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Se o coronavírus chegar a aldeias indígenas será uma verdadeira tragédia, diz frei Paolo Maria Braghini

“Nas diferentes culturas indígenas, onde o espírito coletivo ainda é forte, e onde a cultura moderna do individualismo avançou pouco, onde toda a vida é vivida em conjunto e com intenso contato físico, o vírus se espalharia com uma velocidade ainda maior”, afirmou o missionário

(Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)

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247 - Em países latino-americanos, como Brasil, Peru, Colômbia e Equador, uma das ameaças da propagação do coronavírus é que ela pode atingir comunidades indígenas que são bastante vulneráveis a doenças externas, afirma reportagem de Francis McDonagh no jornal britânico The Tablet.

No dia 27 de março foi relatado que 10 indígenas foram isolados após terem sido tratados por uma médico que havia retornado de uma viagem que testou positivo para a Covid-19,  no vilarejo de Lago grande, na Amazônia brasileira, perto da fronteira Brasil-Peru-Colômbia em Tabatinga.

O jornal britânico conversou com o frei missionário Paolo Maria Braghini, que trabalha com os indígenas Tikuna, no vilarejo vizinho de Belém dos Solimões. Veja as declarações do frei para o The Tablet.
“Nesses últimos dias, quando as pessoas nos perguntam como estamos, nós simplesmente respondemos que estamos em isolamento social e que estamos rezando muito para que o vírus não atinja as aldeias indígenas, porque seria uma verdadeira tragédia, sem sombra de dúvida.
“Nas diferentes culturas indígenas, onde o espírito coletivo ainda é forte, e onde a cultura moderna do individualismo avançou pouco, onde toda a vida é vivida em conjunto e com intenso contato físico, o vírus se espalharia com uma velocidade ainda maior.
“Os indígenas são povos fortes, suportam com enorme resistência as dificuldades inerentes à vida na Amazônia, ao clima tropical e equatorial, com seu calor e chuva, mas sabemos que são mais vulneráveis a doenças provenientes de outros lugares, como gripes e vírus.
“Isso significa que a situação é realmente muito séria, mas, felizmente, reconhecemos que a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) está agindo com rapidez e competência na prevenção. Os movimentos indígenas de vários grupos étnicos – ou seja, aqueles que têm mais acesso à mídia – também estão criando e seguindo campanhas midiáticas, convidando todos os seus parentes indígenas a não deixarem suas casas ou irem de sua aldeia para outras.

“Aqui em Belém do Solimões, temos uma família em isolamento, por precaução, porque eles viajaram no mesmo barco que o médico infectado que veio de Manaus, mas a Sesai agiu com muita rapidez e imediatamente isolou a família. Eles estão sob observação.

“Sabemos que a maioria dos indígenas – e eu estou falando principalmente do grupo Tikuna, que é aquele com quem temos mais relação – não têm acesso à internet e, quando eles assistem à televisão (que tem muitas mensagens de prevenção todos os dias), eles nem sempre entendem, por causa das suas dificuldades com o idioma, porque falam principalmente Tikuna.

“Essa é a explicação das estratégias da Sesai de enviar trabalhadores da saúde de porta em porta para levar às pessoas a mensagem na língua indígena, para levar orientações por meio de alto-falantes, que todas as comunidades usam para gerir a vida comunitária, com a ajuda de todos os líderes indígenas.

“A conscientização leva tempo para se estabelecer, como ocorre em todos os lugares. Nos primeiros dias, a maioria dos indígenas não levou a sério a mensagem de isolamento social ‘Fique em casa’, mas gradualmente, principalmente depois das notícias de que os Tikuna poderiam ser afetados, as aldeias começaram a ficar muito silenciosas. Às vezes parecem abandonadas, e isso, neste momento, é muito necessário e bom.

O perigo de a doença se espalhar é grande, principalmente porque os indígenas se deslocam muito entre aldeias e países. Nesta região de fronteira, os Tikuna do Peru, Colômbia e Brasil movem-se livremente, porque as fronteiras políticas e geográficas são relativas, porque eles se consideram um único povo e nação, os Tikuna. Mas, graças a Deus, eles parecem estar cada vez mais conscientes da seriedade do momento e, portanto, estão mais prontos para obedecer ao pedido de ficar em casa e se concentrar na aldeia.

“O Sínodo Amazônico continua sendo uma grande bênção para a vida da Amazônia e de seus povos. Neste momento de pandemia, as parcerias criadas ou fortalecidas graças ao Sínodo, como a Repam, a rede amazônica da Igreja, continuam totalmente a serviço da vida dos povos amazônicos. A Repam está fortalecendo a sua rede de comunicações e é uma grande ajuda na transmissão dos relatórios diários oficiais.

“A ordenação no dia 15 de março do primeiro diácono permanente de Tikuna foi uma grande alegria, reforçada pelas bênçãos do Sínodo. Após muitos anos de peregrinação, estamos dando belos passos rumo a uma Igreja inculturada, principalmente treinando lideranças reais da evangelização inculturada, os próprios indígenas, no nosso caso principalmente os Tikuna.”

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