Preso diz que PF o forçou a mudar versão sobre grampo em cela de Youssef

247 — A CNN teve acesso exclusivo a áudios nos quais Ailton Silva, médico veterinário preso na carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba em 2014, relata ter presenciado a instalação de uma escuta ilegal na cela do doleiro Alberto Youssef. Ailton Silva afirma ter sido forçado a mudar sua versão sobre o ocorrido após ser ouvido pela PF mais de uma vez.

Segundo o relato de Silva, ele testemunhou o processo de preparação das celas para os novos detentos da Operação Lava Jato. Ele observou a movimentação de agentes que quebraram um cadeado e instalaram uma escuta na cela acima da de Youssef. O médico veterinário alertou Youssef sobre a escuta e, posteriormente, o doleiro encontrou o dispositivo, tirou uma foto e mostrou ao advogado, resultando em reportagens sobre o caso.

No entanto, Silva afirma ter sido pressionado a mudar sua versão pelos agentes da PF. Ele relata que foi levado a identificar o policial responsável pela instalação da escuta por meio de fotos, e reconheceu o agente corretamente. No entanto, em um segundo depoimento, outro delegado o acusou de estar usando má-fé, alegando que o policial em questão estava de folga no dia mencionado por Silva.

O preso afirma que se sentiu ameaçado e coagido a mudar sua versão. O delegado teria mencionado um acordo entre a PF e o advogado de Youssef para interromper a sindicância e garantir que o nome de Silva não apareceria nos documentos. Diante das ameaças, Silva cedeu à pressão e deu o depoimento de acordo com as instruções do delegado.

Os áudios contendo o relato de Ailton Silva foram protocolados junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), como parte de um processo relacionado à Operação Lava Jato. O advogado de Silva ressaltou que seu cliente se sentiu extorquido pelos agentes da PF. A CNN entrou em contato com a Polícia Federal em busca de manifestação sobre o caso e aguarda resposta.

Essas revelações levantam questionamentos sobre a conduta da PF durante a Operação Lava Jato e podem ter impacto na revisão dos processos proposta pelo ministro Dias Toffoli. Ailton Silva corrobora sua versão com a existência de documentação da PF que confirma seu primeiro relato sobre a instalação da escuta.

A divulgação desses áudios e o relato de Silva colocam em evidência possíveis irregularidades no processo da Lava Jato e levantam dúvidas sobre a imparcialidade da PF. A questão agora é aguardar a manifestação da Polícia Federal e acompanhar os desdobramentos desse caso.