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    Prisão de Bannon põe em xeque discurso de moralidade da extrema direita

    “A prisão e o processo contra ele mostram que a extrema direita cultua um discurso falacioso de moralidade, de combate à corrupção, e não passa de estratégia discursiva”, diz Sérgio Amadeu, professor da UFABC. CPMI das Fake News deverá requerer informações aos EUA para esclarecer vínculo do clã Bolsonaro com Steve Bannon

    Bannon indica filho de Bolsonaro como líder do neofascismo no mundo (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247 | Reprodução)

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    Eduardo Maretti, da RBA - A prisão do ex-assessor político Steve Bannon, estrategista da campanha de Donald Trump de 2016, nesta quinta-feira (20), representa “o início de um desmascaramento dos ideólogos que se colocavam contra o sistema”. “A prisão e o processo contra ele mostram que a extrema direita cultua um discurso falacioso de moralidade, de combate à corrupção, e não passa de estratégia discursiva”, diz Sérgio Amadeu, professor associado da Universidade Federal do ABC (UFABC).

    “Na prática, ele (Bannon) cultua valores do grande capital, do lucro e do dinheiro acima de tudo.” Amadeu lembra que o estrategista dirigiu uma operação antiética por meio da qual cerca de 300 mil pessoas, só no Brasil, tiveram seus perfis analisados pela Cambridge Analytica. A consultoria de dados teve Bannon como executivo, e é acusada de ter interferido em vários processos políticos no mundo. A estratégia é idêntica em todos eles, com tecnologias de disseminação de desinformação e notícias falsas altamente sofisticadas.

    Ele foi preso sob a acusação de fraude financeira na campanha virtual de doações para construção de um muro separando Estados Unidos e México, prometido por Trump na disputa eleitoral com a democrata Hillary Clinton, em 2016. 

    Após pagar finça de US$ 5 milhões, Steve Bannon foi libertado e afirmou à justiça americana que é inocente das acusações de fraude e lavagem de dinheiro. 

    Próximo aos Bolsonaro

    Como organizador de redes de manipulação de informação, de desinformação e de fake news, Bannon teria alavancado a vitória do presidente dos Estados Unidos e o Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia). Considera-se que ele foi um “consultor informal” da campanha de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil. É próximo do clã presidencial e foi fotografado inúmeras vezes com membros da família.

    Amadeu defende a necessidade de a Justiça brasileira e o Ministério Público apurarem qual foi a participação de Bannon e seus métodos na eleição de 2018. “Ele pode ter cometido crime, se interferiu com seus métodos durante o processo eleitoral.”

    “Em outros países, ele ajudou na articulação dessas redes. Na campanha de 2018, no Brasil, a gente sabe que isso foi feito com caixa 2, mas agora temos indícios de que dinheiro público também tem sido usado  nesses financiamentos. E principalmente através de nomeação de assessores parlamentares e da própria presidência”, afirma a deputada Natália Bonavides (PT-RN).

    “Me chamou a atenção a razão de sua prisão”, observa Natália. Em sua página no Facebook, o cientista político Vitor Marchetti faz uma analogia com um importante personagem do século 20 na história dos Estados Unidos. “Al Capone, o famoso mafioso, cometeu inúmeros crimes ao longo de sua vida. Assassinatos, roubos, comércio ilegal etc. Foi preso por evasão fiscal. Hoje, Steve Bannon foi preso por fraudar uma campanha de arrecadação de dinheiro para a construção do muro do Trump. Algo próximo de vender lote na lua”, ironizou o analista.

    A suspeita do Departamento de Justiça dos Estados Unidos é de que a campanha We Built That Wall (“Nós Construímos o Muro”) foi na verdade utilizada para lavar dinheiro de doadores.

    CPMI das Fake News

    Integrante da CPMI das Fake News no Congresso Nacional, Natália Bonavides diz que, para a comissão, o vínculo dos Bolsonaro com Bannon “já estava posto, explicitado pelos próprios Bolsonaro até com fotos, e isso mostra que ele foi uma espécie de conselheiro informal dos Bolsonaro realmente”.

    A comissão está suspensa e sem data para ser retomada, devido à pandemia de coronavírus. A deputada defende que, no retorno, sejam aprovados requerimentos para colher informações endereçados inclusive a autoridades norte-americanas. “Vamos pedir para que compartilhem conosco se há algum indício de que esse dinheiro supostamente desviado foi usado em campanhas ou em outras articulações internacionais.”

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