Haddad na Fazenda sinalizaria responsabilidade ao mercado e confiança para esquerda
Professor de Ciência Política da Unicamp Wagner Romão defende indicação de Fernando Haddad como “quadro bem preparado” para o cargo
Rede Brasil Atual - O professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Wagner Romão defendeu, nesta segunda-feira (28), o nome do ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), como a “melhor” escolha para o comando do Ministério da Fazenda do futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista a Glauco Faria, do Jornal Brasil Atual, o especialista destacou que Haddad reúne características importantes para o futuro presidente, além de ser um nome “moderado” aos olhos da sociedade.
A possibilidade de Haddad ser o novo ministro da pasta vem ganhando força nos últimos dias. Esse é um dos ministérios mais centrais para qualquer governo não só do ponto de vista da administração da política macroeconômica, como também para definir a dotação orçamentária das demais pastas. O que exige um nome da confiança do presidente, assim como afinidade. Dois requisitos atendidos pelo ex-prefeito e ex-ministro.
O nome de Haddad também guarda a formação em diversas áreas, desde a Economia, ao Direito e às Ciências Sociais. Além disso, ainda em 2018, foi ele quem substituiu Lula, impedido de concorrer, na campanha à presidência da República. Naquele época, segundo confirmou Haddad em entrevista à agência Reuters, ele havia sido convidado pelo futuro presidente para chefiar o Ministério da Fazenda.
Haddad: quadro bem preparado
O cientista político observa ainda que Haddad “é um quadro muito bem preparado que sinaliza para a base do campo da esquerda, que teremos um nome na economia muito confiável. E, de outro lado, aponta para outros setores, mais ortodoxos, digamos, que é um nome que tem responsabilidade, trajetória, é conhecido e não é nenhum aventureiro. É muito importante que Haddad se coloque sim para a Fazenda ou a Economia”, defende Romão.
Cotado para assumir a pasta, ele embarcou na noite desse domingo (27) em Brasília com Lula para participar de uma série de reuniões, com aliados e congressistas, que devem definir ainda nesta semana a questão da PEC da Transição, a proposta de Emenda à Constituição que vai rebatizar o Auxílio Brasil de Bolsa Família e também garantir a continuidade do pagamento dos R$ 600 aos beneficiários ao longo do ano que vem.
Cenário político com a PEC
A equipe de transição também vem debatendo com a proposta um valor exato para que o programa fique de fora do chamado teto de gastos, assim como recompor o orçamento da União do próximo ano. A incerteza sobre o tamanho da fatura tem causado ruído no mercado financeiro e em parte dos congressistas. O que de certa forma já reflete o cenário político que o governo eleito enfrentará quando tomar posse, em 1º de janeiro, segundo o professor da Unicamp.
Romão diz ver uma “queda de braço” com o chamado centrão, que ganhou força no atual governo de Jair Bolsonaro (PL). Em parte, no entanto, esse campo fisiológico deve migrar para a base de apoio do presidente eleito. Mas outra parte, não desprezível, deve ficar na oposição ou, pelo menos, “fazer barulho e criar dificuldades para Lula no primeiro momento”, analisa. “Essa disputa que está sendo feita agora antecipa muito do que vamos ver nas primeiras semanas e meses do governo”.
O governo Lula ainda deverá enfrentar desafios com a eleição para o comando da Câmara dos Deputados, em 1º de fevereiro do ano que vem. O atual presidente Arthur Lira (PP-AL), que foi importante apoio a Bolsonaro, deve concorrer à reeleição e dificilmente pode ser minado por outro nome. Mesmo partidos que apoiaram Lula, na frente ampla, já divulgaram apoio à reeleição de Lira.
Lira e condicionantes
Na sexta (25), por exemplo, as bancadas do Solidariedade e do Pros anunciaram que o apoiarão. Além do próprio Progressistas, o União Brasil, o Podemos e o Republicanos também aprovaram posição pró-Lira. O PDT já anunciou indicativo de preferência pelo parlamentar. O que torna pequeno espaço para uma candidatura alternativa. Mas que por outro lado, não deve ser passada sem a imposição de condições, conforme destaca o cientista político.
Para Romão, a presença de Lula em Brasília nesta semana também deve instalar um debate objetivo sobre o tamanho da força de cada campo político dentro da Câmara. Algo importante para a governabilidade do próximo governo.
“O Lira realmente tem uma posição muito forte. Mas o presidente Lula é o presidente eleito, e tem muita força política também. Tem uma trajetória com muitas vitórias no debate com o Congresso, aprovou o Bolsa Família e uma série de medidas em seus dois mandatos. Essa semana será importante para que seja discutida em que termos esse apoio generalizado à reeleição de Lira se coloca, como vai discutir a composição da mesa diretora da Câmara, o que é muito importante, e todo o debate sobre as comissões também”, afirma Wagner Romão.
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