questão democrática, com a defesa da soberania do voto popular, adquire hoje maior centralidade na luta de classes nesta sofrida nação.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: