César Fonseca avatar

César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

691 artigos

HOME > blog

Wall Street em crise financeira quebra Argentina e ameaça Brasil

Crescem possibilidades de Brasil e Argentina apelarem para créditos-ponte emergenciais aos bancos públicos de investimentos da China

Luiz Inácio Lula da Silva e Alberto Fernández (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

O aprofundamento da crise bancária nos Estados Unidos, que o governo Biden tenta esconder, com cumplicidade da mídia conservadora, está, literalmente, quebrando a Argentina, ao mesmo tempo em que ameaça, igualmente, o Brasil, cujos presidentes Lula e Fernandez se reúnem, extraordinariamente, nessa terça feira, em Brasília, para ver o que podem fazer, diante da crise de liquidez em dólar, que ameaça, inclusive, as contas públicas americanas, nesse momento; o império está na corda bamba.

A bancarrota do Silicon Valley Bank, há algumas semanas, seguida do estouro do First Repúblic Bank, semana passada, ambos engolidos pelo JP Morgan Chase, maior banco americano, sob pressão do FED, produz crise de credito, cujas consequências se espraiam pelo mundo afora, especialmente, na América Latina.

Caminha o sistema bancário americano para a oligopolização total, especialmente, depois que o Morgan Chase foi obrigado, na operação que o levou a comprar os dois bancos falidos, a participar, também, da negociata que obrigou o governo suíço a comprar o Credit Suisse, cuja carteira apodreceu, visto que sua clientela majoritária operava com o Sillicon Valley.

A crise fiscal, que é manchete permanente na mídia americana, abala a confiança no dólar que, por sua vez, desarticula as economias capitalistas periféricas, como a da Argentina, incapaz de cumprir os compromissos acertados entre FMI e o ex-governo ultraneoliberal de Macri; este deixou herança financeira impagável, agravada pela seca violenta que assola o país, acelerando inflação para 120% ao ano; trata-se, portanto, de crise produzida não de dentro para fora, mas, ao contrário de fora para dentro, enquanto a mídia conservadora pró-americana tenta inverter os termos do problema.

Graças a essa crise financeira nos Estados Unidos, que corta o crédito dos clientes do FMI incapazes de atender suas condicionalidades que impõe, o governo Fernandez abriu o bico e desistiu de disputar reeleição.

O desespero toma conta da Argentina; a vice-presidente senadora Cristina Kirchner fez hoje discurso bombástico considerado, pelo FMI, de “descabelado”, ao propor renegociação radical em que se fixa limite para pagamento da dívida e juros, antes que a economia entre em falência, como já é cantada em prosa e verso na Argentina.

BRASIL NO MESMO BARCO

Nesse contexto, a economia no Brasil caminha, também, para situação crítica, não por escassez de dólar, como acontece com a Argentina, pois, afinal, Lula e Dilma deixaram reservas cambiais suficientes para cumprir com compromissos externos; aqui, a questão central decorre da ação do Banco Central Independente(BCI), que se descolou do governo brasileiro e da problemática econômica interna, potencialmente, recessiva, para atender regras Banco de Compensações Internacionais(BIS), Banco Central dos Bancos Centrais, o qual obedece, diretamente, ao Banco Central dos Estados Unidos, envolvido, até o pescoço, na crise bancária americana, limitando oferta de crédito de forma generalizada.

O presidente do BCI, Campos Neto, nesse sentido, responde ao presidente do BC americano e não a Lula, para impor ao Brasil regra fiscal e monetária que impede queda da taxa de juros e, consequentemente, inviabiliza oferta de crédito na economia; ninguém, como tem reiterado o presidente, investe no Brasil para perder dinheiro, com juro ascendente de 13,75%, diante de inflação cadente de 5,5%, devido à insuficiência de demanda na economia, levando-a ao subconsumismo.

O BC insiste na ficção monetária segundo a qual a inflação decorre de excesso de demanda, quando o poder de compra dos salários está em queda; para combater essa ficção, insiste em aumentar os juros e não em diminuí-los para aumentar oferta de produção de modo a derrubar os preços conforme economia de mercado; o presidente do BC Independente atua para gerar oligopólio do dinheiro em suas mãos limitando a oferta que eleva os juros e não a competição econômica.

BANCARROTA POLÍTICO-ELEITORAL

O FMI se iguala ao BCI na tarefa de parar as economias brasileira e argentinas, mal vistas pelo governo Biden, porque se articulam para realizar entre si comércio bilateral em moedas locais – peso e real –, em sintonia com acordos que tentam fechar com a China, adversária maior dos Estados Unidos.

O temor de Washington de perder para a China o mercado latino-americano leva o FMI e o BCI a trancarem o crédito para Brasília e Buenos Aires, no compasso da crise financeira americana, que reduz oferta de dólar para o exercício normal das atividades econômicas brasileira e portenha.

O resultado político, para Lula e Fernandes, é bomba de efeito retardado, porque sem condições de cumprir promessas que ambos fizeram em suas campanhas eleitorais, de aumentarem demanda de crédito para alavancar desenvolvimento sustentável, não terão futuro político diante da oposição favorecida pelo caos financeiro que vai tomando conta de Wall Street.

SITUAÇÃO CAÓTICA INTERNA AMERICANA

Biden e os bancos americanos estão numa enrascada; carência de crédito para abastecer não apenas a praça global, mas, principalmente, a praça americana; sob pressão do Congresso, para se submeter a um teto de gastos para a dívida pública americana, Biden está sob o risco semelhante ao que enfrenta o presidente argentino, obrigado a abandonar corrida eleitoral, se, nos Estados Unidos, a vaca for para o brejo.

O Congresso fixou limite de 2,5 trilhões de dólares para novas emissões, sob pena de deixar Biden sem dinheiro para pagar despesas públicas essenciais, bem com os juros da dívida. Os democratas estão certos de que conseguirão aprovar a expansão do teto, para o Estado não entrar em falência. Sempre que tal situação se apresentou, os partidos democrata e republicano decidiram em favor da suficiência do Estado para resolver os problemas internos.

O buraco, agora, é mais embaixo; não é apenas a resistência dos republicanos,  mas a desconfiança do mercado em relação ao dólar, em face da crise bancária que avança; agrava, ainda, a situação de perda da corrida americana na disputa com a China; os investidores passam a buscar segurança para seu dinheiro não mais em Wall Street, mas em Xangai, optando pela moeda chinesa em vez da moeda americana, ameaçada pela crise bancária.

CHINA VIRA SALVAÇÃO DE BRASIL E CHINA

Trata-se de desconfiança internacional no dólar por estar perdendo para a China a corrida econômica, financeira e política global.

Cresce, por isso, a tendência de Brasil e Argentina acelerarem opção pelos créditos chineses oferecidos por bancos públicos, controlados e organizados pelo Partido Comunista, em vez de buscarem o que não existe mais, ou seja, os fartos créditos americanos oficiais e privados.

Estes, com a pressão inflacionária decorrente da desconfiança no dólar, só são operados mediante condicionalidades impostas aos credores, impossíveis de serem suportadas.

Crescem, nesse cenário, possibilidades de Brasil e Argentina apelarem para créditos-ponte emergenciais aos bancos públicos de investimentos da China – envolvendo, inclusive e principalmente, os Brics.

Brasil e Argentina, dessa forma, estão, financeiramente, à beira do abismo, diante da bancarrota de bancos americanos.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: