Pandemia reduziu salário de 2,5 milhões de trabalhadores do comércio e deixou outros 450 mil desempregados
Segundo o Dieese, a própria característica do setor é um agravante da situação, uma vez que aproximadamente um terço dos trabalhadores no comércio são informais
Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual - A pandemia de coronavírus atingiu duramente o comércio, setor mais afetado com corte de vagas até agora. De janeiro a maio, foram fechadas 446 mil postos de trabalho com carteira assinada, segundo levantamento do Dieese, com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). “E boa parte dos que não foram demitidos também sofre os impactos: cerca de 2,5 milhões tiveram contratos suspensos ou jornada e salário reduzidos, conforme autorizado pela MP 936”, acrescenta o instituto, em estudo divulgado nesta quarta-feira (8).
O Dieese destaca ainda a própria característica do setor como agravante da situação. Aproximadamente um terço dos trabalhadores no comércio são informais. “E, com a crise do coronavírus, perderam a renda.”
No primeiro trimestre, o comércio concentrava 15,6 milhões de trabalhadores, entre assalariados (com e sem carteira), por conta própria e familiares. Um total de 17% dos ocupados no país, conforme estimativa do IBGE citada no estudo. Uma categoria com alto índice de informalidade e de rotatividade (64%), jornadas extensas e rendimentos baixos.
Entre as unidades da federação, apenas São Paulo fechou 142.300 vagas formais neste ano. Em seguida, vêm Rio de Janeiro (-55.517), Minas Gerais (-48.081) e Rio Grande do Sul (-33.310).
Crédito é fundamental
Na análise, o Dieese alerta para a necessidade de ação do Estado para amenizar a grave crise do setor. “Se o governo não implementar novas medidas para fazer com que o crédito chegue às micro e pequenas empresas, milhares de negócios do setor desaparecerão, deixando outros milhões de trabalhadores sem trabalho e renda”, afirma.
Não basta ter linha de crédito, lembra ainda o instituto. “Precisa fazer chegar às empresas”, aponta, destacando as micro e pequenas. “Essas medidas são necessárias para todos os setores. Contudo, como uma característica fundamental do comércio é o grande número de micro e pequenos estabelecimentos de caráter familiar, elas se tornam imprescindíveis para o setor.”
Do total de solicitações de seguro-desemprego neste ano, mais de um quarto (26%, ou 248 mil) foram de trabalhadores do comércio. Em maio, o número cresceu 36% em relação a igual mês de 2019.
Crise se acentuou, mas já existia
Os comércios também representam cerca de um quarto dos trabalhadores atingidos pela Medida Provisória 936, que prevê redução de jornada e salários e/ou suspensão de contratos. De mais de 10 milhões, são 2,5 milhões no comércio.
O Dieese observa que as vendas já vinham fracas mesmo antes da pandemia, devido ao desemprego e da pouca renda disponível. Mas despencaram em abril, caindo 27% em relação a 2019. Hoje, o IBGE informou que as vendas subiram de abril para maio, mas têm queda de 7,2% na comparação anual. Nesta semana, a MP 936 foi sancionada e tornou-se a Lei 14.020.
O estudo do Dieese mostra que, “embaladas pelo isolamento social”, as vendas on-line têm bom desempenho. No primeiro trimestre, o faturamento cresceu 27% sobre 2019. “Tendência que já vinha sendo observada nos últimos anos, mas que se acelera e intensifica com a covid-19, aumentando o desafio para manutenção e geração de empregos no setor do comércio.”
Economia enfraquecida
O Dieese lembra ainda que a economia vem apresentando crescimento pífio” desde o final de 2014. No ano passado, depois de projeção inicial de 3%, o PIB fechou com apenas 1,1%. “Em 2020, apesar de mais uma vez o governo começar o ano fazendo projeções otimistas para o crescimento do PIB, na casa dos 2,5%, a divulgação da queda de 1,5% no PIB no 1º trimestre evidenciou que o desempenho da economia já vinha aquém do esperado antes dos efeitos provocados pelo novo coronavírus. ”
“A pandemia encontrou uma economia enfraquecida devido à baixa taxa de investimento, elevada ociosidade, precarização do mercado de trabalho e crescimento das desigualdades sociais, em razão das políticas neoliberais implementadas desde 2016 e aprofundadas no atual governo”, afirma o Dieese.
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