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Cinco pontos para entender o esquema de vendas de joias de Bolsonaro investigado pela PF

A ação se baseia em um vasto conjunto de evidências que indicam fortes indícios de desvio de bens de elevado valor patrimonial por parte dos colaboradores do ex-presidente

Jair Bolsonaro e joias em site de leilão (Foto: Reuters | Reprodução)

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247 - A Operação Lucas 12:2, desencadeada na sexta-feira (11) pela Polícia Federal (PF), expôs ações de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que teriam comercializado joias e outros itens de valor adquiridos durante viagens oficiais da Presidência da República. Investigadores estão buscando esclarecer se os presentes oficiais foram deliberadamente ocultados do acervo público e negociados para beneficiar financeiramente o ex-presidente.

Na mira da operação desta sexta-feira estão figuras como o general Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid, o advogado Frederick Wassef, que atuou como representante legal do ex-chefe do Executivo, e o tenente Osmar Crivelatti, que, tal como Mauro Cid, exerceu a função de auxiliar de Bolsonaro.

A ação, autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, se baseia em um vasto conjunto de evidências e denúncias, compreendendo 105 páginas, que indicam fortes indícios de desvio de bens de elevado valor patrimonial por parte dos colaboradores do ex-presidente. O jornal O Estado de S. Paulo resumiu em cinco pontos essenciais o esquema sob investigação pela PF. Acompanhe:

Modus operandi das transações - As transações objeto de investigação consistem na comercialização de presentes que Jair Bolsonaro recebeu durante o exercício de seu cargo como presidente. Estas peças deveriam ter sido incorporadas ao patrimônio público, porém teriam sido deliberadamente omitidas dos registros oficiais, sendo incorporadas ao acervo pessoal do ex-chefe do Executivo e posteriormente negociadas, visando ao enriquecimento ilícito.

Comunicações obtidas pela Polícia Federal sugerem que Mauro Cid contou com auxílio de seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, para efetuar a negociação das peças e transferir os fundos das vendas. A figura do general se evidencia em uma fotografia usada como barganha para um item que o ex-presidente havia recebido durante uma viagem oficial.

O envolvimento do pai de um ex-auxiliar de ordens coloca em foco os altos escalões das Forças Armadas. Lourena Cid foi colega de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) durante a década de 70. Em nota à Coluna do Estadão, o Exército reforçou sua não-conivência com qualquer conduta imprópria de seus membros.

Natureza dos itens comercializados - Até o momento, a PF identificou transações relacionadas a dois conjuntos de joias da marca suíça Chopard, duas esculturas douradas e um relógio da marca Patek Philippe. Não se descarta, contudo, a possibilidade de mais itens terem sido apropriados indevidamente. Isso se deve ao fato de ter sido interceptada uma mensagem entre assessores do ex-presidente que sugeria que a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, teria "desaparecido" com um pacote de itens preciosos.

As duas esculturas douradas foram aparentemente levadas por Bolsonaro em 30 de dezembro de 2022, dois dias antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente. A investigação aponta que, após chegarem aos Estados Unidos, esses itens foram encaminhados a lojas especializadas nos estados da Flórida, Nova Iorque e Pensilvânia, para avaliação e possível venda por meio de leilões ou venda direta.

Um dos itens vendidos foi um relógio Rolex dado a Bolsonaro pelo rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdulaziz Al Saud, durante uma visita oficial ao país em 2019. A venda teria ocorrido em junho de 2022, enquanto Bolsonaro estava nos Estados Unidos. Em um e-mail para um possível comprador, Cid afirmou que o relógio valia R$ 60 mil e assegurou que o item estava "nunca utilizado".

Benefício financeiro ao ex-presidente - Conforme apontado pela PF, os recursos provenientes das vendas foram convertidos em dinheiro físico e incorporados ao patrimônio pessoal de Jair Bolsonaro, usando intermediários e evitando o sistema bancário tradicional, com o intuito de mascarar a origem, posse e rastreabilidade dos valores. Mensagens datadas de janeiro deste ano, entre Mauro Cid e Marcelo Câmara, assessor especial da Presidência, revelaram a existência de US$ 25 mil possivelmente pertencentes a Bolsonaro.

Cid mencionou: "Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em 'cash' aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente. (...) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...). Acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?". 

A investigação também revelou que, durante sua estadia nos Estados Unidos após o término de seu mandato, Bolsonaro optou por não levar consigo duas esculturas oferecidas pelo pai de Mauro Cid, devido ao valor insignificante das peças, supostamente feitas de latão. Cid explicou: "Não. Ele [Bolsonaro] não pegou porque não valia nada. Então tem aqueles dois maiores: não valem nada. É, é... não é nem banhado, é latão. Então meu pai vai levar pro Brasil na mudança".

Operações de recompra nos EUA para dificultar a investigação - A ligação do esquema com os Estados Unidos envolve a participação de Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, que teria sido encarregado de viajar ao país com o propósito de recomprar um relógio Rolex que fazia parte de um pacote presenteado ao ex-presidente pelo governo saudita. A recuperação desse item teria ocorrido em março deste ano, após o Estadão divulgar que Bolsonaro havia recebido o pacote sem declará-lo à Receita Federal. Antevendo que a imprensa e os órgãos de investigação poderiam rastrear outros presentes negociados ilegalmente. O ex- ajudante de ordens foi responsável por recuperar o restante das joias do kit – anel, abotoaduras, um rosário islâmico (“masbaha”). A recompra teria acontecido em uma loja localizada no complexo Seybold Jewelry Building na cidade de Miami, na Flórida.

Cristiano Piquet teria transportado joias - As provas obtidas pela Operação Lucas 12:2 incluem a participação do empresário do ramo imobiliário Cristiano Piquet. Segundo os investigadores, coube a Cristiano fazer o transporte das joias que estavam nos Estados Unidos para a sua casa em Miami. “É, eu pensei de deixar com o [Cristiano] Piquet pra ele descer pra Miami com esse material. Tinha como engrenar aí pra buscar com o Coronel Camarinha essa mala e entregar por Piquet amanhã, meio-dia?”, perguntou Mauro Cid em uma conversa com Marcelo Câmara. Piquet é um empresário do ramo imobiliário e ajudou diretamente a equipe de servidores da Presidência a encontrar um imóvel para a estadia do ex-presidente em Orlando, na Flórida, onde Bolsonaro ficou do dia 30 de dezembro até 29 de março, quando retornou ao Brasil.

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