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    Camilo Irineu Quartarollo

    Autor de nove livros, químico, professor de química, com formação parcial em teologia e filosofia.

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    Viva Zumbi!

    Seu espírito encantado volta como fantasma contra opressores e indecisos

    Monumento Zumbi dos Palmares (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

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    Palmares foi um dos maiores quilombos do Brasil, no período de 1580 a 1695. Era uma república de nove aldeias sob o comando de líderes africanos, multirracial, onde conviviam ameríndios, brancos e minorias étnicas perseguidas como judeus, mouros e outros, fugidos da Justiça ou não, e aceitos na comunidade da Serra da Barriga, então capitania de Pernambuco, estabelecido na Zona da Mata, em fortalezas, chegando a mais de vinte mil habitantes.

    A partir de 1670, após a expulsão dos holandeses, Portugal implementa de forma sistemática a destruição física e simbólica de Palmares, com ataques quase anuais contra as aldeias ao alto e cercadas por paliçadas, de acesso difícil.

    Zumbi resiste, mas os portugueses já tinham engambelado Ganga Zumba em 1678, por um armistício assinado. Parte dos palmarinos abandonaram a Serra da Barriga e foram habitar Cucaú, onde se prometia terras férteis e alforria a todo mundo, desde que se tornassem súditos do rei – uma forma de “fazer a cabeça” do pobre. Ora, Cucaú era uma planície! Propícia a ataques, terra estéril e sob vigilância, lá foram novamente escravizados e Ganga Zumba pagou com a vida.

    Em Palmares, o jovem Francisco se torna Nzumbi, sinônimo de fantasma no idioma originário, e o foi no campo de batalha. Não cedeu à armação político-ideológica da época. 

    O preço da guerra já era alto a Portugal e numa carta de 1685, o rei promete perdão e proteção a Zumbi e a seus guerreiros, ao que, é certo, o líder recusou. Num papo de cerca-lourenço o rei quer convencer a Zumbi que entende a sua rebeldia por ser maltratado por “alguns maus senhores”, aos quais o rei discordava e, assim, oferecia a sua proteção real – o rei “purinho” joga nos senhores mais essa! O rei quer se eximir pela falsa ideia de que havia bons e maus senhores no sistema injusto da escravidão. Zumbi não engoliu essa! Palmares, sob o seu comando enfrentou o carniceiro Domingos Jorge Velho, e não traiu os seus orixás, na máxima: “Bi omodé bá da ilè, ki o má se da Ògún”, ou, uma pessoa pode trair tudo na terra, só não deve trair Ogum. Zumbi lutou nas matas embrenhadas. Foi perseguido, traído, achado, morto e decapitado, mas seu espírito encantado volta como fantasma contra opressores e indecisos.

    Ainda nos apresentam à exaustão outras cucaús em meias verdades, sob engodos de proteção e segurança. Depois enfiam as leis desfavoráveis, restrições ou retirada de direitos sociais e trabalhistas, sucateamento das empresas públicas ou que se aceitem a violência como forma de proteção. Tudo começa nas eleições, na qual vêm como os reis, para “fazer a cabeça” de incautos e iludir pelos disparos no whatsapp e, no fim, ganhar por W.O. Depois de eleitos pisam no povo e nos mais indefesos. Oxalá persista o juízo crítico de Zumbi – Palmares deve resistir sempre. Cucaú nunca mais. Viva Zumbi!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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