Sergio Moro e Eduardo Leite são fardos no colo da direita
"Não há uma acomodação natural em alguma engrenagem disponível da direita para nenhum deles. Leite e Moro são peças sem encaixe", escreve Moisés Mendes
Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia
O partido que acolher Eduardo Leite, sendo ou não o seu PSDB ou o MDB de Simone Tebet, carregará uma mala pesada e inconfiável. Vai apenas se repetir com o tucano o que aconteceu com Sergio Moro no Podemos e acontece agora no União Brasil.
Com apenas 37 anos, o gaúcho cometeu todas as barbaridades e barbeiragens possíveis na política. Não há escrúpulo que contenha Leite, assim como nenhuma coerência contém Sergio Moro.
Leite chega a um surpreendente protagonismo nas articulações da moribunda terceira via, tendo apenas 1% de intenção de voto nas pesquisas. É como se o time do ASA de Arapiraca se apresentasse para desafiar o Palmeiras.
O ex-governador é um caso a ser estudado por sua trajetória e suas atitudes erráticas. Em 2018, elegeu-se como aliado declarado e fervoroso de Bolsonaro.
Tinha retórica e base de campanha bolsonaristas e formou um governo com secretários e quadros identificados com a direita próxima da extrema direita.
Com o desgaste de Bolsonaro, logo passou a dar sinais de que largaria o sujeito pelo caminho. Mas foi, dissimuladamente, um dos governadores engajados à distribuição de cloroquina na rede de saúde.
Derrotado nas prévias de novembro por João Doria, começou a articulação da segunda tentativa de golpe contra o colega, articulado com Aécio.
A primeira aconteceu em janeiro do ano passado, quando foi mobilizado pelos generais de Brasília para que sabotasse a vacinação.
Foi a Eduardo Leite que o general Luiz Eduardo Ramos entregou a tarefa de ‘recomendar’ a Doria que não deflagrasse a imunização com a CoronaVac.
Bolsonaro não queria que o tucano ficasse com um trunfo que no fim não lhe valeu quase nada. Doria foi em frente e denunciou Leite, que admitiu o trabalho fracassado de mandalete trapalhão.
Tentar retirar a candidatura de Doria é sua segunda investida, depois de fracassar como candidato de aluguel do PSD.
A investida que talvez venha a ser a terceira é a que o impulsiona ao repentino desejo de ser o candidato a vice de Simone Tebet.
É a sua atual ambição, fomentada pelos que o jogam de um lado a outro na gangorra da direita. Mas não há como evitar uma dúvida que o movimento na direção do MDB acaba provocando: que vice seria esse que não fideliza suas relações com pessoas e partidos?
O MDB aceitaria um vice que já foi bolsonarista oportunista, que abandonou Bolsonaro, que se submeteu às ordens de um general para sabotar a iniciativa histórica de um colega na pandemia e que ainda tenta golpear o mesmo colega, rompendo com um pacto feito nas prévias?
Leite procura algo que dê sentido e reoriente sua vida de perdições. Assim como Moro é um aprendiz enredado nas próprias decisões, desde o momento em que encarcerou Lula e saltou nos braços de Bolsonaro.
Moro já fez empreitadas para quatro partidos. Para o PSDB e Aécio Neves, coordenou a caçada a Lula desde 2015 e ajudou, no embalo do lavajatismo, no golpe contra Dilma Rousseff.
Trabalhou para o PSL, que levou Bolsonaro ao poder, depois que a direita se livrou de Lula e ficou desorientada. Para o Podemos, foi usado na construção da farsa da candidatura à presidência.
E agora Moro trabalha para o União Brasil, na fuga da missão impossível de ser candidato a presidente. Mas é tratado com desprezo como quadro do terceiro time até por gente oriunda da velha Arena.
Leite e Moro são figuras geradas pelo ambiente que fez germinar Bolsonaro, com os filhos, os milicianos, os militares ao seu redor e agora o centrão que de fato governa.
Não há uma acomodação natural em alguma engrenagem disponível da direita para nenhum deles. Leite e Moro são peças sem encaixe, porque têm desgastes em componentes essenciais.
O controverso Cabo Daciolo é uma figura mais consistente e coerente, por sua história e seus propósitos, do que o tucano golpista e o ex-juiz suspeito.
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