“Precisamos desemparedar os alunos e oferecer experiências práticas na natureza”, defende educadora

Beatriz Bevilaqua, 247 - Qual é o papel da educação ambiental na conscientização coletiva? Quais são os desafios e as soluções possíveis quando confrontamos teoria e prática? Neste episódio, entrevistamos Irene Reis, fundadora da Reinventando a Educação, uma iniciativa que busca revolucionar a educação brasileira, gerando impacto e promovendo responsabilidade para o futuro das próximas gerações.

A especialista critica a abordagem tradicional dos passeios pedagógicos, frequentemente voltados para o entretenimento, como visitas a parques temáticos, em detrimento de experiências formativas. “Ir a uma comunidade quilombola ou indígena é uma saída para uma aprendizagem sobre o legado dos povos ancestrais, algo urgente. Mas, como a escola é percebida como um ambiente chato, prefere-se priorizar a diversão”, afirma.

Ela também destaca a desconexão entre teoria e prática no ensino de temas como biodiversidade. “Falamos sobre árvores abrindo a página do livro, mas não levamos as crianças para vê-las. Como podemos ensinar preservação ambiental sem práticas concretas?”, questiona.

Além disso, Irene ressalta que a formação dos professores também carece de vivências práticas. “Nós, professores, não fomos formados nesse paradigma. Precisamos de uma escola produtora de conhecimento, que promova experiências reais, não apenas a leitura de livros didáticos.” Segundo ela, é fundamental desmurar a educação, transformando-a em uma ferramenta prática e conectada à realidade.

Ela cita como exemplo o trabalho de Rafael Flores, historiador, guia de turismo e pedagogo, que desenvolve atividades de desemparedamento em Ubatuba. "Rafael promove saídas pedagógicas e vivências para professores e alunos, mostrando a história, biodiversidade e ecossistema da região de forma prática. Após essas experiências, é impossível não se tornar um defensor ativo da preservação ambiental", explica.

Para ela, o contraste entre o aprendizado teórico e vivencial é significativo. "Uma abordagem é o meio ambiente no livro; outra é vivê-lo, criando memórias afetivas que inspirem a defesa desses espaços. Essa conexão é fundamental, mas ainda rara nas escolas brasileiras", explica.

Como reinventar a educação?

Edgar Morin, renomado filósofo francês e um dos maiores pensadores contemporâneos, continua a inspirar gerações com sua visão inovadora sobre a educação. Morin coescreveu, junto ao professor cubano Carlos Delgado, o livro “Reinventar a Educação: Abrir Caminhos para a Metamorfose da Humanidade”. Essa obra, escrita originalmente em espanhol, ganhou uma versão brasileira graças à tradução da nossa entrevistada, Irene Reis.

“Morin defende uma educação que ensine a viver em tempos tão diferentes dos que vivemos no passado. Por exemplo, a maneira como nossas mães cuidaram de nós já não serve plenamente para educar os filhos de hoje”, explica Irene. Esse pensamento foi uma das inspirações para a fundação da Reinventando a Educação, projeto que a Irene lidera e se compromete com a transformação do ensino.

“A tecnologia nos hiperestimula de uma forma que gerações anteriores não experimentaram, enquanto nosso contato com a natureza é cada vez mais limitado”, destaca Irene. Essa desconexão tem contribuído para o surgimento de fenômenos como a eco-ansiedade, um tipo de angústia relacionada às preocupações constantes com eventos climáticos extremos e a sensação de impotência frente às questões ambientais.

Irene explica que a eco-ansiedade é agravada pela dissociação entre o indivíduo e a solução dos problemas. “Quando nos sentimos separados das soluções, nosso senso de impotência cresce. É essencial reverter essa dinâmica, resgatando a conexão entre o eu e as ações necessárias para enfrentar os desafios ambientais”, conclui.

Assista a entrevista na íntegra aqui: