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Bolsonaro distorce dados e atribui queda de assassinatos à liberação de armas; especialistas negam

A diminuição dos assassinatos retoma a tendência de queda registrada no país desde o balanço de 2018, antes mesmo de Jair Bolsonaro assumir o governo

(Foto: Reuters)

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247 - Conversando com apoiadores nesta segunda-feira, 21, Jair Bolsonaro atribuiu a queda de assassinatos no Brasil à sua política de flexibilização do porte de armas. Ao G1, no entanto, pessoas ligadas à área de segurança pública explicam que, na verdade, são outras as causas para a queda.

Nesta segunda, o projeto Monitor da Violência, em parceria com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontou que o número de assassinatos caiu 7% em 2021 na comparação com 2020. Foram registradas 41,1 mil mortes violentas intencionais no país, menor número de toda a série histórica do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que coleta os dados desde 2007.

“Vocês viram que o número de homicídios por arma de fogo caiu ao menor número histórico, né? A imprensa não fala que, entre outras coisas, a liberação das armas para o pessoal de bem, o cara pensa duas vezes antes de fazer uma besteira. Agora, se tivesse aumentado, quem era o culpado? [risos]. Não precisa dizer”, disse Bolsonaro a apoiadores no Palácio da Alvorada.

No entanto, a diminuição dos assassinatos retoma a tendência de queda registrada no país desde o balanço de 2018. Portanto, a queda começou antes mesmo de Bolsonaro assumir o governo. Essa tendência só foi interrompida em 2020, quando houve alta de 5%.

Em 2017, houve recorde de assassinatos que foi provocado por uma guerra entre facções em diversos estados brasileiros, segundo Bruno Paes Manso, do NEV-USP. Segundo ele, a principal influência para haver queda ou diminuição no número de assassinatos depende das dinâmicas do crime organizado, responsável pela maior parte das mortes violentas.

Ele afirma que o aumento da venda de armas e munições no mercado não influencia essa tendência. “Essa tendência de queda pode ocorrer a despeito do aumento da venda de armas e munições no mercado. As armas e munições legais e ilegais — que são desviadas e ingressam no mercado do crime — não causam, isoladamente, variações nas taxas", afirma. 

De acordo com Manso, isso afetaria apenas homicídios circunstanciais, não alterando efetivamente o conjunto dos assassinatos. “Tendem a aumentar os homicídios circunstanciais, em bares, boates e no trânsito, por exemplo, e os feminicídios. Mas não afetam necessariamente as dinâmicas criminais nos estados”, afirmou.

Já Samira Bueno, diretora do FBSP, disse que a redução das armas em circulação ajudam a desacelerar a violência. “Diferentes estudos científicos demonstram o papel do controle de armas na desaceleração da violência no Brasil. No Atlas da Violência de 2020 demonstramos que, no período anterior ao Estatuto do Desarmamento (2003), o ritmo de crescimento dos homicídios no Brasil era 6,5 vezes superior ao observado a partir de 2004. Estima-se que, entre 2004 e 2014, a política de controle de armas tenha sido capaz de poupar 135 mil vidas, um legado importante para a compreensão do cenário aqui analisado, e que está em risco em função das medidas recentes de flexibilização do controle de armas por parte do governo federal”, diz ela.

“Com a facilitação para aquisição de armas e munições, facilita-se o desvio de armas legais para as mãos de criminosos, prejudica-se a capacidade investigativa das forças policiais e aumenta-se o risco de conflitos, muitas vezes banais, tornarem-se tragédias, como brigas de trânsito”, diz.

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