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    Somos homopreparados?

    A agressividade ocorrida após o anúncio da ida do casal Fernando Alcântara e Laci Marinho (um ex-sargento do Exército e o segundo ainda no cargo) para outro país aponta que é preciso voltar à questão da homofobia

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    Apesar do arrefecimento das discussões em torno da chamada homofobia, o tema segue pontuando vez por outra os noticiários e as rodas de discussões. Esta semana, o assunto voltou à pauta com o anúncio de que o casal Fernando Alcântara e Laci Marinho (o primeiro é ex-sargento do Exército e o segundo ainda ocupa posto de mesma patente) vai deixar o Brasil. O motivo? Preconceito. Eles, que já foram alvo de muita polêmica ao posarem juntos e fardados para a capa de uma revista nacional, agora voltam a levantar a bandeira anti-homofobia.

    Desde o modismo no uso da palavra – coisa recorrente no Brasil -, o termo homofobia tem sido alardeado aos quatro cantos e servido a interesses bem direcionados, não raro escusos. Porém, a despeito de kits anti-homofobia e de uma lei mais rígida sobre o assunto e das centenas de mobilizações que tomam conta das ruas – a favor ou contra -, uma questão preisa ser levantada: estamos preparados para debater, entender, mudar conceitos sem necessariamente sermos ordenados legalmente ou apontados como adversários pró ou contra quem opta por relacionar-se com pessoas do mesmo sexo? Estamos “homopreparados”?

    A questão parece novamente uma tentativa de tornar o debate extremista. Pura ignorância. Ninguém é obrigado a gostar, integrar, apoiar e muito menos tornar-se partidário do homossexualismo ou do heterossexualismo. Assim como não há qualquer obrigação moral em declarar-se ou viver como um religioso – sequer simpatizar com ambos. São decisões individuais (ou, pelo menos, deveriam ser) que trazem no pacote desafios inerentes a qualquer pessoa que opta por tornar-se integrante de grupos já distantes em dimensões do termo “minorias”.

    O assunto já foi abordado neste mesmo espaço, no texto intitulado “Homofobia ou Monofobia?”, mas a agressividade pós-anúncio da ida de Alcântara e Marinho para outro país (vários comentários preconceituosos foram postados no site onde a notícia saiu) aponta que é preciso voltar à questão. E, que fique bem claro, estar homopreparado, aqui, nada tem a ver com preparar alguém para tornar-se um homossexual. Muito menos apoiar, tornar-se defensor da causa. A questão é: estariam heteros e os próprios homossexuais prontos para esperar, dialogar, cultivar a cultura do respeito ao outro? (Sim, porque há muito homossexual bradando aceitação com uma bandeira arco-iris em uma das mãos e uma pedra da intolerância na outra)

    Um exemplo pode iluminar a questão: recém-conhecidos, amigos de trabalho com opções sexuais diferentes se avaliam silenciosamente. Conversam, mas não tocam no assunto-tabu (e, sim, o tema é assunto quase proibido em muitos locais). Quando a questão vem à tona, o constrangimento se coloca. Mostrar-se não adepto do homossexualismo pode soar, nesse momento, como homofobia. Um exagero que virou moda. Por outro lado, apelar para o convencimento em aceitar a opção do outro pode soar agressivo. E aqui se coloca o despreparo na questão. A tensão entre pessoas com opções e idéias diferentes precisa acontecer. Até mesmo o constrangimento pode ser necessário. Silenciar a conversa ou classificar o outro como “diferente”, “preconceituoso”, “retrógrado”, nos torna aquém da capacidade de entender alguém, mesmo não comungando de seus ideais. E isso precisa ser evitado.

    A homossexualidade tem sido tema de debates nas cortes, nos parlamentos, na mídia, nos templos – em geral é preciso palco e platéia para que ele seja exacerbado. Quando o assunto precisa ser encarado frente a frente, em uma conversa franca, geralmente é calada. Ser contra ou a favor é muito menos importante do que adotar uma postura de respeito. E a pergunta retoma: estamos afinal, uns e outros, homopreparados?

    Henrique França é professor universitário, mestre em Ciência da Informação e mantém o blog #CotidianaMente

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