Vítimas da ditadura e familiares pedem direito de resposta por governo chamar torturador de herói
O Major Curió, que acabou com a Guerrilha do Araguaia - foi chamado de “herói nacional” em publicação feita pela Secom da Presidência da República
247 - Vítimas de tortura e familiares de mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura entraram com pedido de direito de resposta ao governo federal, que elogiou o assassino do Major Curió - acusado de tortura, homicídio e ocultação de cadáveres. Curió foi chamado de “herói nacional” em publicação feita pela Secom da Presidência da República.
O Major Curió foi responsável pela repressão à Guerrilha do Araguaia, que lutava pelo fim da ditadura.
"A Secom [Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República] ao tratar de opositores da ditadura militar que foram brutalmente torturados e assassinados como 'inimigos nacionais' e exaltar seus próprios torturadores e assassinos como 'heróis', viola qualquer senso de moralidade e justiça, e também os direitos à memória e verdade", afirma o pedido das vítimas da ditadura.
"Não é nenhuma novidade que o presidente da República tem como heróis torturadores e assassinos, que compactua com mortes e desaparecimentos. Essas demonstrações públicas são frequentes. E agora, em plena pandemia, receber um assassino confesso é mais uma demonstração de que Bolsonaro louva os crimes da ditadura", afirmou Tatiana Merlino à coluna de Leonardo Sakamoto no Uol. Tatiana é sobrinha do jornalista Luiz Eduardo Merlino, torturado até a morte, em 19 de julho de 1971, em São Paulo, por Brilhante Ustra, que também foi elogiado por Bolsonaro e o vice-presidente, general Hamilton Mourão.
O Coletivo de Advogados em Direitos Humanos (CADHu), que representa os requerentes, pede que o conteúdo exaltando o torturador seja retirado e do ar e a reprodução - no mesmo horário e sem restrições de destinatários, e com o mesmo destaque nas mesmas redes sociais - texto contra o major. O texto a ser publicado é o seguinte:
"O governo brasileiro, na atuação contra a Guerrilha do Araguaia, violou os Direitos Humanos, praticou torturas e homicídios, sendo condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por tais fatos. Um dos participantes destas violações foi o Major Curió e, portanto, nunca poderá ser chamado de herói. A Secom retifica a divulgação ilegal que fez sobre o tema, em respeito ao direito à verdade e à memória".
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