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    Sara York

    Sara Wagner York ou Sara Wagner Pimenta Gonçalves Junior é graduada em Letras - Inglês (UNESA), Pedagogia (UERJ) e Vernáculas (UNESA), especialista em Gênero e Sexualidades (IMS/CLAM/UERJ), mestre em educação (UERJ) e doutoranda em Formação de Professoras/es (UERJ), pai, avó, pesquisadora e professora, a travesti da/na Educação.cialista em Gênero e Sexualidades (IMS/CLAM/UERJ), mestre em educação (UERJ) e doutoranda em Formação de Professoras/es (UERJ), pai, avó, pesquisadora e professora, a travesti da/na Educação. Jornalista SRD/6474794/2024

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    Um viva para algumas (des)continuidades!

    Representação é sobre estar nos espaços e representatividade é sobre decidir com e sobre eles

    Sara Wagner York (Foto: Reprodução)

    A marca da primeira pessoa a fazer, tecer ou criar postos deve ser comemorada sempre, mas para parte da população brasileira as “primeiridades” sempre chegam de forma inovadora, corroborando com o apagamento daquelas que estavam na caminhada. A “primeiridade” em grupos trans, travestis, PcD e/ou negres, por exemplo, acompanha a retórica que beira o primitivismo, aquele primeiro como base de uma estrutura maior. A "representatividade" não apenas busca significar uma representação política junto aos interesses de determinado grupo, pessoas ou coletivo, mas busca a sua participação em espaços de decisão com poder para mudar rotas e para estabelecer (novos) sentidos. 

    Mudar uma estrutura por dentro. Representação é sobre estar nos espaços e representatividade é sobre decidir com e sobre eles. Algumas mulheres trans, homens trans e travestis já circulam pelos canais ditos oficiais e na TV aberta, trazendo consigo a tão falada representação. 

    Na área da comunicação algumas mulheres trans jornalistas têm feito trabalhos voltados ao entretenimento, como Lisa Gomes e Leonora Aquila. Entretanto, a prioridade da TV 247, segundo seus idealizadores, é a informação. Apesar de termos uma abordagem interativa e dialógica, a pós TV 247 - como nomeia Mauro Lopes - tem por objetivo informar e contextualizar sua audiência sobre assuntos que tocam a população e que, sobretudo, desaparecem na grande mídia.

    Na Argentina, Diana Zurco é a primeira âncora trans de um telejornal. Na Bolívia, a primeira apresentadora trans é a musicista Leonie Dorado, que assume o cargo aos 26 anos, em 2020. No Paquistão, aos 21 anos, Marvia Malik é a primeira âncora de notícias com recorte à transgeneridade (vale lembrar que o país é majoritariamente islâmico e que apenas em 2019 teve sua primeira LGBT Pride). 

    Aqui no Brasil, a jornalista Alana Rocha, natural de Riachão de Jacuípe, uma cidade a quase 200km de Salvador - BA, é a responsável pelo site "Hora da Verdade", que traz reportagens policiais e outros assuntos. Ela é a primeira jornalista transexual a ser repórter de um programa policial no Brasil, tendo sido, inclusive, contratada de forma temporária para ser a repórter do programa Ronda (TV Aratu/SBT). Alana Rocha foi a primeira mulher trans a trabalhar em um núcleo de jornalismo de TV no Brasil, na TV Aratu, afiliada do SBT, em Salvador. 

    Hoje, quando iniciei a “Giro das 11”, programa ancorado pelo jornalista Mauro Lopes, seu também idealizador nestes mais de quatro anos de TV 247, pensei que estivesse fazendo um grande trabalho, mas só tive real noção da grandeza ao ler em várias mídias que eu era a primeira travesti a ancorar um programa jornalístico. Eu, Sara Wagner York, travesti e pessoa com deficiência visual, estava fazendo história. A Associação Nacional de Pessoas Trans e Travestis trouxe uma nota em suas redes que diz: 

    "Sara Wagner York, no Giro das 11, na TV 247, se torna a primeira travesti a atuar como âncora à frente de um jornal. Outras pessoas trans já atuaram em núcleos jornalísticos, mas nenhuma delas chegou a ser âncora." 

    Durante o programa várias pessoas assistiam e deixavam seus cumprimentos, dentre elas a própria Presidenta da ANTRA, Keila Simpson, que enviou um áudio exibido ao vivo por mim, a apresentadora, que dizia: 

    "Sara, desejo muito sucesso e muito trabalho no Dia das Professoras, especialmente das professoras travestis e trans! Quero dizer que para mim, especialmente como pessoa trans, é um orgulho imenso ter você nessa frente tão importante, buscando, batalhando e levando sempre adiante a mensagem de que a educação é primordial para todo mundo. A educação não pode ser para alguns, tem que ser ampla, tem que ser discutida em todos os âmbitos e aspectos e você, como professora que é travesti, representa muito bem essa profissão." 

    Ao lado da jornalista Camila França, mulher negra, cis, gorda, nordestina e crespa, que no “Passadão 247” fez o destaque das principais notícias do dia, protagonizei um bancada rica em diversidade e conteúdo. 

    Tive o prazer de receber, na minha estreia como âncora, o ex-deputado Wadih Damous, comentando o cenário político atual; Silvany Euclênio, do Pensar Africanamente; Regina Facchini, da Revista PAGU/UNICAMP; o jornalista Victor Viana, CEO da mídia Prensa De Babel; e, por fim, Sérgio Luis Baptista da Silva, professor na UFRJ e líder do Laboratório de Pesquisa em Gênero, Sexualidade e Raça (GE-SER).

    A pesquisadora indiana Gayatri Spivac escreveu em seu livro "Pode o subalterno falar?" que ninguém dá voz a ninguém. O que nos cabe em certa medida é nos colocar em posição de escuta. E, apesar de nos desdobrarmos em vários aspectos ainda capacitistas na linguagem, inclusive para problematizá-la por dentro, rejeitamos um fazer educação que não mais se comprometa com a luta antirracista, antiLGBTIfóbica, antimachista e anticapacitista. Um passo como este parece microscópico dada a grande mídia e sua atuação, mas certamente não estamos falando de atuação, mas de atualização e, sobre isso, ninguém sabe fazer melhor que as pessoas LGBTI+ em todo mundo. 

    Atualização feita com sucesso!

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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