Eduardo Moreira diz que desastre do governo Bolsonaro é um projeto: 'pare de atrapalhar o País'
Em carta aberta a Jair Bolsonaro, o economista Eduardo Moreira critica as prioridades do governo; "Às vezes chega a parecer que o desastre deste governo não é uma possibilidade, é um projeto", diz ele; "Queremos confrontar ideias, expor argumentos e convocar a nação a participar da construção do melhor caminho. Por favor, pare de atrapalhar"
247 - O economista e ex-banqueiro Eduardo Moreira escreveu nesta segunda-feira, 5, uma carta aberta a Jair Bolsonaro em que aponta uma série de prioridades que o País precisa retomar, como a geração a de emprego e as reformas da Previdência e tributária.
Mas o governo perde tempo com questões sem importância para o País, aponta Moreira. "Às vezes chega a parecer que o desastre deste governo não é uma possibilidade, é um projeto. Um projeto, porém, que não nos interessa, nem aos de esquerda, nem aos de direita e tão pouco aos do centro. Queremos todos um país melhor. Acreditamos em caminhos diferentes. Estamos prontos para debater, com a firmeza e veemência que forem necessárias, sempre dentro das regras democráticas e da lei", diz o economista na carta.
"Por favor, pare de atrapalhar. E tenha a coragem de deixar que as discussões que importam, aconteçam. O país que o destino quis que você governasse é muito mais corajoso, capaz e honrado do que você imagina", diz Eduardo Moreira.
Leia, abaixo, a carta na íntegra:
Caro Presidente,
Estamos preparados e abertos a discutir o que é o melhor para o nosso país. Temos total clareza quanto ao momento histórico frágil e sofrido que atravessamos. Em todo o Brasil, são dezenas de milhões de pessoas sem emprego e sem esperança aguardando desesperadamente que este debate aconteça. Aliás, já há aqui um primeiro recado importante: nós acreditamos no debate. Num debate justo, honesto, transparente e corajoso. Um debate sobre caminhos e ideias.
Já foi dito que o oposto de toda verdade é também uma verdade. Talvez por isso, as discussões costumem acontecer com as partes que se enfrentam certas de que seus argumentos são superiores e incontestes. E é essa a beleza do debate. Permitir que o bom combate de argumentos termine por desaguar num caminho maduro, robusto, e com mais chances de sucesso. Sucesso que beneficia a todos.
E não nos faltam importantes temas para debater. Como a Seguridade Social, que de um lado recebe críticas dos que a acusam de ser um modelo insustentável que drena os recursos do orçamento público e do outro aqueles que a veem como a mais importante rede de proteção social no Brasil, responsável por fazer com que a pobreza na velhice seja quase inexistente. Ou a Reforma Trabalhista, que empresários veem como uma forma de simplificar as relações de trabalho, incentivando assim novos investimentos, enquanto trabalhadores veem como a perda da garantia que terão o mínimo de proteção numa relação de poder já incrivelmente desequilibrada entre patrões e empregados neste que é um dos países mais desiguais do mundo. Temos ainda a questão tributária, tão importante num dos países que menos eficiência e justiça têm no seu modelo. Mesmo aqui temos correntes diferentes de pensamento que querem e precisam ser ouvidas. De um lado os que acreditam que devemos desonerar a produção e os ganhos do acionista ainda mais, para assim incentivar o crescimento da atividade econômica e gerar empregos, enquanto do outro estão aqueles que acreditam que devemos fazer com que nossa carga tributária passe a ser progressiva tributando mais os ricos e menos os pobres, redistribuindo riqueza e oportunidades, como ocorre na maior parte do mundo desenvolvido. Há ainda inúmeras outras discussões importantes, sobre o agronegócio, a educação, a cultura, tecnologia e tantos outros assuntos que certamente ditarão nosso sucesso ou fracasso como nação.
Mas o senhor e parte de sua equipe parecem escolher outros temas para discutirmos. Gastam nosso tempo e energia discutindo a absurda indicação de seu filho para a mais estratégica embaixada brasileira no exterior quando todos sabemos que existe toda uma carreira necessária a ser seguida para ocupar tal cargo. Discutindo as demissões arbitrárias conduzidas pelo seu governo de todos aqueles que lhe trazem notícias ruins, quando sabemos que a morte dos mensageiros não mata junto as notícias que trazem. Discutindo as cores das roupas que nossos filhos devem usar num mundo onde nossos filhos têm acesso às informações que quiserem a partir de qualquer tablet ou celular. Discutindo se existe ou não aquecimento global, enquanto o resto do mundo discute o quanto tempo ainda nos resta se não resolvermos este problema. Discutindo se é correto ou não cortar cabeças de presos ou “atirar na cabecinha de favelados”, quando a lei já é clara quanto ao que pode ou não ser feito no combate ao crime. Discutindo se o próximo ministro do supremo será um pastor, quando todos sabemos que nosso estado é laico.
Às vezes chega a parecer que o desastre deste governo não é uma possibilidade, é um projeto. Um projeto, porém, que não nos interessa, nem aos de esquerda, nem aos de direita e tão pouco aos do centro. Queremos todos um país melhor. Acreditamos em caminhos diferentes. Estamos prontos para debater, com a firmeza e veemência que forem necessárias, sempre dentro das regras democráticas e da lei. Queremos confrontar ideias, expor argumentos e convocar a nação a participar da construção do melhor caminho. Por favor, pare de atrapalhar. E tenha a coragem de deixar que as discussões que importam, aconteçam. O país que o destino quis que você governasse é muito mais corajoso, capaz e honrado do que você imagina.
Eduardo Moreira
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