Tico Santa Cruz critica 'purismo' da esquerda brasileira
“Com uma linguagem acadêmica, você não chega à periferia, não atinge o pobre que está querendo uma solução para o problema agora: fome, dignidade, respeito, segurança”, diz o músico
247 - “Vivemos um momento no Brasil em que o mais importante é conseguir um diálogo para sustentar a nossa democracia”. É o que pensa o vocalista e líder da banda Detonautas, Tico Santa Cruz, durante uma live no canal de Eduardo Moreira.
Para o artista, é fundamental que o movimento de esquerda, como um todo, esteja unido e, principalmente, acessível. “Dentro da democracia sempre vai ter gente de esquerda, centro-esquerda, centro-direita, e a esquerda atual acha que deve haver um “purismo” marxista quando as pessoas ainda
não têm, sequer, a consciência de classe. Porque, com uma linguagem acadêmica, você não chega à periferia, não atinge o pobre que está querendo uma solução para o problema agora: fome, dignidade, respeito, segurança”, afirma. Para Tico, a agenda esquerdista “descolou” desse diálogo mais objetivo.
Eduardo Moreira compartilha do mesmo posicionamento. “A esquerda se afastou da pobreza, dos pobres.”
Para Tico, o que “mais importa é quem é o mais inteligente e quem tem mais articulação acadêmica”. “Os evangélicos, hoje, fazem o papel que a esquerda deveria estar fazendo. A pessoa está desesperada, passando dificuldades e ouve uma palavra amiga, de amor, é acolhida, e tem uma base para se reorganizar e, quando isso acontece, a vida dela melhora. A esquerda deveria estar pensando é nesse tipo de conduta. Porque é ela que faz com que as minorias sejam respeitadas”, alerta.
O cantor também dá destaque para a dificuldade de acolhimento. “Se você não consegue acolher as pessoas, só consegue apontar o dedo para dizer que pobre de direita é burro, que o outro é idiota, e ainda que ‘sou marxista, eu li O Capital, eu sei o que é 'mais-valia’. Assim, você está falando com uma bolha”.
Eduardo finaliza, acrescentando: “Se continuar assim, vamos afundar cada vez mais na nossa vaidade que, no final, é um medo de reconhecer que há coisas nas quais precisamos evoluir e melhorar”.
Assista à íntegra da conversa:
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