Sérgio Moro perdeu o eixo e pode estar saindo de fininho
Para o jornalista Laurez Cerqueira, "o ex-juiz parece ter perdido o eixo com o fechamento do cerco contra ele". "Sérgio Moro se perdeu no labirinto da política, sem partido, e ninguém parece querer dar-lhe a mão para a saída. Apenas usam o prestígio dele – agora rolando ladeira abaixo – e surfam na onda de combate à corrupção que ele criou, que deu sustentação para o golpe e para a eleição de Jair Bolsonaro"
O ex-juiz Sérgio Moro parece ter perdido o eixo com o fechamento do cerco contra ele. Pode estar ensaiando sair de fininho da vida pública, depois de ver sua imagem, tal qual a de boneco de arreia ser desfeita na ventania política. Brasília não é para amadores.
Para ser ministro do Supremo Tribunal Federal – um dos seus sonhos –, o provinciano ex-juiz precisaria passar pelo portal do Senado Federal. A chance minguou, é quase zero, depois da revelação das ilegalidades praticadas por ele, pelo procurador Deltan Dallagnol, e seus subordinados na operação Lava Jato.
Sua possível candidatura à presidência da República foi descartada por Jair Bolsonaro recentemente, ao lhe oferecer a vice, num de seus gestos intempestivos, sem consultar Hamilton Mourão, que anda um tanto decorativo, como queria Olavo de Carvalho.
Ainda no mesmo campo da direita e da extrema-direita João Dória e Rodrigo Maia estão ocupando quase todo o espaço. Na política não existe espaço vazio. Um desses possíveis candidatos, dependendo do que o jornalista Glenn Greenwald tem em seu poder, a ser revelado, sequer o convidaria para ser vice. Diz o jornalista Ricardo Noblat que Greenwald tem mais de 2 mil áudios das conversas entre integrantes da Lava jato.
Ou seja, Sérgio Moro se perdeu no labirinto da política, sem partido, e ninguém parece querer dar-lhe a mão para a saída. Apenas usam o prestígio dele – agora rolando ladeira abaixo – e surfam na onda de combate à corrupção que ele criou, que deu sustentação para o golpe e para a eleição de Jair Bolsonaro.
Querem o ex-juiz apenas para tirar proveito, como fez Bolsonaro no Maracanã, no jogo da seleção. Se nos áudios em poder de Glenn Greenwald forem revelados segredos indecentes, Jair Bolsonaro descartará Sérgio Moro com tapinha nas costas e um “passe bem”. Ele não é mais juiz e pode não ser mais candidato a nada. Estudar nos Estados Unidos talvez seja uma saída. Lá ele é amigo do rei.
A última pesquisa Datafolha, a estrondosa vaia no Maracanã e as ilegalidades praticadas pela operação Lava Jato, divulgadas pelo site The Intercept, em parceria com o jornal Folha de S. Paulo, revista Veja, TV BandNews e o jornalista Reinaldo Azevedo, são fatos muito fortes. Devem ter abalado Sérgio Moro, levando-o a fazer uma parada para um balanço do caminho percorrido até o Ministério da Justiça.
Caso as novas revelações do conluio da Lava Jato com o ex-juiz sejam ainda mais graves, é possível que outros órgãos de imprensa descolem do alinhamento incondicional a ele e se juntem aos parceiros do The Intercept. A Globo tem dado sinais de que deve desembarcar.
A economia vai de mal a pior, com o desemprego corroendo a popularidade de Bolsonaro e do desastroso governo. Agências internacionais como Bloomberg, Reuters e outras já noticiam até a possível queda de Paulo Guedes, devido a absoluta inoperância do governo diante do precipício da recessão e da falta de medidas que apontem saída da crise e volta do crescimento econômico. Ninguém aguenta mais fundamentalismo.
O que o governo Bolsonaro está fazendo nas áreas econômica, do meio ambiente, educação, saúde, direitos humanos, segurança pública, entre outras, é indefensável numa campanha eleitoral futura.
Prender o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, ou qualquer outra pessoa da equipe que investiga as ilegalidades da Lava Jato, seria mexer numa caixa de marimbondos. Seria comprar uma briga com jornalistas no Brasil e no mundo, na questão do direito sagrado à liberdade de imprensa, com consequências políticas imprevisíveis. Isso liquidaria definitivamente a imagem de Sérgio Moro, já bastante danificada internacionalmente.
No segundo semestre, será instalada no Congresso uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (Câmara e Senado), para investigar as fake news.
Respaldada pelo Supremo Tribunal Federal, que também investiga o caso, deve colocar para depor, no banco de inquisição, diante das câmeras, gente graúda do governo, políticos do PSL, partido de Jair Bolsonaro, empresários, pessoas envolvidas nesses crimes, que atuaram na campanha eleitoral.
Como dizem no Congresso, “CPI, sabe-se delas quando começa. Mas nunca se sabe como acaba”, Com um mês de trabalho, com transmissão ao vivo, o desgaste do governo será devastador.
No Tribunal Superior Eleitoral, arrasta-se um processo de investigação da campanha que elegeu Jair Bolsonaro, desde novembro de 2018.
A denúncia é de que a campanha teria sido beneficiada pelo impulsionamento de fake news contra o PT, por empresas que prestam esse tipo de serviço e que teriam sido pagas com recursos de Caixa Dois.
Dependendo do andamento das investigações da CPI, o TSE deverá enfrentar uma situação bastante constrangedora. Caso constatado o Caixa Dois pela CPI, ao tribunal restará a única alternativa, de cassar a chapa Bolsonaro-Mourão. Ou será decretado o fim da justiça brasileira, que anda mal aos olhos do Brasil e do mundo.
No caso de cassação da chapa, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assumiria a presidência da República e, num prazo de 90 dias, o Brasil realizaria novas eleições. Assim determina a Constituição.
Se Rodrigo Maia e David Alcolumbre estiverem à altura dos cargos que ocupam, se tiverem grandeza cidadã e percepção clara da gravidade situação do país, chamarão o povo para o grande debate da restauração institucional, para o restabelecimento do Estado democrático de direito e para decidir soberanamente sobre os destinos da nação.
Mais fortes são os poderes do povo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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