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"Bolsonaro ignora todas as necessidades culturais dos brasileiros", diz Gilberto Gil à mídia francesa

"Nossa diplomacia tem que ser completamente repensada, nossos representantes precisam ser substituídos", destacou o cantor e compositor Gilberto Gil à revista Télérama

Gilberto Gil (Foto: Gerard Giaume/Divulgação)

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RFI - A imprensa francesa desta segunda-feira (25) destaca o show de Gilberto Gil nesta noite na Filarmônica de Paris. O músico brasileiro conversou com o jornal Le Monde e com a revista Télérama.

"Gilberto Gil", embaixador da música brasileira, volta a se apresentar na Filarmônica" é manchete na Télérama. Gil conversou com a reportagem da revista sobre o novo espetáculo que, por causa da pandemia de Covid-19 e dos fechamentos das casas de show na França em 2020, teve de ser adiado por um ano. 

Gil, "o príncipe do Tropicalismo", se apresenta nesta noite ao lado de seus dois filhos, Ben e João, e pela primeira vez com a neta Flor Gil na capital francesa, diz a revista, lembrando que o show desta noite é feito "em família". 

Além disso, lembra Télérama, Gil preparou um outro espetáculo para os franceses, "Amor Azul", que será apresentado em Paris no dia 13 de novembro. Fruto de quatro anos de trabalho, essa ópera-musical faz a ponte entre o Brasil e a Europa.

Na entrevista à Télérama, o cantor relembra o início de sua carreira, em Salvador, o encontro com Caetano Veloso na universidade, a luta contra a ditadura, os anos de exílio e a carreira política. "Durante meu mandato [como ministro da Cultura de Lula], mais de 3.000 locais de cultura, com material multimídia e acesso à internet, foram inaugurados, especialmente nas favelas e nas comunidades indígenas da Amazônia: apenas por esse projeto, meus cinco anos no ministério valeram a pena", afirma. 

Ao falar de política, Gil não poupou críticas ao presidente Jair Bolsonaro, que fez cortes drásticos na área da cultura, reduzindo o ministério a uma subsecretaria. "Bolsonaro ignora todas as necessidades culturais dos brasileiros. Ele também não entendeu a necessidade para a nossa sociedade de se abrir ao mundo. Nossa diplomacia tem que ser completamente repensada, nossos representantes precisam ser substituídos. Minha missão como artista é de encorajar essa tomada de consciência. E hoje diversos artistas se dedicam a essa missão comigo", declarou. 

Gil e Caetano na Filarmônica de Paris

O jornal Le Monde foi até Roubaix, no norte da França, assistir ao show de Gil na sala Colisée, que acolheu 1.700 espectadores no último dia 15 de outubro. O diário lembra também da recente apresentação de Caetano Veloso na Filarmônica, em 25 de agosto, e aproveita para falar do novo álbum do artista, "Meu Coco". A matéria ressalta que os dois músicos protagonizaram juntos uma aclamada turnê em 2015, fazendo uma memorável apresentação no espaço Palais des Congrès, em Paris. 

Para o diário, a apresentação de Gil nesta noite e o lançamento do "esplêndido álbum" de Caetano fazem eco à exposição "Amazônia", de Sebastião Salgado, também na Filarmônica de Paris. Em entrevista ao Le Monde, o ex-ministro conta que foi graças a uma sugestão do fotógrafo brasileiro que batizou seu novo álbum de "Refloresta". 

Outra homenagem que a matéria destaca é a que Caetano faz para o amigo em "Meu Coco", na faixa "GilGal", "um leito lascivo de percussões", descreve o jornal. "As letras resumem a essência da minha relação com Gil", explica Caetano. "Desenvolvi minhas capacidades musicais o observando tocar, quando nos conhecemos, na Bahia. Em retorno, Gilberto se interessou pela minha forma de pensar, pela minha forma de conceber o futuro da música brasileira", reitera. 

Le Monde também perguntou aos dois músicos como enfrentam o que o diário classifica de "desastre político e sanitário" no Brasil. "De mãos dadas", garantem os dois tropicalistas de 79 anos. "O grupo que assumiu o poder há três anos é muito pouco qualificado. Ele se apoia em um modo de desenvolvimento que perdura desde a antiguidade, visando manter as desigualdades, a excluir. Espero que o Brasil vá se refazer no futuro, aliando-se às ciências e às artes", conclui Gilberto Gil.

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