União Europeia mais anti-russa e o perigo da escalada do conflito
Apesar do apoio ao povo ucraniano, o cidadão médio europeu, obviamente, não quer nem pensar numa guerra direta contra uma potência nuclear e energética
Enquanto torcedores se divertem nos estádios alemães com a Eurocopa, em Bruxelas, os líderes europeus definem o futuro do continente após as eleições que marcaram o avanço da extrema-direita. E há um risco que não pode ser desconsiderado: uma escalada da guerra na Ucrânia. A conservadora Ursula von der Leyen foi reconduzida para o segundo mandato à frente da Comissão Europeia, sinal claro que a política anti-russa, colocada em marcha pelo bloco, será intensificada.
A permanência da política alemã é resultado de um acordo entre as forças majoritárias recém-eleitas: conservadores, social-democratas e liberais. O socialista português António Costa assumirá o Conselho Europeu, órgão responsável pela coordenação dos 27 países do bloco. Quem esteve também em Bruxelas durante a distribuição dos cargos foi o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Como de costume, voltou a pedir apoio político, financeiro e militar, e que a Europa “mantenha a pressão sobre a Rússia”.
Para chefiar a política externa da UE nos próximos cinco anos, foi escolhida ninguém menos que a ex-primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, conhecida como a nova dama de ferro do Velho Continente. A liberal é uma das vozes anti-russas mais agudas do continente. À frente do governo, foi uma das primeiras a enviar equipamentos e armas a Kiev e a cobrar sanções contra a Rússia. Também promoveu a remoção de monumentos soviéticos do país báltico. Esta última decisão a incluiu na lista dos principais inimigos de Moscou.
Durante a entrevista coletiva, após a sua indicação, Kallas deu um aperitivo do que está por vir: “Devemos demonstrar com as nossas palavras e ações que o caminho da Ucrânia para a Otan é irreversível. Em segundo lugar, devemos manter a ameaça russa no centro das atenções da Otan. É necessária uma estratégia a longo prazo para combater e conter as ações agressivas da Rússia. Assistimos também a uma política coordenada de atividades híbridas por parte da Rússia em toda a Europa. Há tentativas crescentes de destruir infra-estruturas civis e de sabotar instalações relacionadas”, disse.
Após anunciar 14 pacotes de sanções contra a Rússia e assistir à reeleição de Vladimir Putin com o avanço das tropas russas, a União Europeia acena com uma mudança de estratégia, aumentando o fornecimento militar a Kiev e, inclusive, abrindo a possibilidade de autorizar o uso de armamento contra alvos em solo russo. A polêmica medida, já adotada por Washington, provocou uma forte reação de Moscou na última semana, após um ataque ucraniano a Sebastopol, na Criméia. A Rússia acusou os EUA de serem responsáveis pela investida aérea que matou cinco pessoas e feriu mais de cem.
Apesar do apoio ao povo ucraniano, o cidadão médio europeu, obviamente, não quer nem pensar numa guerra direta contra uma potência nuclear e energética. A ajuda econômica a Kiev também já é questionada em muitos países, fato que foi evidenciado pelo descontentamento do eleitorado nas últimas eleições ao Europarlamento. O presidente francês Emmanuel Macron que o diga. Chegou a falar em enviar tropas à Ucrânia, e foi esfacelado nas urnas. Entre as condições colocadas por Putin para um cessar-fogo está justamente a renúncia da Ucrânia aos planos de entrar na Otan. Portanto, enquanto a UE, a pedido de Washington, insistir na inclusão da Ucrânia no obsoleto organismo militar ocidental, não haverá espaço para um acordo de paz. Quanto mais a UE se torna anti-russa, maior é o perigo de uma escalada militar do conflito.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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