"Grande desafio" de Lula é enfrentar oposição 'via conspiração, fora do debate político', diz Trabuco, do Bradesco
Presidente do Conselho da Administração do Bradesco destacou a união nacional em torno da democracia após os atos terroristas em Brasília
247 - Presidente do Conselho da Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi afirmou ao Estado de S. Paulo que o "grande desafio" do presidente Lula (PT) será enfrentar uma oposição que não se dá "nos fóruns adequados", e sim via conspirações.
"O presidente Lula tem a legitimidade assegurada pela sua própria eleição. Se ele enfrenta e, efetivamente enfrenta uma oposição, tem de ser exercida nos fóruns adequados e não em processos de conspiração, fora daquilo que é praxe do debate político", afirmou Trabuco, que participa do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
Ele também falou sobre os atos terroristas promovidos por bolsonaristas no último dia 8, em Brasília, classificando-os como "lamentáveis". Para Trabuco, o episódio desencadeou uma união nacional em torno da democacia. "Por boa sorte, estão sendo investigados, a vida em Brasília voltou ao normal no dia seguinte e as demonstrações de união dos Três Poderes da República foram muito sólidas. Não só as reuniões que aconteceram no aspecto físico, mas no aspecto da simbologia. O sentimento de todos nós é que o episódio demonstrou uma harmonia na defesa da democracia".
"Me lembro agora de uma frase que diz que a democracia é uma plantinha que tem de ser regada todos os dias. No mundo, existem fatores muito grandes de polarização que pressionam a democracia representativa como nós conhecemos, os Três Poderes. O que temos de fazer é apoiar e fortalecer as instituições da República. Curiosamente, o acontecido foi após a posse do presidente Lula e não podemos esquecer que Lula foi eleito, diplomado, e empossado. O que temos agora é de ir para frente, independentemente das posições políticas das pessoas. Vai requerer harmonia e mitigar os riscos da radicalização porque isso afeta o papel do Estado em geral", completou.
Economia
Dentro dos aspectos econômicos, Trabuco afirmou que o governo Lula terá a missão de combinar questões sociais e fiscais. "Existe uma expansão da consciência da sociedade brasileira de que precisamos de uma lei de responsabilidade fiscal, mas tão importante quanto é a lei da responsabilidade social porque a retomada do crescimento, da economia sustentável, tem de compatibilizar esses dois fatores. Temos de ter inflação dentro da meta para voltar a reduzir os juros. Aliás, esse é um desafio de todo o mundo, com a adoção de políticas monetárias duras para voltar a reduzir o juro como consequência do controle da inflação. Se não houver inflação na meta e redução dos juros, vamos ter um longo período no qual o custo do capital será inibidor de investimentos e aí vai dificultar a retomada do crescimento. Essa é a grande questão que se faz. A questão do ano. O juro americano vai a quanto e quando ele para? Os juros subindo retardam a retomada de crescimento. Por outro lado, temos uma recessão batendo à porta".
A reforma tributária, disse, é "o anseio comum a toda a sociedade brasileira e aos governos: desejar uma reforma tributária que seja uma simplificação de impostos ou da arrecadação. Agora, temos de ter uma visão pragmática. Não cabe ter equívocos que podem provocar polêmicas. O governo não tem muita gordura para queimar, precisa avaliar bem, não pode ser açodado, tem de estar muito consciente porque a reforma tributária tem desafios concretos como a disputa entre Estados produtores e consumidores. Agora, tecnicamente, o projeto do Bernard Appy é uma proposta viável. Ele simplifica, não dá grandes perdas aos entes federativos, tem distribuição mais justa de encargos e é granularizada no tempo. Um Congresso com um perfil mais conservador tem consciência de que essa questão é necessária para o ano de 2023. Esse é um dos desafios do ministro da Haddad".
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