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    Marcelo Zero

    É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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    Unilateralidade Coercitiva x Multipolaridade Cooperativa

    "O futuro da humanidade não cabe mais na ordem mundial coercitiva, míope, obsoleta e desigual do G7", diz Marcelo Zero

    Joe Biden (Foto: Reuters)

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    Num excelente artigo publicado recentemente no site Counterpunch, intitulado “G-7 and BRICS Visions of the Future: Coercive Unipolarity or Cooperative Multipolarity”, Richard Falk, Professor Emérito de Direito Internacional Law da Universidade de Princeton, faz uma pertinente comparação entre esses dois blocos.

    O primeiro, o G7, liderado pelos EUA, teria uma visão de futuro centrada em um unilateralismo coercitivo e belicoso. Já o segundo, o BRICS, recentemente expandido, teria uma visão estratégica centrada, essencialmente, na cooperação multipolar.

    Além de pertinente, a comparação é acertada e precisa.

    Como bem observa Falk, com a queda da União Soviética, EUA e aliados se depararam com a oportunidade histórica de investir em desarmamento, em cooperação, na reforma do Conselho de Segurança e de outras instituições multilaterais, em comércio justo, em abertura aos interesses dos países emergentes etc.

    Entretanto, fizeram o contrário. 

    Aproveitaram a derrocada do principal rival para impor uma ordem mundial estritamente unilateral, moldada, muitas vezes, em sanções econômicas, financeiras e comerciais, e em intervenções militares a rodo, sempre que lhes pareceu conveniente. 

    Criaram uma ordem mundial, a famosa “ordem mundial baseada em regras”, que impunha a todos o alinhamento com seus interesses. Os interesses da única e inconteste superpotência. 

    Até hoje, os EUA não admitem mudanças significativas nessa ordem, que não reflete mais o mundo de hoje.

    Com a ascensão de China, Rússia e outros emergentes, a grande competição pelo poder (mundial) - e não o terrorismo – tornou-se o foco principal da segurança nacional dos EUA.

    E quem são os principais “inimigos” dos EUA nessa competição pelo poder mundial? Está lá escrito com todas as letras na Nuclear Posture Review, a nova política nuclear norte-americana, divulgada em fevereiro de 2018: China e Rússia. Eles e eventuais aliados. 

    Assim, os EUA declararam guerra às novas potências emergentes e à progressiva constituição de uma ordem mundial mais equilibrada e multipolar. Querem sua hegemonia absoluta de volta. Querem a restauração geopolítica da antiga ordem. 

    Tal restauração está fadada ao fracasso. Assim como Metternich, o famoso chanceler austríaco, acabou fracassando na sua tentativa de conter o avanço do liberalismo político na Europa, os EUA fracassarão em conter o avanço inexorável da China, Rússia e outros emergentes. Fracassarão em impedir a liberalização e descentralização da ordem política mundial. Não há como deter a história.

    Para ilustrar seu principal argumento, Falk cita as últimas declarações do G7 e do BRICS.

    Na última reunião, em Hiroshima, a ênfase do G7 foi colocada na guerra na Ucrânia e na decisão de apoiar esse país pelo “tempo que for necessário”. Isto é, continuar a insistir num conflito que sacrifica inutilmente a população ucraniana.

    Em contraste com o G-7, salienta Falk, a Declaração de Joanesburgo do BRICS olha para um mundo de competição pacífica e cooperação global. Trata a Guerra da Ucrânia como um desafio que deveria ser a ocasião para a pacificação diplomática, em vez de uma guerra. O tema mais pronunciado do documento do BRICS é a determinação de se tornar menos dependente dos acordos hegemónicos de segurança global e de comércio/finanças/investimento, mais duramente impostos ao Sul Global após o colapso soviético. 

    Assim como Índia, África do Sul e outros, o Brasil quer ter boas relações com o chamado “Ocidente”. Não quer romper com ninguém. Ao contrário.

    O problema é que o “Ocidente” está “rompendo” com o mundo de hoje, diversificado, complexo e inelutavelmente multipolar. 

    Está rompendo, na realidade, com o único futuro viável do planeta. 

    O futuro pertence à multipolaridade, à cooperação, ao multilateralismo, à paz, às negociações, ao anticolonialismo, ao respeito aos interesses do Sul Global, ao combate universal à fome e às desigualdades, à luta contra as mudanças climáticas, de acordo com as responsabilidades históricas de cada um, etc. 

    O futuro da humanidade não cabe mais na ordem mundial coercitiva, míope, obsoleta e desigual do G7.

    O Brasil está alinhado com esse futuro.

    O Brasil está do lado certo da história. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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