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    Fernando Rosa

    Fernando Rosa, jornalista, editor do blog Senhor X, especializado em geopolítica.

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    Xepa neoliberal

    Ao Brasil se impõe um profundo e radical projeto de refundação econômica, industrial, tecnológica, militar, institucional e de informação. Sem isso, o país seguirá sendo uma colônia agrícola exportadora de ‘commodities’, com sobra da xepa para os pobres

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    De boas intenções o inferno está cheio, diz o ditado popular. Na política nacional, e mundial, a versão do ditado atende pelo nome de “combate à desigualdade”. Na verdade, se trata da mais nova fraude política do new-liberalismo. A tentativa de buscar a sobrevida.

    Migalhas dormidas do teu pão
    Raspas e restos
    Me interessam
    Pequenas porções de ilusão
    Mentiras sinceras me interessam
    (Cazuza)

    O novo placebo neoliberal chegou ao Brasil no final de 2019, pela boca dos tucanos que bancaram o golpe de Estado, em 2015/16. Em outubro, em artigo na Folha de S. Paulo, Armínio Fraga lançou o discurso do “combate à desigualdade”. A orquestra, então, entrou em ação.

    “Há no ar uma sensação difusa de injustiça social e frustração”, referindo-se a situação do Chile naquele momento, onde, segundo ele, “o Consenso de Washington no final das contas parecia ter dado certo”, disse o trombeteiro da novidade imperial. As palavras de Armínio ganharam as telas da Rede Globo e outros espaços nobres.

    Atrás de Armínio Fraga, vieram dezenas de “madalenas”, incluindo todos que criticam Bolsonaro, mas que defendem a política econômica privatista e ultra-neoliberal do ministro Paulo Guedes. Uma lista que vai de Paul Leman, passando por Luciano Huck, Fernando Henrique Cardoso e vários porta-vozes de bancos.

    A posição reverbera a orientação internacional do sistema financeiro e das grandes corporações. Em agosto daquele ano, a Business Roundtable, que reúne 181 CEOs das maiores empresas do mundo, revisou a posição sobre a atuação de seus “associados” junto aos mercados mundiais.

    Antes voltada para a maximização dos lucros dos acionistas, a associação passou a defender que todos sejam beneficiados – “clientes, funcionários, fornecedores, comunidades e acionistas”. A nova posição, na verdade, tinha o objetivo de alertar os operadores internos sobre os limites da espoliação internacional.

    A questão, portanto, não é combater a desigualdade, como defendem os novos neoliberais. A crise mundial chegou a uma situação em que apenas “mitigar” a pobreza não aplacará a explosão social. É preciso romper com a super-exploração do sistema financeiro. A pandemia apenas turbinou a revolta futura.

    A nova realidade exige a conquista da verdadeira igualdade, sem meias-palavras, ou tergiversações acadêmicas. A riqueza do mundo está concentrada nas mãos de 1% de multimilionários. Eles detém o equivalente ao acumulado por outros 99% dos demais seres humanos. Não existe “almoço grátis” neste banquete.

    O “combate à desigualdade” apenas disfarça a necessidade de mudanças estruturais nas relações econômicas.  Submeter-se à sua lógica afasta o povo e os trabalhadores do centro da disputa política real. A versão “lata -velha” do neoliberalismo só interessa a quem, na realidade, nada quer mudar.

    Ao Brasil se impõe um profundo e radical projeto de refundação econômica, industrial, tecnológica, militar , institucional e de informação. Sem isso, o país seguirá sendo uma colônia agrícola exportadora de ‘commodities’, com sobra da xepa para os pobres. Parafraseando a canção, a gente quer comida, mas também uma Nação e poder.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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