Abin se surpreende com violência em protestos
Mesmo tendo produzido mais de 100 relatórios sobre a Copa das Confederações e criado centros regionais em cada cidade-sede, para cuidar dos eventos mundiais, o tamanho das manifestações não foi previsto pela Agência Brasileira de Inteligência, assim como o grau de violência; "Inteligência não é adivinhação nem exercício de futurologia", diz o diretor-geral da Abin, Wilson Roberto Trezza
247 – Apesar de ter criado Centros de Inteligência Regional nas cidades-sede e produzido mais de 100 relatórios sobre a Copa das Confederações, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) se surpreendeu com o tamanho e o grau de violência das manifestações que tiveram início há mais de duas semanas em todo o País. "Inteligência não é adivinhação nem exercício de futurologia", justifica o diretor-geral da Abin, Wilson Roberto Trezza, em entrevista ao jornal Valor Econômico (leia a íntegra).
Trezza afirma que a Agência havia, sim, "detectado, há meses, a possibilidade de manifestações", uma vez que em todos os lugares do mundo onde foram realizados grandes eventos, houve também manifestações. Além do grupo "Copa pra Quem?", diz ele, outros movimentos já tinha sido identificados como possíveis organizadores de protestos. "Mas essa grande manifestação surgiu principalmente de um crescimento absolutamente inexplicável e inesperado do Movimento Passe Livre", explica.
"Se você me perguntasse no primeiro dia, em que 200 pessoas se reuniram, se eu seria capaz de dizer que, uma semana depois, teríamos 300 mil pessoas na Candelária [no Centro do Rio de Janeiro], ninguém seria capaz de dizer. Inteligência não é adivinhação nem exercício de futurologia, é uma atividade técnica. Você trabalha com base em dados disponíveis", afirmou o diretor da Abin. Ele diz não saber se a presidente Dilma Rousseff foi alertada sobre os protestos porque a Agência se reporta ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Quanto à possível insatisfação da presidente, que teria reclamado por não ter sido avisado das manifestações pela Abin, Trezza voltou a dizer que "não despacha com a presidenta". Questionado sobre o fato de o GSI não ter sido chamado para discutir as respostas do governo às manifestações, ele disse que "é uma decisão da presidenta", e que "só ela poderia dizer", mas acredita que ela não queira envolver o gabinete pessoal nessas questões.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
Sobre o risco de violência ter sido informado ao governo federal
Não chegou a ser comunicado ou estimado com meses ou anos de antecedência, mas à medida que começou a acontecer o primeiro evento, a inteligência começou a perceber o potencial de crescimento.
Nós temos inteligência para uso tático e operacional, e temos a inteligência estratégica, de Estado. Esta interessa ao grande processo decisório. No nível estratégico, elaboramos relatórios de inteligência. Os dados são encaminhados ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, a quem somos subordinados.
Como essas manifestações representam um risco político, não seriam objeto de interesse da Presidência?
Eu posso encaminhar o relatório de inteligência para o ministro-chefe do GSI e ele entender que não precisa necessariamente entregar o relatório, ou ele pode reportar o fato à presidenta da República. Agora, se me perguntar quais dos cento e poucos relatórios que produzimos foram encaminhados ou se sentaram pra conversar, não sei dizer.
Ainda que a presidenta não recebesse nosso relatório, se quatro ou cinco ministros envolvidos na questão receberem, isso será objeto de deliberação. Essas informações foram trocadas com todas as estruturas envolvidas com os grandes eventos.
Dificuldades identificadas em relatórios
Temos dificuldade, por exemplo, com vias de acesso, em eventual necessidade de evacuação do estádio. De maneira geral, os estádios no Brasil não foram concebidos para os grandes eventos, alguns ficam no centro da cidade. O que fazemos é prever todas as situações que poderiam configurar risco ou dificuldade, e sugerimos soluções para mitigar ou eliminar o risco. Levantamos potenciais vulnerabilidades das infraestruturas estratégicas, na rede hoteleira, nos trajetos percorridos pelas delegações, nos centros de treinamento, nos estádios.
Havia previsão sobre a vaia em Brasília?
Havia. Isso aconteceu no Panamericano, já virou praxe. Mas eu acho que as pessoas estão dando uma importância muito grande para a vaia. Eu estava no estádio, o público vaiou até a seleção brasileira. Qualquer pessoa que estivesse responsável pela abertura do evento possivelmente seria vaiada.
As manifestações continuarão ocorrendo?
Pelos dados que temos hoje, continuarão. Mas amanhã, dependendo das medidas adotadas pelo Congresso e pelo Executivo, isso pode não ser mais verdadeiro. Temos previsões de grandes paralisações do início de julho até o dia 10 a 13.
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