HOME > Economia

Embraer já gastou mais de R$ 806 milhões em joint venture frustrada com a Boeing

Embraer cobra ressarcimento, mas alertou os investidores que pode não só não receber o dinheiro, como inclusive ser obrigada a “pagar danos monetários significativos à Boeing”

Embraer (Foto: REUTERS/David Becker)

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Lucas Sampaio, Infomoney - A Embraer  já gastou mais de R$ 806 milhões com o negócio frustrado com a Boeing - e continua gastando, apesar de o acordo ter naufragado há mais de 3 anos. A empresa brasileira cobra ressarcimento da americana pelo rompimento do acordo, mas alerta seus investidores que pode não só não receber o dinheiro, como inclusive ser obrigada a “pagar danos monetários significativos à Boeing”.

Para chegar ao valor, o InfoMoney analisou as demonstrações financeiras da Embraer dos últimos seis anos, além de documentos públicos depositados na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e na SEC (Securities and Exchange Comission), pois a companhia não se pronuncia publicamente sobre o assunto.

Ela também passou a evitar usar o nome da Boeing em seus balanços, sobretudo a partir de 2022, o que fez a reportagem ter de procurar as informações de outras formas: pesquisando por “Yaborã” (nome que a divisão comercial da Embraer passou a ter após a separação do restante da empresa), “programa One Embraer” (nome do projeto para reintegrar o negócio) ou até pelo nome técnico “carve-out”.

A brasileira desembolsou milhões não só para segregar a sua divisão comercial (que seria transformada em uma joint venture com a Boeing), mas também para reincorporá-la, depois que o acordo fracassou (a empresa receberia US$ 4,2 bilhões por 80% da nova empresa e ficaria com os outros 20%, se o negócio tivesse sido concluído).

Os mais de R$ 806 milhões foram gastos em:

  • R$ 485,5 milhões em 2019, após a assinatura do MTA (Master Transaction Agreement, o documento que definiu os termos do acordo);
  • R$ 215,7 milhões no 1º semestre de 2020, antes de o negócio ser cancelado pela Boeing;
  • R$ 105,6 milhões em 2021, com o programa One Embraer (criado para reintegrar a divisão comercial à Embraer).

Procurada pela reportagem, a Embraer afirmou que não se manifesta sobre o acordo frustrado nem sobre o processo de arbitragem, que se arrasta desde 2020 (a companhia processa e ao mesmo tempo é processada pela Boeing, devido ao fim do negócio). Mas a empresa é obrigada a tratar do assunto em seus balanços e nos documentos públicos depositados na CVM e na SEC — ela, por exemplo, demitiu cerca de 900 empregados no Brasil (4,5% dos funcionários) no terceiro trimestre de 2020.

Nos documentos, a Embraer diz que a Boeing “rescindiu indevidamente o acordo que criaria parcerias nas áreas da aviação comercial e de defesa & segurança, gerando custos significativos para nossa empresa”. Já a gigante americana diz que tinha direito a cancelar o acordo, porque a brasileira não cumpriu os termos do contrato.

“Rescindimos nosso acordo para formar uma parceria estratégica depois que a Embraer não cumpriu uma série de condições importantes do contrato. A Embraer contestou nosso direito de rescisão e estamos arbitrando essa disputa em um processo confidencial. Não diremos mais nada sobre isso enquanto prosseguimos com a arbitragem”, afirmou a Boeing à reportagem.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: