Traços de Niemeyer na UnB
Ao mesmo tempo em que há o reconhecido (talvez um pouco tardio) desse maravilhoso espaço, vemos outro local, também arquitetado pelo Niemeyer, sendo privatizado
Olhou para baixo e sorriu: a escada fazia com que se sentisse alto. Alguns diriam que ele era louco por estar desenhando traços finos de uma altura dessas, mas desde quando ligou para o que pensavam dele? Aquele seria, afinal, seu escritório pelos próximos anos, e esperava que seus traços na universidade pudessem durar tanto quanto a universidade em si. Era um momento de esperança, e com ela vinham algumas loucuras.
Sessenta e dois anos depois, seu neto entraria por aquelas portas e deixaria uma mensagem a seu avô, também de paz e de esperança, porém o trabalho no SG 10, CEPLAN, durou pouco tempo, e o local foi fechado em 1969, com a saída de todos os professores de arquitetura da UnB ao fugirem da ditadura militar.
Seu neto não esteve no CEPLAN por uma razão qualquer, e sim pela entrega à reitoria do plano estratégico de transformação do SG 10 no Museu da Memória da Universidade de Brasília e do Plano Diretor do Campus Darcy Ribeiro.
Os desenhos se estendem por diversas paredes do CEPLAN, e junto a minha colega sentamos e imaginamos como Niemeyer havia pintado tão alto, mesmo no auditório.
Ao mesmo tempo em que há o reconhecido (talvez um pouco tardio) desse maravilhoso espaço, vemos outro local, também arquitetado pelo Niemeyer, sendo privatizado: A rodoviária de Brasília foi planejada para estar à altura do Congresso, e a razão disso deve ter sido para igualar o povo aos seus representantes. Com certeza o nosso arquiteto sentiria um sabor amargo na boca ao saber sobre a privatização.
Ibaneis sancionou hoje (19/12/23) a concessão da Rodoviária do Plano Piloto para empresas privadas. Pelos próximos 20 anos, a rodoviária estará nas mãos daqueles que pagam mais.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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