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    Raimundo Rodrigues Pereira

    Nascido em Exu, Pernambuco, a 19 de setembro de 1940, é formado em Física pela USP e Jornalista profissional desde 1965; foi editor nas revistas Veja e Realidade, da Editora Abril, foi editor-chefe dos semanários Opinião e Movimento de resistência ao regime militar e, mais recentemente, diretor da Editora Manifesto.

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    Uma política tão falsa como uma nota de três dólares

    A visita da presidente da Câmara dos Deputados americana, Nancy Pelosi, a Taiwan

    Nancy Pelosi (Foto: Reuters)

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    Por Raimundo Rodrigues Pereira

    Os americanos sabiam dos riscos que corriam com a visita feita entre a noite da última quarta-feira, dia 3, e a manhã do dia seguinte, à ilha de Taiwan pela deputada Nancy Pelosi, presidente da Câmara de Deputados dos EUA. Ela foi recebida pela governadora da ilha, Tsai Ling Wen. E, tanto os americanos sabiam da gravidade e das eventuais consequências desse ato que, no final de julho, quando se confirmaram as negociações para a atual visita de Pelosi, deslocaram 20% de sua frota de  superbombardeiros especiais - que carregam armas nucleares e têm recursos de proteção contra identificação por radar – de outros locais onde estavam no Pacífico, para a Austrália. A operação terá reduzido em mais da metade o tempo que eles levarão para chegar a Taiwan, caso seja necessário.  

    Além disso, deslocaram das proximidades do Japão para o mar do sul da China, o porta-aviões Ronald Reagan. No extremo sul desse mar, como se sabe, está o estreito de Málaca, a rota de passagem de um dos maiores fluxos de comércio do mundo, do petróleo e de bens industrializados, entre o Oriente Médio do lado subdesenvolvido e a China e o Japão industrializados.

    Não foi a primeira vez que um evento semelhante ocorreu. Em 1995, Li Teng Hui foi recebido nos EUA como presidente de Taiwan em busca do mesmo apoio diplomático, financeiro e militar dos EUA que Tsai Ling Wen buscou agora, com a recepção a Pelosi. A China, então como agora, protestou com armas. Só que a China de hoje, cerca de um quarto de século depois, é outra. A Folha de S. Paulo, comentando entrevista do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos disse que as atuais operações militares da China na quarta e na quinta, na chegada e na partida de Pelosi, já eram “o maior exercício de tiro com munição real” na história do estreito entre a China continental e Taiwan.

    A questão de fundo , no entanto, é que a política americana em relação à China é falsa como uma nota de três dólares. Por um lado diz que reconhece a China como um só país. Por outro, apoia diplomática, financeira - e militarmente, destaque-se - um de seus estados.

    Uma comparação: como se sabe, os Estados Unidos chegaram a deslocar sua frota no Atlântico para o sul, quando eclodiu no Brasil o golpe militar de direita que depôs o presidente João Goulart; imagine que o golpe tivesse fracassado, que Brasil fosse socialista desde então mas, protegida pelos americanos, a direita governasse um estado, a quem os EUA dariam, como fazem em relação a Taiwan, apoio político, diplomático, financeiro e militar!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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