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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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Transparência Internacional é o lobo que acredita ter autoridade para definir como o galinheiro deve ser protegido

Imprensa divulga rebaixamento do Brasil no ranking de corrupção e omite que entidade estrangeira teve negócios muito mal explicados com a turma de Dallagnol

Eldorado, Josmar, Deltan e Bruno Brandão (Foto: Divulgação)

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A Transparência Internacional (TI) rebaixou o Brasil no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2023, que foi divulgado nesta terça-feira (30). O país teve 36 pontos, dois a menos que o ano passado, e ficou na 104a. posição, entre 180 nações pesquisadas.

Os critérios utilizados pela TI para realizar seu ranking não são muito claros. A entidade diz que o índice mede como especialistas e empresários veem a integridade do setor público nos países pesquisados. Zero significa muito corrupto, 100 é a nota de país "muito íntegro".

Dinamarca lidera o ranking, com 90 pontos. O Brasil ficou ao lado da Argélia, da Sérvia e da Ucrânia. Como fazem todos os anos, veículos do grupo Globo divulgam o índice como se fosse a última palavra em termos de credibilidade na aferição do tema corrupção.

Não faz nenhuma referência a outros interesses por trás da ação da entidade, como sua relação com o Departamento de Estado dos Estados Unidos.

As reportagens também não registram a natureza jurídica da Transparência Internacional. É uma organização privada com sede em Berlim. 

No Brasil sua atuação teve origem na associação com um executivo que chegou a ser indiciado por espionar empresa brasileira, a JBS, em benefício de uma multinacional com sede na Indonésia e atuação forte no Canadá em também nos EUA, a Paper Excellence.

Trata-se de Josmar Verillo, que na rede social se destacou como militante de extrema direita, com apoio ostensivo a Jair Bolsonaro e Sergio Moro, e manifestações de ódio contra Lula, Janja e o futuro ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino.

Foi Josmar quem trouxe a Transparência Internacional para o Brasil, através de uma entidade regional que denunciava prefeitos, por irregularidades às vezes inexpressivas, a Amarribo. 

E a Transparência Internacional tornou-se parceira da Lava Jato, cuja atuação foi responsável por uma ruína econômica no Brasil, segundo estudo do Dieese, o Departamento Intersindical de Estudos Econômicos e Sociais, com um desinvestimento de mais de 170 bilhões de reais e o desemprego de 4,4 milhões de pessoas.

Na outra ponta, grupos econômicos estrangeiros lucraram com essa ruína. Ou pelo menos tentaram. 

É o caso da Paper Excellence, que negociou a compra da fábrica de celulose Eldorado, quando seus controladores eram pressionados pela irmã siamesa da Lava Jato, a Greenfield, outra força-tarefa criada pelo Ministério Público Federal na gestão do procurador-geral Rodrigo Janot.

As mensagens encontradas pela Polícia Federal no HD do Walter Delgatti em 2019 dão conta de que dirigentes da Transparência Internacional eram aliados da Lava Jato, e a entidade foi beneficiada por recursos extraídos das empresas que estavam sendo arruinadas, a Odebrecht, a JBS e a Petrobras.

Em 2021, a defesa de Lula periciou as mensagens e as encaminhou para o Supremo Tribunal Federal. A leitura dessa peça dá a dimensão de quão negativa para o país foi a associação da TI com a Lava Jato.

“A Lava Jato também formulou e aderiu, em associação com terceiros, como a Transparência Internacional/Transparência Brasil, a projetos que contemplavam, dentre outras coisas, financiar e selecionar candidatos para as futuras eleições do país", afirmam os advogados.

Em 23 de fevereiro de 2017, Deltan Dallagnol, que era coordenador da Lava Jato, encaminhou mensagem a dois representantes da Transparência Internacional, Bruno Brandão e Michael Mohallem, para discutir formas de financiamento de uma etapa do “projeto” que envolveria a realização de “campanha" para eleger candidatos comprometidos com o liberalismo econômico e um suposto combate à corrupção.

A Odebrecht financiaria o projeto, com a contratação de consultorias indicadas pela Lava Jato e Transparência Internacional. Haveria uma campanha para orientar eleitores em quem não votar, uma "lista negra", que Deltan Dallagnol chamava de campanha "Tchau, queridos".

A Transparência Internacional tinha, então, assento no conselho da Odebrecht criado por acordo de colaboração e sua atribuição era acompanhar a execução de multa milionária destinada a projetos supostamente educacionais.

No caso, era um projeto político. E nunca ficou claro quem seriam os consultores contratados. Os próprios integrantes da Transparência Internacional? Seus aliados? 

A defesa de Lula bem que tentou obter a informação sobre como a Transparência Internacional era remunerada, mas o então juiz Sergio Moro nunca atendeu a esse pedido.

A TI também teria um assento no conselho da JBS com função semelhante, em acordo que está sendo contestado judicialmente. 

A mesma Transparência ajudou Deltan Dallagnol a constituir a fundação de direito privado com verba bilionária que autoridades dos Estados Unidos obrigaram a Petrobras a entregar à Lava Jato. 

O projeto só não foi adiante porque, descoberto, levou o Supremo Tribunal Federal a analisar o acordo e decidir que o dinheiro pertencia à União e não aos procuradores da república em Curitiba, que agiam em aliança com a ONG estrangeira.

Essa associação entre a TI e membros do Ministério Público pode receber vários nomes, e nenhum deles é positivo. Seria exagero defini-la como um ato de corrupção? Talvez. Mas, para isso, é preciso investigar esses acordos, o que nunca foi feito.

Inadmissível é atribuir à Transparência Internacional credibilidade para verificar no Brasil a percepção de corrupção. Diante do que se descobriu nos bastidores da Lava Jato, seria como reconhecer no lobo autoridade para dizer como o galinheiro deve ser protegido.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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