Igualdade de gênero e crescimento econômico estão ligados, diz Tebet: "ela também poupa, mas faz a economia girar"
"Se mulheres e homens tivessem o mesmo salário e a mesma função no mercado de trabalho, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial cresceria em 26%", diz a ministra
Da Confederação Nacional da Indústria - Em entrevista à Revista da Indústria Brasileira, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, relaciona igualdade de gênero ao crescimento econômico e distribuição de renda.
“Ela (a mulher) também poupa, mas faz a economia girar, movimentando o setor de serviços, o comércio e, muito intuitivamente, faz isso olhando para o futuro.”
A ministra também destaca a importância da inovação como investimento no futuro do Brasil e ressalta a prioridade do governo de “gastar bem o que temos, com eficiência e eficácia”. Confira a seguir a entrevista:
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Como a igualdade de gênero contribui com o crescimento econômico?
SIMONE TEBET - Uma estimativa da Organização Mundial do Trabalho (OIT), feita em 2018, aponta que, se mulheres e homens tivessem o mesmo salário e a mesma função no mercado de trabalho, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial cresceria em 26%. Esse cálculo reflete o que já sabemos e, por isso, faz sentido: a mulher usa seu salário para comprar comida, comprar material escolar para filhos e filhas, pagar por um serviço de saúde ou investir em uma melhoria para a casa. Ela também poupa, mas faz a economia girar, movimentando o setor de serviços, o comércio e, muito intuitivamente, faz isso olhando para o futuro. Ela compra comida, mas investe na educação dos filhos. Além do efeito positivo de como elas gastam a sua renda, a inserção igualitária de mulheres no trabalho incrementa a produtividade, principalmente quando olhamos para sua qualificação. A cada cem profissionais contratados com doutorado, 53 são mulheres.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Nesse sentido, que medidas concretas podem ser adotadas pelo governo e pelas empresas, tanto públicas como privadas?
SIMONE TEBET - Toda lei é, ao mesmo tempo, um pontapé para o avanço de uma política pública e um reflexo dos avanços que a sociedade já conquistou. O projeto de lei apresentado pelo presidente Lula para garantir a igualdade salarial é um exemplo nessa direção. É verdade que empresas geridas com responsabilidade já agem para enfrentar o preconceito interno, mas muitos empresários ainda acham que mulher produz menos. No fundo, eles sabem que isso não é verdade, mas se aproveitam desse discurso preconceituoso para pagar menos. É para esse tipo de empresário que o projeto de lei foi pensado. Trata-se de um esforço concentrado de todos nós no combate a qualquer tipo de discriminação. É um esforço do Estado, das empresas e da sociedade civil. Em todos os níveis educacionais, as mulheres superam os homens: há mais mulheres com ensino médio, superior, mestrado e doutorado.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Qual é a importância da inovação para estimular o crescimento econômico?
SIMONE TEBET - Investir em inovação e tecnologia é investir no futuro. O Brasil precisa mudar para voltar a crescer e se desenvolver de forma sustentável e competitiva. Inovação e produtividade andam juntas. Se usarmos bem essas duas ferramentas, vamos potencializar nossos investimentos, pois eles estarão devidamente direcionados a segmentos industriais mundialmente estratégicos. Temos diversas competências de pesquisa no Brasil que poderiam ser empregadas para desenvolver tecnologias fundamentais e fechar gaps da nossa indústria.
Diante dos recursos escassos e da necessidade de equilibrar as contas, o que pode ser aprimorado na alocação de gastos públicos?
SIMONE TEBET - Nossa prioridade é gastar bem o que temos, com eficiência e eficácia. Isso requer, obviamente, um planejamento. Requer uma avaliação periódica, com monitoramento das políticas públicas que estão sendo executadas pelo governo federal em todas as suas pastas. E exige que nós – ao lado do Ministério da Fazenda, que tem a chave do cofre – sejamos rigorosos, não só na análise legal e técnica do orçamento, mas também na decisão do que gastar e de como gastar dentro das prioridades. O governo anterior acabou com as políticas públicas, atacou a educação, a saúde e a ciência. Nosso governo tem uma dupla responsabilidade: a fiscal e a social. Pior do que não gastar é gastar mal.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Essas mudanças podem incentivar novos investimentos?
SIMONE TEBET - Com certeza. O gasto público mais eficiente qualifica o cidadão ao garantir a ele uma boa educação, uma boa saúde, um transporte público eficiente. E esse cidadão, que passa a ter uma vida mais digna, devolverá isso, de forma natural, em um incremento da produtividade. Ninguém produz com fome. Além do ganho por estarmos em uma sociedade mais igualitária e inclusiva, as políticas públicas trazem uma melhor infraestrutura, uma segurança jurídica e um ambiente mais competitivo e dinâmico para os negócios. Para completar esse ambiente, precisamos entender que a reforma tributária é a única bala de prata que temos para fazer com que o Brasil diminua o custo da sua produção, acabe com a burocracia, torne o setor produtivo mais competitivo e, com isso, melhore a economia, gerando emprego e distribuição de renda.
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